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Indicado pela CBF, advogado da Lusa trabalha para clubes e sofre rejeição

Meia Heverton foi escalado de maneira irregular: erro pode render rebaixamento à Lusa - Nelson Antoine/Foto Arena/AE
Meia Heverton foi escalado de maneira irregular: erro pode render rebaixamento à Lusa Imagem: Nelson Antoine/Foto Arena/AE

Guilherme Costa e Guilherme Palenzuela

Do UOL, em São Paulo

11/12/2013 12h38

O advogado Osvaldo Sestário, que presta serviço para a Portuguesa há nove anos e atuou na defesa do clube no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) no caso do meia Heverton, atua por indicação da CBF e para outros clubes do Brasil. Tal preferência faz com que Sestário sofra rejeição no mercado: quem trabalha no meio afirma que a indicação da CBF para um único advogado nunca foi bem aceita.

Sestário é a alternativa barata para clubes que não contratam advogados para se defender no STJD. Ele é indicado pela CBF para clubes de Séries B, C e D, normalmente, mas também presta serviços para outros maiores, como a Portuguesa. Seu pagamento é abatido automaticamente de cotas que os clubes têm a receber da CBF, e o custo da contratação é muito inferior ao que outros clubes gastam com advogados contratados para se defender no STJD.

Os pagamentos a Sestário são feitos por meio de uma agência e coordenados por Reinaldo Carneiro Bastos, vice-presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF) e possível candidato à presidência da entidade. Procurado pela reportagem, Carneiro Bastos disse que precisaria se informar sobre o tema antes de fazer qualquer declaração. Depois, não atendeu novos telefonemas.

Em 2009, quanto trabalhava para o Vasco, o advogado foi demitido ao defender a Portuguesa em ação contra o próprio clube carioca. Essas e outas medidas fizeram com que profissionais que atuam nos departamentos jurídicos dos clubes vissem a atuação de Sestário de forma negativa. O principal motivo é a relação com a CBF, que o aproxima dos clubes que não têm defesas contratadas no STJD.

Antes da atuação como advogado para clubes no STJD, Osvaldo Sestário foi presidente do Londrina, entre 2002 e 2003.

O meia Heverton foi suspenso pelo STJD na sexta-feira por dois jogos após ser expulso contra o Bahia após o fim do jogo, por reclamação. Ele já havia cumprido um jogo contra a Ponte Preta, mas entrou em campo no domingo contra o Grêmio, aos 32min do segundo tempo. Em função disso, a equipe pode perder quatro pontos, entrando na zona de rebaixamento e salvando o Fluminense da Série B. O técnico Guto Ferreira se isenta de culpa e afirma que tinha autorização para escalar o jogador, uma vez que não havia sido informado sobre a punição.  

Caso o tribunal acate e julgue procedente a denúncia, a Portuguesa perderia três pontos pelo erro e mais o ponto (um) da partida em questão – empate por 0 a 0. Com isso, a Portuguesa ficaria com 44 pontos, assumindo a 17ª colocação e entrando na zona do rebaixamento. Beneficiado, o Fluminense subiria para a 16ª colocação e se livraria da queda.

Portuguesa se defende

Procurado pelo UOL Esporte, o presidente eleito da Portuguesa, Ilidio Lico, disse ainda estar tomando conhecimento da situação, afirmou que o clube não cometeria um erro desses e cutucou o Fluminense. O advogado Osvaldo Sestário, que representa o clube no STJD e atuou no caso, trabalha por indicação da CBF para clubes de menor expressão.

"Eu estava no Rio a tarde inteira com o José Maria Marin e com o Marco Polo Del Nero. Quando cheguei em São Paulo comecei a receber telefonemas. Estou tomando pé da situação, mas tenho confiança no departamento de futebol profissional. A gente não precisava de nada no jogo, já estávamos salvos, e o Heverton não era um jogador tão importante para o time neste momento", disse.

"Ninguém faria uma besteira dessa. Tenho certeza que estávamos bem amparados. Isso é coisa do Fluminense, que é um time que saiu pela porta dos fundos e quer voltar no tapetão. Futebol não é assim, tem que ganhar em campo. Você acha que, se a gente tivesse sido notificado, escalaria um jogador reserva em um jogo que não vale nada?", completou Ilidio Lico.

Já o procurador-geral do STJD, Paulo Schmitt, confirmou o caso, mas disse que o órgão só irá elaborar uma denúncia na quarta-feira.

"Soubemos hoje [terça], através de um telefonema da CBF, que existe essa irregularidade. Já estamos analisando e, amanhã [quarta], iremos elaborar uma denúncia. Se confirmado o erro, a Portuguesa pode sim perder estes pontos. Vamos analisar o caso", explicou o procurador.

Principal interessado no caso, o Fluminense, que pode ser beneficiado e evitar o rebaixamento, disse que não iria falar sobre o assunto por enquanto.

Procurado pela reportagem para comentar a notificação citada pelo STJD, o diretor de registros da CBF, Luiz Gustavo Vieira, disse desconhecer o assunto.

Outras polêmicas

Outro jogador suspenso na sexta-feira que atuou no fim de semana foi André Santos, do Flamengo. O jogador foi julgado pela expulsão na final da Copa do Brasil e pegou um jogo de gancho. O caso também será analisado pelo STJD, mas não influenciaria em um possível rebaixamento do Rubro-negro.

A polêmica envolvendo a Portuguesa, que pode beneficiar o Fluminense, e outras suspensões não serão as únicas pautas do STJD nesta semana pós-Campeonato Brasileiro. O Tribunal ainda julgará na sexta-feira, às 13h, Vasco e Atlético-PR por conta da briga generalizada no jogo do último domingo, em Joinville.

Ambos os times foram denunciados nos artigos 213-1 (desordem) e 213-3 (lançamento de objetos em campo) e podem pegar até 20 jogos de punição.

PUNIÇÃO DE DOIS JOGOS ANTES DE PARTIDA CONTRA O GRÊMIO

  • Reprodução

    Na última sexta, dois dias antes de jogo contra o Grêmio, Heverton foi suspenso pelo STJD