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Jovem volta a jogar futebol americano um ano após perder a perna em choque durante treino

Jacob Rayney (9) antes da partida entre o Woodberry Forest e os Benedictines - Woodberry Forest School
Jacob Rayney (9) antes da partida entre o Woodberry Forest e os Benedictines Imagem: Woodberry Forest School

Do UOL, em São Paulo

23/09/2012 06h00

Há um ano, o norte-americano Jacob Rainey estava em um treinamento de seu time de futebol americano quando companheiros correram em sua direção para derrubá-lo. O choque foi grande e os ligamentos do joelho do garoto, então com 17 anos, foram rompidos. Mais grave, porém, foi o rompimento de uma das artérias: o fornecimento de sangue para a perna direita foi cortado e o membro acabou amputado, acima do joelho.

A história acima poderia ser a de um atleta paraolímpico que acaba de brilhar nos Jogos de Londres-2012. Mas não é. Rainey, que estava sendo observado por grandes universidades para jogar futebol, foi convidado pelo Comitê Paraolímpico dos EUA, mas disse não. A explicação para a negativa foi dada na semana passada: Rainey se tornou o primeiro quarterback amputado da história do futebol americano.

O nível, é bom ressaltar, não é o mais alto: ele é membro do time do Woodberry Forest School, que disputa campeonatos contra outras escolas de high school, o equivalente ao ensino médio no Brasil. Mesmo assim, o feito é impressionante para alguém que não tem a parte inferior da perna direita e ainda está se acostumando a usar a prótese fixada na altura do joelho.

O retorno aos campos foi resultado de um trabalho intenso de pouco mais de nove meses e muitas idas e vindas entre fisioterapeutas, campos e laboratórios que produzem próteses. Quando começou, segundo seu fisioterapeuta David Lawrence, Jacob tinha a mobilidade de uma pessoa de 70 anos. Após o treinamento específico para futebol americano, ele faz movimentos que poucos amputados, mesmo usando próteses há mais tempo, não conseguem, com rotações de quadril e mudança de direção.

O grande problema, até agora, foi adaptar uma próteses para as exigências do futebol americano. “Existem peças perfeitas para se correr, mas nenhuma para fazer as mudanças de direção exigidas por um quaterback”, explica o campeão paraolímpico e diretor da International Prosthetics (empresa que fabrica as próteses), Todd Schaffhauser, ao New York Times.

Em campo, a participação foi curta. Ainda com pouca movimentação em relação aos companheiros, ele esteve em quadra por apenas uma jogada. Fez um lançamento, ganhou cinco jardas ganhas. Seu time perdeu, 28 a 19 para Benedictine. “Foi um bom jogo, mas queria ter ficado em campo por mais tempo”, afirmou o jogador ao jornal The daily Progress.

PARAOLÍMPICOS BRILHAM TAMBÉM CONTRA ATLETAS SEM DEFICIÊNCIA

  • Guilherme Taboada/CPB

O caso de Rainey é inédito em seu esporte, mas muitos dos atletas que brilharam nas Paraolimpíadas de Londres têm exemplos parecidos. O brasileiro André Brasil, que conquistou cinco medalhas em Londres-2012 e soma dez pódios paraolímpicos na carreira, sempre defende o Pinheiros em torneios abertos, mesmo com a perna esquerda atrofiada por paralisia infantil. Na última edição do Maria Lenk, que reúne os melhores nadadores do país, por exemplo, marcou o 26º tempo nos 50 metros livre.

  • REUTERS/Lucy Nicholson

Outros dois exemplos conseguiram chegar até mesmo aos Jogos Olímpicos. O mais famoso deles é o sul-africano Oscar Pistorius, que nasceu sem as duas fíbulas e corre com próteses de fibra de carbono. Após discussões sobre uma possível vantagem dada pelas próteses, ele foi autorizado a competir contra atletas sem deficiência e disputou as Olimpíadas de Londres, parando nas eliminatórias nos 400 m e chegando à final no revezamento 4x400 m. Em Paraolimpíadas, ele tem oito medalhas, seis delas de ouro.

Quem também brilhou em Londres foi a polonesa Natalia Partyka, que nasceu sem a mão e o antebraço direitos. Apesar da deficiência, ela já disputou duas Olimpíadas, ficando entre as 32 melhores na Inglaterra. Em Paraolimpíadas, ela tem três medalhas de ouro, em três Jogos diferentes.

  • REUTERS/Grigory Dukor