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Pai, padrinho e amigo: Perdas são marca na trajetória de Charles Leclerc

Leclerc se emociona no pódio do GP da Bélgica, após sua primeira vitória - Getty Images
Leclerc se emociona no pódio do GP da Bélgica, após sua primeira vitória Imagem: Getty Images

Julianne Cerasoli

Do UOL, em Milão (ITA)

03/09/2019 12h00

Quando Charles Leclerc deu um abraço doloroso em Nathalie, mãe do amigo de infância Anthoine Hubert, logo antes da largada da Fórmula 3 em Spa-Francorchamps e 4h antes dele mesmo sair na frente no GP da Bélgica, muitos podiam duvidar se o monegasco tinha condições de correr naquela tarde. Hubert tinha morrido na tarde anterior, numa prova da Fórmula 2, após ser atingido em cheio pelo carro de Juan Manuel Correa, que sofreu graves fraturas nas pernas e uma lesão na coluna e ainda está internado no hospital de Liège.

Leclerc voltou da homenagem quase carregado pelo chefe da Ferrari, Mattia Binotto, claramente abalado, mas estaria no grid horas depois, como pole position do GP da Bélgica. Sua expressão era fechada, mas extremamente concentrada. Afinal, não era a primeira vez que o monegasco de 21 anos tinha de deixar uma perda recente de lado para competir.

Em 2017, quando estava a caminho do Azerbaijão, o então líder do campeonato da Fórmula 2 recebeu a notícia de que o pai, Hervé, que estava doente, tinha falecido aos 54 anos. Ex-piloto que nunca teve a chance de correr na Fórmula 1 por falta de patrocínio, Hervé fora uma das duas grandes inspirações de Leclerc no início da carreira.

Dois dias após a morte do pai, Leclerc fez a pole position na corrida do Azerbaijão com mais de meio segundo de vantagem para o segundo colocado e venceu a corrida 1. Na segunda prova do final de semana, com grid invertido para os oito primeiros colocados, largou em oitavo, passou um a um os rivais e só não venceu novamente devido a uma punição recebida no final da prova.

Na época, disse que pensou em não correr, mas o fez por sentir que era o que o pai gostaria que ele fizesse. E certificou-se de que seria o mais perfeito possível para honrá-lo.

Sua outra grande inspiração era Jules Bianchi que, embora fosse apenas nove anos mais velho que Leclerc, era o padrinho do monegasco, tamanha era a proximidade entre as famílias.

Considerado um dos grandes pilotos de sua geração desde os tempos de kart, membro da academia da Ferrari e fortemente cotado para substituir Kimi Raikkonen na Scuderia, Bianchi teve a carreira interrompida por um acidente no GP do Japão de 2014, e morreu meses depois.

Ao UOL Esporte, Leclerc revelou como conseguiu, mais uma vez, deixar a perda de alguém próximo de lado para vencer de ponta a ponta o GP da Bélgica, tornando-se o mais jovem da história a ganhar pela Ferrari.

"É claro que perder meu pai também foi muito difícil mas, no final das contas, eu administrei a situação exatamente da mesma maneira: foquei em pilotar, tentando esquecer o que está ao meu redor pelas 1h40 ou seja qual for a duração da corrida, e tentar vencer, o que consegui fazer. Foi uma corrida muito difícil, mas consegui".

Leclerc e Hubert se conheciam desde os 6 anos, quando disputaram sua primeira competição de kart, a French Cup de 2005, junto também de Pierre Gasly e Esteban Ocon. A amizade se fortaleceu nos anos de kart e, em 2014, eles se cruzariam novamente na Fórmula Renault. Dali em diante, Leclerc acabou ganhando o apoio da Ferrari e teve condições de acelerar os passos na carreira, enquanto Hubert sempre teve problemas para encontrar patrocínio e só ano passado tinha se tornado piloto Renault.

"É muito difícil curtir a vitória. Cresci junto com o Anthoine, fizemos nossa primeira corrida de kart juntos, com Pierre e Esteban. São lembranças que vou guardar comigo para sempre. Perder Anthoine foi um grande choque para mim e para todos do mundo do automobilismo. Estou satisfeito por ter vencido por sua memória, da maneira como ele deveria ser lembrado. Essa vitória foi para ele", dedicou Leclerc, que tem grandes chances de vencer novamente neste fim de semana, no GP da Itália, onde espera-se que a Ferrari esteja mais forte que a Mercedes.

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