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Primeiro gay da NFL inicia treinos com polêmica com ídolo e superexposição

Do UOL, em São Paulo

30/07/2014 06h00

A jornada de Michael Sam em direção ao status de primeiro jogador assumidamente gay da NFL desde o início prometia ser tanto histórica quanto complexa. Nos últimos dias o defensor de 24 anos iniciou os treinos de pré-temporada com o Saint Louis Rams lidando com excesso de exposição na mídia e já envolvido na primeira polêmica, mesmo trabalhando quase em silêncio, focado na meta de ingressar no elenco definitivo de seu time.

Sam teve que se pronunciar para rebater declarações de Tony Dungy, um ídolo da NFL. Técnico aposentado e campeão da liga pelo Indianapolis Colts, o veterano disse que não recrutaria o defensor em razão das supostas consequências que sua sexualidade publicamente assumida impõem.

"Não teria recrutado ele. Não que eu acredite que Michael Sam não deva ter uma chance de jogar, mas eu não lidaria com isso", manifestou Dungy em entrevista ao jornal Tampa Tribune. "Não vai ser algo muito suave. Coisas vão acontecer", completou o veterano, primeiro técnico afro-americano a vencer um Superbowl, também conhecido por ser um religioso fervoroso.

Dungy é um ativo usuário do Twitter, com quase 500 mil seguidores, mas desde que deflagrou a polêmica com Sam não se manifestou nas redes sociais a respeito. Da sua parte, o jogador contou com manifestações de apoio de seu time e de boa parte da mídia do país.

"Graças a Deus que ele não é técnico dos Rams. Mas tenho grande respeito pelo senhor Dungy e todos nos EUA merecem ter suas opiniões", declarou o jogador de 24 anos. "Meu trabalho é entrar no time, é minha prioridade número 1", emendou.

De fato, polêmicas à parte, o desafio pontual de Sam é convencer a cúpula técnica dos Rams de que merece figurar no elenco fixo de 53 jogadores para a temporada. Recrutado na sétima rodada do draft da NFL, o ex-universitário do Missouri Tigers tem mostrado foco e disposição, mas lida com a crítica de especialistas.  Alguns colunistas especializados dos EUA dizem que o defensor não é "grande e veloz o suficiente" para estar na NFL.

Mesmo com a indefinição, o novato dos Rams tem atualmente a sexta camisa mais vendida da NFL, de acordo com números atualizados divulgados pela liga de esporte mais popular dos EUA. Isso significa cifras para o St. Louis e possibilidades comerciais. Portanto, a publicidade em torno de seu nome pode ser um trunfo de Sam na promoção ao time principal. O resultado virá nas próximas semanas.

ATÉ A TV DA OPRAH COBRE OS TREINOS DE SAM

Os treinos de pré-temporada dos Rams assistem a uma agitação incomum em comparação aos últimos anos, graças ao novato defensor que luta para ingressar no elenco principal. Até uma equipe da TV da famosa apresentadora Oprah Winfrey se juntou ao pelotão que cobre a preparação do time, com a finalidade de produzir um documentário sobre Michael Sam.

Nos últimos dias o técnico dos Rams elogiou publicamente o comportamento de Sam diante da pressão de exposição. Jeff Fisher ainda rebateu a interpretação de que seu reforço seja uma 'distração' para o resto do time, em razão da circulação excessiva de câmeras e jornalistas.

"Mike não é uma distração. Ele se apresentou em grande forma, trabalhou duro no verão. Seus testes refletem isso", afirmou Fisher.

"Vamos definir distração. Tivemos algumas câmeras a mais no treinamento, algumas câmeras a mais no primeiro dia de apresentação dos novatos. Mas não foi (uma distração). Mike é um atleta dedicado e está completamente focado", acrescentou o treinador dos Rams.

Na última semana, Sam esteve em Los Angeles para receber o prêmio Arthur Ashe de "coragem", em evento de gala promovido pela ESPN americana. A honraria faz menção ao ex-jogador de tênis do país, morto em 1993 em complicações resultantes da AIDS.

Michael Sam tornou pública sua orientação sexual em fevereiro, em uma entrevista para o New York Times. A manifestação inspirou uma série de declarações de personalidades americanas e até elogios do presidente Barack Obama.

Semanas depois, a presença do defensor no draft da NFL inspirou uma cobertura detalhista da imprensa esportiva americana. O êxito com o recrutamento pelos Rams foi celebrado com uma equipe de TV na casa de Sam, registrando o beijo de celebração em seu parceiro em rede nacional.

Se conseguir jogar na NFL, Sam repetirá os passos de Jason Collins, jogador de basquete que recentemente foi o primeiro gay assumido a atuar na NBA. O pivô defendeu o Brooklyn Nets na última temporada.

APÓS POLÊMICA, DUNGY TENTA SE EXPLICAR

"Eu fui perguntado se teria draftado Michael Sam e respondi que não. Dei minha resposta sincera, eu sentia que se escolhesse ele no draft, acabaria trazendo muita distração para o time", explicou Dungy sobre sua polêmica declaração sobre Sam.

"Não fui perguntado se ele merecia ou não uma oportunidade de jogar na NFL. Ele absolutamente merece. Não fui perguntado sobre se sua orientação sexual deveria ter importância no processo de avaliação. Não deveria. Eu não fui perguntado se teria problema com Sam no meu time. E eu não teria", garantiu.