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Cuca nega fama de supersticioso e diz acreditar em título difícil do Atlético-MG

"Acho graça dessa fama que criaram", diz Cuca sobre superstições - Bruno Cantini/site oficial do Atlético-MG
"Acho graça dessa fama que criaram", diz Cuca sobre superstições Imagem: Bruno Cantini/site oficial do Atlético-MG

Paulo Passos

Do UOL, em São Paulo

31/10/2012 06h50

Nada de veto à ré no ônibus da delegação, camisa da sorte ou amuleto. Ainda com chances de vencer o Campeonato Brasileiro, Cuca diz acreditar na possibilidade do Atlético-MG ultrapassar o Fluminense até o final do torneio e afasta as superstições. “Nada, só a fé mesmo. Pode ver, cada jogo uso uma camisa, não tem nada disso não”, responde, rindo, em entrevista ao UOL Esporte. “Acho graça dessa fama que criaram. Tem umas (superstições) que dizem ai que eu nunca tive, viu”, completou.

Nesta quarta-feira, Cuca comandará o time no jogo contra o Flamengo, no estádio Independência. O Atlético-MG precisa vencer para manter a distância de seis pontos para o líder Fluminense, faltando cinco rodadas para o final do Brasileiro. “É difícil, mas não acabou ainda. Temos que fazer a nossa parte, que é vencer todos os jogos. Depois saberemos o que vai acontecer”, afirma.

Confira a entrevista exclusiva com Cuca, técnico do Atlético-MG:

UOL Esporte: Por que você acredita que o Atlético-MG ainda pode ser campeão?

Cuca: Porque tem seis jogos para jogar, ora. Tudo pode acontecer. Depende da nossa força. Fazer a nossa parte. É muito difícil, sim, mas ainda não terminou. O nosso time foi remontado no ano passado. Alguns jogadores permaneceram. Fizemos um primeiro turno excepcional. No segundo caímos um pouco, mas foi mais um subida do Fluminense. Eles estão com pontuação de time que terminou o campeonato campeão já. Tiveram uma subida muito alta, foi atípico. É mérito deles.

UOL Esporte: O que você acha que levou o Fluminense a essa arrancada?

Cuca: Primeiro, acho que tem muito mérito do Abel Braga, que faz um ótimo trabalho. É um time muito qualificado. Desde 2009, o Fluminense pegou uma força emocional muito grande. Virou chavão, mas é verdade. De lá para cá, eles foram campeões do Brasileiro, fizeram uma Libertadores forte. É um grupo acostumado a sair de situações complicadas. Tem jogadores da minha época, o Diguinho, Fred, Ricardo e tantos outros. Pegaram um espírito do time e isso vem até hoje.

RONALDINHO


Vão aparecer propostas. É difícil ele ficar, porque veio numa situação em que recebe um salário que não condiz com a realidade dele. Claro que isso aconteceu pelo momento dele quando chegou aqui. Mas o presidente Alexandre Kalil vai negociar

UOL Esporte: A arrancada que você viveu pode servir como exemplo para o Atlético-MG?

Cuca: Vejo como algo bem diferente. Aquilo era para escapar, com a Sul-Americana junto. É muito mais tenso porque é tudo ou nada. É obvio isso. Disputar o campeonato lá embaixo é muito mais difícil, mais tenso. Se nós não ganharmos o título vai ter uma perda,  mas teremos Libertadores ano que vem. Fica também o bom campeonato que fizemos. La embaixo, se não consegue ficar só tem coisa ruim.

UOL Esporte: Você vê Atlético-MG e Fluminense como times parelhos?

Cuca: Sim, são equipes equilibradas. A nossa foi montada durante o ano. O Fluminense tem uma base mais sólida, mas em termos de jogadores acho os dois grupos parelhos.

UOL Esporte: E o Palmeiras, você acha que escapa?

Cuca: Difícil falar. O Brasileiro todo ano surpreende. Eles fizeram uma aposta que foi a Copa do Brasil. Eles estão vivendo o ônus disso agora. Abdicaram de alguns jogos no início do Brasileiro e agora está difícil recuperar. Mas é assim, os grandes caem. Não é mais novidade. São quatro times rebaixados, sempre vai ter alguém nesse bolo.

UOL Esporte: Você pretende permanecer no Atlético-MG no ano que vem?

Cuca: Quando vim, fiz um contrato de um ano e meio e estou cumprindo. Termina em dezembro e sou funcionário do clube. Não tenho que pensar nisso agora. Depois a gente vê o que acontece.  Vamos deixar o Atlético-MG organizado para a próxima temporada. Temos 28 jogadores no elenco e 24 têm contrato por mais 2, 3 anos. Já há um grupo para o ano que vem. É só contratar alguns jogadores se tivermos perdas e está pronto.

UOL Esporte: E o Ronaldinho Gaúcho fica?

Cuca: O Ronaldo que vai escolher o futuro dele. Até pelo campeonato que ele fez, vão aparecer propostas. É difícil ele ficar, porque veio numa situação em que recebe um salário que não condiz com a realidade dele. Claro que isso aconteceu pelo momento dele quando chegou aqui. Mas o presidente Alexandre Kalil é uma pessoa franca, aberta e vai saber negociar isso. Quando o Ronaldo veio, o clube deu a maior confiança para ele. Não foi preciso colocar nada no papel, foi tudo conversado de boca e deu certo.

UOL Esporte: Qual foi o seu papel na ida do Ronaldinho para o Atlético-MG?

