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Juiz admite erros que beneficiaram Fluminense e pede para não apitar mais jogos da equipe

Nielson Nogueira Dias ouve protesto de Fred, do Flu, em partida contra a Ponte Preta - Dhavid Normando/Photocamera
Nielson Nogueira Dias ouve protesto de Fred, do Flu, em partida contra a Ponte Preta Imagem: Dhavid Normando/Photocamera

Adriano Wilkson

Do UOL, em São Paulo

17/10/2012 06h00

O árbitro Nielson Nogueira Dias admitiu que errou nos dois lances capitais da partida entre Fluminense e Ponte Preta no último domingo. Em entrevista ao UOL Esporte, o juiz pernambucano disse que as jogadas foram muito difíceis e que isso o teria levado a “um julgamento errado” que acabou favorecendo o atual líder do Brasileirão.

“Eu credito as minhas falhas, após ver e rever os lances, ao grau de dificuldade delas. No primeiro lance, eu decidi que foi mão, mas depois de ver a mecânica do movimento, vi que não houve intenção do defensor. A bola é que tocou na mão dele”, afirmou o juiz.

Na jogada em questão, após a bola bater na mão de um atleta da Ponte, Dias marcou pênalti para o Fluminense. Fred converteu a cobrança e empatou o placar em 1 a 1.

No final da partida, um atleta do Flu agarrou um adversário pela camisa, mas o juiz inverteu a falta e assinalou irregularidade contra o time campineiro. A falta acabou resultando no segundo gol e na vitória tricolor.

“Ali em campo é tudo muito rápido, você tem que tomar uma decisão em milésimos de segundo, erros acontecem”, justificou-se o juiz.

O QUE ELES DIZEM SOBRE A ARBITRAGEM

Aristeu Tavares, da comissão de arbitragem da CBF
"Tivemos um jogo ou dois com problemas. Em Fluminense x Ponte, tivemos erros básicos e isso acaba reverberado. Mas as pessoas esquecem que são disputados por fim de semana 45 ou 50 jogos, incluindo as divisões inferiores, e não acontece esse tipo de problema. É claro que erros acontecem, mas estamos trabalhando para melhorar. Muitas pessoas que criticam não são conhecedores das regras."

Por causa de sua atuação, o árbitro foi punido pela comissão de arbitragem da CBF e não deve comandar jogos importantes do Brasileiro por tempo indeterminado. Dias diz que concorda com a medida e que já começou um processo de aprimoramento para minimizar os erros.

Ele espera que, por uma questão de bom senso, não seja escalado para apitar partidas entre Fluminense e Ponte Preta ou jogos cujos resultados influenciem a situação das equipes.

“Eu concordo com o afastamento porque é a regra do jogo. Ao entrar nesse ramo de arbitragem, sabemos o que acontece de bom e sabemos das coisas ruins, não é novidade. Sabemos que se a gente incorrer em erros como esses, vai haver esse tipo de sanção”, disse o pernambucano.

“Pela minha experiência, é logico que não é mais aconselhável me botarem em jogos importantes do campeonato. Não é conveniente que eu esteja em jogos envolvendo essas equipes [Flu e Ponte] ou em jogos que influenciem indiretamente esses times. Isso é para não tirar a legitimidade do campeonato.”

A comissão de arbitragem da CBF evita usar o termo “afastamento” para definir a situação do juiz e prefere dizer que ele apenas não foi escalado para o sorteio que definiu os trios de arbitragem da rodada do meio de semana.

No entanto, a punição após erro é prática comum em muitos Estados do país. Na última edição do Campeonato Paulista, por exemplo, não foram poucos os juízes afastados após atuarem mal.

O próprio sindicato nacional da categoria concorda que, se um juiz está em má fase, ele deve passar por um processo de reciclagem e aperfeiçoamento para voltar rapidamente ao alto nível.

Nielson Dias, juiz de Flu x Ponte
"Os erros vão continuar acontecendo. Temos uma máxima nesse meio: a única certeza que o árbitro tem é que ele vai errar. O que tentamos é minimizar esses erros. Somos seres humanos e, portanto, estamos sujeitos a erros. Todos erram, o técnico que substitui mal, o atacante que perde um pênalti, um goleiro que toma gol defensável, um dirigente que contrata mal."

“Sou contra que se proíba um juiz de trabalhar porque ele só pode melhorar trabalhando. Mas concordo que um árbitro que erra com frequência passe por uma reciclagem e vá atuar em divisões inferiores por algum tempo”, afirma Marco Antonio Martins, presidente da Associação Nacional de Árbitros de Futebol.

No caso específico do jogo entre Fluminense e Ponte Preta, o chefe da comissão de arbitragem da CBF afirma que houve “erros básicos” na atuação do juiz. “Assim que eu voltar ao Brasil, vamos conversar e decidir se tomamos alguma medida administrativa sobre essa questão”, disse Aristeu Tavares, que estava em viagem a trabalho no Chile.

Além de Nielson Dias, foi afastado o assistente Bruno Bochilia, que também se envolveu em polêmica ao anular um gol do Flamengo contra o Cruzeiro no sábado.

Já o árbitro de Atlético-MG x Sport, outro jogo com lances questionáveis na rodada, foi “perdoado”. Flávio Guerra tinha tido o afastamento anunciado na segunda-feira, mas na terça a comissão de arbitragem voltou atrás e disse que ele não será punido.

A 30ª rodada não foi a primeira que viu punições aos homens do apito. No final do primeiro turno, o assistente Emerson Augusto de Carvalho também foi suspenso após validar um gol irregular do Santos contra o Corinthians.   

Marco Antonio Martins, presidente da Associação Nacional de Árbitros de Futebol (ANAF)Coronel Marcos Marinho, chefe de arbitragem da Federação Paulista de Futebol
"O que a gente vê é que essas equipes que estão na zona de rebaixamento ficam esperando um erro do juiz pra justificar sua situação. Aí não são as contratações mal feitas, os erros em campo, nada, é só o juiz. Será que o Sport vai cair por causa de um jogo? O Fluminense tem nove pontos de vantagem, se tivesse perdido, isso definiria o campeonato? O Fluminense vai ser campeão por conta disso? Os erros são detalhes que fazem parte do futebol. Os árbitros brasileiros têm condição física e técnica. Claro que tem que melhorar sempre, mas nessas críticas tem muito choro. O choro é demais.""O erro acontece no mundo inteiro. No Campeonato Inglês, no Italiano, no Espanhol, a gente vê erros iguais aos daqui. E aqui no Brasil não devemos nada a ninguém. Erros acontecem, lá e aqui. Agora, precisamos melhorar, estamos fazendo coisas pra mudar essa situação. Mas não podemos agir como se a arbitragem fosse a única responsável pela queda de um time, por exemplo. As pessoas acabam transferindo a responsabilidade de seu próprios fracasso para alguém. É uma coisa exagerada"