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Maracanã excede custos projetados e tem ingresso 30% mais caro

Visão noturna do Maracanã, que teve o custo operacional criticado pela diretoria do Flamengo - Nelson Perez/Fluminense FC
Visão noturna do Maracanã, que teve o custo operacional criticado pela diretoria do Flamengo Imagem: Nelson Perez/Fluminense FC

Renan Rodrigues

Do UOL, no Rio de Janeiro

12/09/2013 06h00

O número de orientadores e recepcionistas impressiona. Do lado de dentro, ar condicionado, banheiros impecáveis e quatro telões de padrão internacional. O conforto do Maracanã após as reformas para a Copa do Mundo, porém, tem um custo alto. E os gastos operacionais para dias de jogos têm superado o planejado pelo complexo antes de assumir a administração da arena, em junho deste ano. Paralelo a isso, o preço dos ingressos do estádio é 30% maior que a média geral praticada no Campeonato Brasileiro.

O grupo formado por Odebrecht, AEG e IMX projetava em R$ 127 mil os gastos para operação da arena nos dias de jogos. A informação consta no documento enviado ao Governo do Rio de Janeiro antes da licitação, no Plano de Negócios. Porém, segundo o UOL Esporte apurou, a estimativa se mostrou abaixo da realidade, mesmo em jogos com público médio. O valor gasto é de cerca de R$ 200 mil, no mínimo.

Na vitória por 3 a 2 do Botafogo sobre o Vasco, no dia 4 de agosto, o custo operacional divulgado no borderô foi de R$ 385 mil para um público de 33 mil presentes. Outros R$ 20 mil aparecem classificados como 'despesas operacionais'. Os mesmos valores foram pagos no empate por 1 a 1 entre Flamengo e Botafogo, quando 52 mil torcedores estiveram presentes. Esses gastos não entram no item 'aluguel de estádio', cobrado separadamente.

A insatisfação com os custos e o modelo de contrato motivou uma carta aberta da diretoria do Flamengo, que deverá assinar novo acordo até o final da semana. A nota do dia 30 de agosto diz que "os custos operacionais do Maracanã são de, no mínimo, o dobro de qualquer outro estádio do Brasil, podendo chegar a até 10 vezes o custo de outros estádios capazes de receber também grandes públicos".

A assessoria de imprensa do Complexo Maracanã Entretenimento S/A confirmou que renegocia o acordo com o Rubro-Negro. Ela também alega que os custos operacionais variam de acordo com o público estimado e as áreas do estádio que estão em operação para a partida. Cerca de 3 mil pessoas trabalham nos jogos, inclusive equipes de manutenção hidráulica, elétrica, sonorização, mecânica de elevadores e de ar condicionado.

Para efeito de comparação, o estádio Mané Garrincha, também reformado para a Copa do Mundo, apresentou um custo de R$ 180 mil no clássico entre Vasco e Flamengo, que teve 61 mil presentes. Os gastos foram desmembrados no borderô em brigada de incêndio e limpeza (R$ 51 mil), segurança do estádio (R$ 85 mil) e despesa do jogo (R$ 44 mil). O São Paulo desembolsa cerca de R$ 100 mil para operar o Morumbi, enquanto o Engenhão, fechado desde março pela prefeitura por problemas na cobertura, tinha como valor médio R$ 70 mil.

Nos jogos do Fluminense, o valor gasto para a realização do evento não aparece discriminado no borderô financeiro. Apenas os R$ 20 mil de despesas operacionais são registrados. A equipe assinou acordo por 35 anos no qual não paga para mandar suas partidas, mas só pode arrecadar com a venda de 43 mil lugares. Os borderôs de seus jogos são divulgados de maneira diferente dos rivais.

Ingresso 30% mais caro
O preço médio do ingresso no Maracanã é de R$ 46,86, valor 30% maior do que a média da entrada em todos os outros estádios do Campeonato Brasileiro, de R$ 35,91. Quando a comparação é feita apenas com os estádios antigos, que não foram reformados ou construídos para a Copa do Mundo, a diferença é de 98%. A entrada nesses palcos custa em média R$ 23,68.

"O preço do ingresso tem influência do serviço agregado que ele trás. Esse é o fator principal, mas também existe o aspecto da novidade, de provocar muita curiosidade. Por ser um fator novo, o valor dos jogos também sobe. Mas esse elemento não se sustenta por muito tempo. O Flamengo, por exemplo, não vinha tendo públicos no Mané Garrincha como nas primeiras partidas que disputou lá. O desafio agora é colocar outros serviços agregados para manter esse valor ou a média deverá sofrer uma queda", disse o consultor de gestão esportiva da BDO Brazil, Pedro Daniel.

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