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Fórmula 1

Morte de Lauda pode iniciar ciclo de mudanças importantes na Mercedes

Julianne Cerasoli

Do UOL, em Montreal (CAN)

06/06/2019 04h00

"Há uma enorme nuvem negra. Ele fará muita falta para a equipe e para a Fórmula 1. Sinto que perdemos o que era o coração e a alma da F1". Essa foi a definição do chefe da equipe Mercedes, Toto Wolff sobre a morte de Niki Lauda, no final do mês passado. O austríaco de 70 anos já vinha afastado do dia-a-dia do time desde meados de 2018, quando uma pneumonia o levou a um transplante duplo de pulmão.

De lá para cá, Lauda teve altos e baixos, e chegou a ter sua volta cogitada primeiramente para a última etapa do campeonato do ano passado, em Abu Dhabi - algo vetado pelos médicos devido ao voo de cerca de 5h da Áustria para os Emirados Árabes Unidos - e, mais recentemente, para o Bahrein, segunda etapa deste campeonato, realizada no final de março. Pouco antes da prova, seu estado de saúde se deteriorou.

Neste período, Wolff, que sempre teve Lauda a seu lado desde que se tornou chefe da Mercedes mesmo com pouquíssima experiência no cargo, relatou a dificuldade de tomar as decisões sem o compatriota e tricampeão do mundo em 75, 77 e 84. "Sempre que eu tinha alguma dúvida, tentava imaginar o que Niki estaria dizendo para mim. Um momento particularmente difícil foi no GP da Rússia do ano passado [quando Wolff tinha dúvidas se deveria pedir para Valtteri Bottas, que então liderava a corrida, deixar o companheiro Lewis Hamilton passar e vencer a prova para garantir uma diferença maior em relação a seu rival, Sebastian Vettel]. Fiquei em dúvida até que imaginei que o Niki estaria dizendo: 'deixa de besteira, manda inverter, é o que tem de ser feito'. E foi o que eu fiz".

Esse tipo de situação mostra, na prática, como a falta de Lauda será sentida na Mercedes. Ele foi particularmente importante sempre que Hamilton e seu ex-companheiro Nico Rosberg entraram em conflito. Como os dois lutaram, sozinhos, pelos títulos de 2014, 2015 e 2016, o nível de tensão foi crescendo e alguns toques aconteceram nas pistas. Nestas situações, a moral de Lauda como ex-piloto e sua maneira direta de falar eram fundamentais para manter os ânimos dentro da equipe.

Isso pode fazer falta nesta temporada, a primeira em que Hamilton deve brigar internamente com o companheiro Bottas. A diferença entre os dois cresceu na última corrida, chegando a 17 pontos, com a vitória do inglês e o terceiro lugar no finlandês. Mas uma diferença de menos de um décimo na classificação poderia ter mudado completamente a história da prova a favor de Bottas.

Questões comerciais e o futuro da Mercedes

Lauda começou seu envolvimento com a Mercedes em 2012, dois anos depois do time ter comprado o espólio da equipe Brawn e voltado ao grid. No ano seguinte, ele adquiriu 10% das ações da Mercedes-Benz Grand Prix Ltd, tornando-se um dos três acionistas, ao lado do próprio Wolff, que tem 30%, e a Daimler AG, que controla o time com 60%.

A equipe ainda não se manifestou sobre o que acontece com as ações de Lauda, mas esse é um momento complicado para mexer na estrutura do time. Afinal, os contratos de todas as equipes, à exceção da Renault, para continuar na F1 além de 2020 ainda não foram assinados, assim como o próprio acordo de Wolff para seguir como chefe e também o de Hamilton.

Como Wolff é visto como um potencial substituto para Chase Carey, que está próximo de se aposentar, como CEO da Fórmula 1, a morte de Lauda pode representar o início de mudanças profundas na equipe que vem ganhando todos os mundiais de pilotos e construtores na F-1 desde 2014.

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