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Presidente da Portuguesa apela a calmante e seguranças de escola de samba

Guilherme Costa

Do UOL, em São Paulo

18/12/2013 06h00

Manuel da Lupa havia planejado um fim de ano tranquilo. Presidente da Portuguesa desde 2005, ele faria a transição para Ilídio Lico, que assumirá o comando do clube em janeiro, e ainda teria tempo de viajar para o litoral de São Paulo com a família. Em vez disso, o dezembro do mandatário tem sido de tribunais e pressão. Muita pressão. Desde que a equipe rubro-verde se envolveu em caso que pode rebaixá-la para a segunda divisão, o dirigente adicionou a seu dia a dia elementos como calmantes e seguranças.

Os remédios têm sido tomados por orientação médica. Da Lupa tem dormido mal e sofrido muito com estresse. A pressão sobre o presidente rubro-verde desencadeou até ataques de coceira.

Ao contrário dos medicamentos, a segurança não foi reforçada por orientação. Nesse caso, a proteção revela um temor latente na família de Da Lupa. O presidente da Portuguesa já tinha profissionais que o acompanhavam, mas dobrou o efetivo nos últimos dias.

A segurança de Da Lupa ainda tem uma ajuda extra da escola de samba Unidos de Vila Maria, cuja sede fica a poucos metros da imobiliária em que o dirigente trabalha. A agremiação carnavalesca disponibilizou estrutura de suporte aos profissionais que trabalham com o mandatário.

Na manhã da última terça-feira, um homem tentou entrar na imobiliária de Da Lupa. Vestindo terno e gravata, ele disse que queria conversar com o dirigente. Foi barrado por um segurança e reagiu afirmando que escreveria uma carta ao mandatário rubro-verde. O suposto torcedor ameaçou recorrer à Polícia Militar pelo direito de ser recebido pelo presidente, mas foi embora quando percebeu que isso não causaria comoção entre os profissionais que estavam no local.

A família de Da Lupa tem demonstrado preocupação especial com a reação de torcedores à punição que a Portuguesa recebeu. Na última segunda-feira, a comissão disciplinar do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) tirou quatro pontos da equipe e a rebaixou para a segunda divisão nacional.

Enquanto o julgamento era realizado no Rio de Janeiro, jornalistas acompanhavam a reação de dirigentes no Canindé. Segundo relato de um funcionário da Portuguesa, a equipe da TV Globo que estava no local chegou a ser ameaçada. A segurança do clube precisou intervir.

A pressão gerou temor sobre a reação dos torcedores da Portuguesa após o resultado do julgamento do STJD. Prova disso é que o clube marcou uma entrevista coletiva para o dia seguinte, mas não usou o Canindé. Manuel da Lupa conversou com a imprensa em uma imobiliária da família, estrategicamente posicionada perto de um posto policial.

O clima de animosidade é reflexo do que aconteceu com a Portuguesa nos últimos dias. A equipe paulista acabou o Campeonato Brasileiro na 12ª posição, mas foi punida pela escalação irregular do meia Heverton em jogo contra o Grêmio, válido pela última rodada do certame nacional.

Heverton havia sido expulso em partida contra o Bahia. O meia cumpriu suspensão automática contra a Ponte Preta, mas o STJD decidiu ampliar a pena. Em julgamento realizado na sexta-feira que precedeu o empate entre Portuguesa e Grêmio, o jogador teve sanção aumentada para duas partidas.

No entanto, a Portuguesa escalou Heverton no domingo. O jogador entrou em campo no lugar de Wanderson e disputou pouco mais de dez minutos do empate contra o Grêmio. O jogo não valia nada para a equipe paulista.

A escalação irregular de Heverton custou quatro pontos à Portuguesa (um ponto do empate e os três que estavam em jogo). A diretoria rubro-verde já recorreu da decisão do STJD, que marcou sessão do pleno para o dia 27 de dezembro.

Se a punição à Portuguesa foi ratificada, o grande beneficiado será o Fluminense. Rebaixado em campo, o time das Laranjeiras seguirá na primeira divisão do futebol brasileiro se a equipe do Canindé for suspensa.