Cuca: Foi o de técnico. Claro que eu conhecia ele desde guri, por eu ter jogado com o Assis. Ele ia nos treinos, brincava com a gente. O Ronaldo foi uma criança que não teve infância. Ele sempre jogou futebol competitivo. Aos 14 anos já disputava torneios sendo cobrado. Ele é muito humilde, um cara fácil de lidar. Só está dando alegria aqui. Ele veio para cá como eu pensava, sendo usado como meia, com liberdade para criar. Temos que aproveitar o talento dele. E é assim que está acontecendo.

FAMA DE SUPERSTICIOSO

Essa história da ré no ônibus, que eu não deixava o ônibus dar ré, isso era um brincadeira que fazíamos no Botafogo com o Lucio Flavio. Eu sou católico, tenho fé, acredito em Nossa Senhora, em Jesus, só isso. Nele tenho fé, mas não sou tão supersticioso como dizem. Agora saem essas histórias e eu dou é risada, acho engraçado, não me incomoda não

UOL Esporte: E a discussão com o presidente do clube, Alexandre Kalil, no vestiário aconteceu?

Cuca: Só teve um caso ai que não foi nem a metade do que divulgaram, tanto que ele jogou contra o Vasco. Foi algo resolvido de forma tranquila, passou.

UOL Esporte: O Bernard é um jogador diferente na sua opinião? Até onde ele pode ir?

Cuca: Tem um talento maravilhoso, um grande futuro no futebol. Quando eu cheguei, era um menino que fazia muito o fundo de campo. Fomos conversando para ele conseguir fazer a diagonal. Ele pegou isso também, o que foi muito importante para a sua evolução. Ele hoje joga pelo lado direito, pelo lado esquerdo, faz várias funções. Tem só 20 anos. É um guri bom, fácil de lidar. Vai longe.

UOL Esporte: Como é trabalhar com o Alexandre Kalil? Você em algum momento se assustou com ele?

Cuca: A gente tem que aprender a conviver com as pessoas. O que ele fala para você não precisa de papel assinado. Isso é um virtude. Ele é duro, um cara autoritário, mas tem palavra e é muito franco.

UOL Esporte: O Atlético-MG é o clube onde você teve mais estabilidade?

Cuca: Não, acho que isso aconteceu no Botafogo. Foram mais de dois anos lá, com total apoio e muitas dificuldades. Me lembro que num inicio de temporada tínhamos 7 jogadores. Eu liguei para o Bebeto de Freitas porque tinha proposta do Palmeiras. Perguntei se ele me liberava e ele disse que não, que ele tinha se comprometido comigo e eu também, então era para ficar. Chegamos à semifinal da Copa do Brasil, à final do Carioca. Fizemos grandes times, que jogavam bonito. Foi um lugar especial.

UOL Esporte: Falta um grande título para você se colocar em outro patamar como técnico?

Cuca: Não penso nisso. Não penso em ganhar um título para ganhar salários melhores, dinheiro e tal. Eu penso na essência do trabalho. É você ver o time jogar bem. Você não ir para um jogo com medo de tomar três gols, pensando em se defender. Quero estar seguro no meu trabalho, isso me deixa feliz. Não fico pensando que tenho que ser campeão para ser visto de tal maneira. Penso em fazer o meu time jogar bem.

UOL Esporte: E a fama de supersticioso, é verdadeira?

Cuca: Sabe que eu me divirto com isso. Aparece tudo para mim. Tem umas ai que dizem que eu nunca tive. Essa história da ré no ônibus, que eu não deixava o ônibus dar ré. Isso era um brincadeira que fazíamos no Botafogo com o Lucio Flavio. Eu sou católico, tenho fé, acredito em Nossa Senhora, em Jesus, só isso. Nele tenho fé, mas não sou tão supersticioso como dizem. Agora saem essas histórias e eu dou e risada, acho engraçado, não me incomoda não.

UOL Esporte: E para essa reta final, você está com alguma superstição?

Cuca: Nada, só a fé mesmo. Não tem camisa, amuleto nada. Pode ver, cada dia uso uma camisa, não tem nada disso não (risos).

UOL Esporte: O Fred lhe chamou de “fanfarrão” por críticas à arbitragem no Brasileiro e supostas vantagens ao Fluminense. Vocês se falaram depois disso?

Cuca: Não, mas o Fred é meu amigo. Isso foi gerado por uma coisa mal conduzida pela meu auxiliar. Ele escreveu no twitter umas coisas erradas, críticas, opiniões dele. Eu não tenho Twitter, não tenho Facebook, meu dedos nem cabem nesses celulares novos, tablet, o que for. Mandamos ele tirar o que tinha escrito. Foi chamado para se explicar por mim e pelo presidente do clube. Isso passou.

UOL Esporte: Pretende voltar para o São Paulo algum dia?

Cuca: Não penso nisso. Estou bem aqui

UOL Esporte: Que time você gosta de ver jogar, que lhe inspira?

Cuca: Já tinha falado isso antes da Liga dos Campeões. Gosto muito desse Borussia Dortmund. É bom de ver eles jogarem. Saem com velocidade, são rápidos, é um bom time. Fizeram um baita Campeonato Alemão e vão bem na Liga dos Campeões também.

UOL Esporte: E de seleção?

Cuca: A brasileira (risos). Verdade, estou gostando do trabalho do Mano, do jeito que ele está montando o time. Essa formação com o Neymar, Oscar e Hulk e sem um centroavante fixo ficou muito boa. Vejo o time chegando bem, evoluindo muito.