Topo

Fórmula 1

Sem comando técnico e com peças atrasadas, Williams corre contra o tempo

George Russell deu 72 voltas nesta quinta-feira nos testes - Divulgação/Williams
George Russell deu 72 voltas nesta quinta-feira nos testes Imagem: Divulgação/Williams

Julianne Cerasoli

Do UOL, em Montmeló (ESP)

22/02/2019 04h00

A primeira semana de testes da pré-temporada da Fórmula 1 escancarou a dura realidade de uma das equipes mais tradicionais do grid: a Williams, que já vem de sua pior temporada da história ano passado, tem poucos motivos para acreditar que 2019 será muito diferente, depois que o carro foi terminado às pressas para entrar na pista pela primeira vez apenas no terceiro dia de testes - e ser mais lento que os rivais.

Não que os problemas tenham pego o time de surpresa. O UOL Esporte apurou em Barcelona que o carro já estava atrasado desde os estágios iniciais de seu desenvolvimento, em meados de 2018, e a equipe perdeu todos os prazos que tinha colocado para projeto e produção de peças.

Mesmo assim, sob comando do questionado diretor técnico Paddy Lowe, contratado a peso de ouro junto à Mercedes em 2017, o grupo de engenheiros só deixou de trabalhar no horário normal, das 9h às 17h, e passou a fazer turnos de 16 horas, na semana passada, quando a equipe teve de adiar o shakedown (teste privado para checar os sistemas do carro). Tal teste acabou sendo feito só no terceiro dia da pré-temporada, quando até as equipes médias já tinham somado mais de 200 voltas com seu carro.

"O carro chegou um pouco tarde, mas melhor agora do que nunca. Agora estamos checando os sistemas e tentando coletar dados sobre o carro novo. Não parece que é o quarto dia de testes, mas sim o primeiro", afirmou o polonês Robert Kubica, que não escondia a irritação com a equipe.

"Por um lado, é um passo adiante. Para outros, não necessariamente. A questão é se nós demos um passo adiante ou um pequeno passo para trás por causa das regras. Para melhorar a situação, precisamos dar passos maiores do que os outros, caso contrário continuaremos onde estávamos ano passado."

Mas seria o atraso na finalização do carro, sozinho, um fator que determinaria que a Williams vai amargar a última fileira do grid? Para o diretor técnico da Racing Point, Andrew Green, que já perdeu dias de testes na época em que o time se chamava Force India, isso não é o fim do mundo. "Não ajuda, é claro, mas tudo depende de como é seu ponto de partida. Se você perde alguma sessão mas, quando chega na pista, tudo funciona do jeito que você espera e correlação entre os dados do computador e da pista é boa, é possível recuperar. O problema é quando você também tem problemas na pista"

Mas a questão é que, no caso da Williams, falhas na produção de peças têm sido constantes e atrapalhado o desenvolvimento do carro. "O carro começou muito bom em 2014, e terminou bom. O de 2015 era bom e depois virou médio. O de 2016 começou mais ou menos e terminou ruim. E o mesmo aconteceu em 2017", costumava dizer Felipe Massa em seus dias de Williams.

Durante o processo de produção do carro atual, um dos grandes problemas foram os erros cometidos pelo setor que fabricava as peças, que não ficavam exatamente como foram projetadas e tinham que ser refeitas. E, embora a equipe diga que está criando novos protocolos, é uma conversa que já dura pelo menos desde a chegada de Lowe, que nunca mostrou resultados práticos.

A chefe da equipe, Claire Williams, admitiu que trata-se de um momento delicado para o time, que terminou 2018 no último lugar, mas disse que não apontaria exatamente quais os pontos que provocaram o atraso. "As peças não estavam chegando da maneira como esperávamos. Mas não vou entrar em detalhes do porquê isso aconteceu. Não acho que seria adequado fazer isso. E ainda não fizemos a análise completa internamente."

Claire também não quis alimentar os rumores de que a cabeça de Lowe está a prêmio. "Li muitas especulações sobre a posição dele. No momento, só estou focada e a equipe só deveria estar focada em nos certificarmos que o carro está no lugar certo", disse a dirigente. Segundo o UOL Esporte apurou, dificilmente Lowe será demitido, uma vez que a multa rescisória é alta.

Depois de o carro chegar ao Circuito da Catalunha às 4h da manhã da quarta-feira, antes do início do terceiro dia de testes, a Williams somou 23 voltas no primeiro dia, e 89 nesta quinta-feira, com Kubica fechando o dia com o tempo de 1min21s542 e seu companheiro George Russell, que deu a maioria das voltas, girando em 1min20s997, enquanto o mais rápido foi Nico Hulkenberg, da Renault, com 1mn17s393.

A segunda bateria de testes começa na próxima terça-feira e termina na sexta em Barcelona. O GP de abertura da temporada acontece no dia 17 de março, na Austrália.

Fórmula 1