CONFIRA OUTRAS DECISÕES POLÊMICAS DO STJD

  • 2004 - São Caetano - São Caetano punido com a perda de 24 pontos no Campeonato Brasileiro pela suposta escalação irregular do zagueiro Serginho, que morreu cerca de uma hora após desmaiar durante jogo contra o São Paulo, no Morumbi.

    2005 - Brasileirão - O Campeonato Brasileiro de 2005 vivenciou uma das maiores polêmicas do futebol nacional, quando foi descoberto que o árbitro Edílson Pereira de Carvalho havia manipulado 11 jogos por um esquema de apostas. A polêmica aumentou porque o STJD decidiu anular os 11 jogos e repeti-los novamente. O Corinthians tinha dois de seus jogos entre os 11. Não havia feito nenhum ponto nestes duelos, mas, com a repetição, fez quatro. Foi campeão com três pontos acima do Internacional, o vice-campeão.

    2008 - Grêmio - O zagueiro Léo foi punido com 120 dias de suspensão, o também defensor Réver pegou gancho de três jogos, e o atacante Morales não poderá atuar por oito partidas. Os três jogadores foram julgados por lances ocorridos na partida contra o Botafogo, no último dia 4, em que o Grêmio venceu por 2 a 1. Léo, que foi expulso na oportunidade, foi indiciado por chutar Jorge Henrique, do time carioca, sem a bola estar em disputa. Já Rever foi punido por empurrar o meia Carlos Alberto, e Morales era acusado de fazer falta violenta no lateral Alessandro.

    2009 - Coritiba - O Estádio Couto Pereira será interditado até serem atendidas melhorias de segurança a serem determinadas pela CBF. Depois de cumprida esta pena, passa a valer a cassação de 30 mandos de campo, válida para os jogos da Série B e da Copa do Brasil. Além disso, o clube terá de pagar multa de R$ 610 mil. Acabou cumprindo dez perdas de mando.

    2009 - Botafogo - Pego no doping, o atacante Jobson foi punido com dois anos pelo STJD. Porém, depois teve pena abrandada para seis meses. Ele foi flagrado pelo uso de cocaína em dois exames antidoping realizados na reta final do Brasileirão- contra Palmeiras e Coritiba.

    2010 - Canedense - A briga que envolveu torcedores da Canedense e jogadores do Vila Nova-GO deixou um jogador do time visitante queimado e fora dos gramados por 40 dias. Após a confusão, o STJD resolveu interditar o estádio por 30 dias.

    Mamoré 2010 - Vitinho foi escalado de maneira irregular em jogos do Módulo II e o Clube Patense foi derrotado. Os auditores entenderam que houve a irregularidade e por 8 votos contrários decretaram o Mamoré culpado e decretaram a perda de 7 pontos dentro do Módulo II.

    2010 - Grêmio Prudente- A equipe do interior paulista escalou o zagueiro Paulão em partida contra o Flamengo, pela 3ª rodada do Brasileirão, no final de semana. O problema é que o defensor havia sido suspenso pelo STJD na sexta-feira, e não poderia ter entrado em campo no Macaranã. A defesa do Prudente alegou que o tribunal só notificou o clube na segunda-feira, mas não houve conversa: o time teve três pontos subtraídos e ainda teve que pagar multa de R$ 1 mil. Paulão também foi julgado e corria risco de ser suspenso por um ano, mas foi absolvido.

    2011 - Rio Branco, do Acre, foi desclassificado da Série C do Campeonato Brasileiro 2011. O clube foi punido pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) e, além da eliminação, teve que arcar com mais de R$ 13 mil em multas. O time infringiu o artigo 231 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD) ao mandar um jogo na Arena da Floresta, que havia sido interditada.

    2013 - Carlos Alberto - Carlos Alberto, atualmente sem clube, foi condenado a um ano de suspensão por doping.

    2013 - Paysandu - Perda de seis mandos de campo e mais R$ 80 mil de multa pecuniária. O clube foi julgado na sede do órgão, no Rio de Janeiro, por conta dos incidentes que aconteceram na partida contra o Avaí, no dia 18 de outubro, no Estádio da Curuzu. Na ocasião, um grupo de torcedores bicolores arremessaram objetos ao gramado, inclusive bombas caseiras, e a partida foi encerrada pelo árbitro Grazianni Maciel Rocha aos 37 minutos do segundo tempo.