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Copa do Mundo vira álibi de Muricy por tempo para moldar novo São Paulo

Guilherme Costa

Do UOL, em São Paulo

27/07/2014 10h00

O São Paulo ainda é um time irreal. Alan Kardec já estreou em jogos oficiais, e neste domingo Rafael Toloi e Kaká voltarão a vestir a camisa do clube. No entanto, o técnico Muricy Ramalho não poderá usar o zagueiro Antonio Carlos e o centroavante Luis Fabiano, ambos lesionados, no duelo contra o Goiás. Depois de 45 dias sem partidas de competição por causa da Copa e de duas apresentações irregulares no Campeonato Brasileiro, é impossível dizer qual será a cara do time tricolor. E o Mundial de 2014, curiosamente, virou álibi para isso.

Em análises sobre a Copa, Muricy Ramalho deu pelo menos dois recados indiretos à torcida do São Paulo. O treinador usou exemplos que enxergou em Holanda e Alemanha para avisar que ainda é impossível dizer como vão se encaixar todas as novas peças que a equipe do Morumbi tem à disposição. E é melhor a torcida ter calma com isso.

Neste domingo, Muricy pretendia se aproximar um pouco mais do ideal. Com as reestreias de Rafael Toloi e Kaká, o técnico ia deslocar Rodrigo Caio para o meio para atuar ao lado de Souza. O São Paulo começaria o jogo contra o Goiás em um 4-2-3-1 com Ademilson (direita), Paulo Henrique Ganso (meio) e Kaká (esquerda) na linha de armadores e Alan Kardec como centroavante, mas teria liberdade para mudar as peças e o sistema, passando também por um 4-4-2 mais tradicional.

Contudo, Antonio Carlos foi vetado pelo departamento médico. O zagueiro sentiu dores na panturrilha, deixou o treino de sexta-feira e desfalcará a equipe tricolor no jogo de domingo. Muricy pode manter Rodrigo Caio no meio (Edson Silva e Lucão são os zagueiros que viajaram a Goiânia) ou escalar Souza e Maicon, uma dupla de volantes com menos poder de contenção e mais infiltração.

A ausência de Antonio Carlos e a consequente indefinição de defesa e meio são mais passos atrás em relação ao São Paulo ideal. A tal flexibilidade tática tão alardeada por Muricy, que pode passar por um 4-2-3-1 ou por um 4-4-2 neste domingo, são mais provas de que ele não tem clareza sobre o que vai acontecer com o time. E o retorno de Luis Fabiano só aumentará a lista de possibilidades.

Veja abaixo dois exemplos da Copa que viraram álibis para o São Paulo de Muricy:

1 – A Holanda mostrou que o time tem de se submeter ao momento

O que Muricy disse: “Primeiro vêm os jogadores, depois o esquema. E também conta o momento do time. A Holanda veio para a Copa de 2014 com linha de cinco atrás porque era uma fase em que precisava disso. Eles estavam inseguros, e o treinador mudou porque não estava bem. O [técnico Louis] Van Gaal viu que aquilo era necessário e mudou de uma hora para outra, mas depois foi soltando o time durante a competição. E tudo só deu certo porque foi muito treinado”.

O que Muricy quis dizer: O São Paulo pode ter nomes como Alan Kardec, Alexandre Pato, Kaká, Luis Fabiano e Paulo Henrique Ganso, mas isso não quer dizer que o time terá todos em campo ao mesmo tempo. Antes de pensar na formação que funciona melhor ou nos nomes, Muricy vai priorizar as necessidades do momento. Mesmo que isso signifique um time mais contido ou com menos estrelas.

O que aconteceu com a Holanda: Até o início de 2014, Louis van Gaal vinha trabalhando com linha de quatro defensores. Entretanto, o time perdeu dois titulares do meio-campo (Strootman e Van der Vaart foram vetados da Copa por lesão). A saída do treinador foi usar três zagueiros, e isso gerou muitas críticas a eles na Holanda. A situação só ficou mais tranquila graças ao terceiro lugar no Mundial.

2 – A Alemanha mostrou que o desempenho vai determinar a melhor formação:

O que Muricy disse: “Claro que a Alemanha achou o time depois de algumas partidas. A gente sabe que eles não estavam nada safisfeitos com o que estavam jogando, com quatro zagueiros de origem atrás. Se o Felipão faz isso no Brasil, arrancam a cabeça dele. Nem os alemães, que gostam dessas coisas, aceitaram quatro zagueiros. As coisas só melhoraram depois, quando o Lahm voltou para a lateral”.

O que Muricy quis dizer: Há diferentes hipóteses para escalar o São Paulo com as novidades recentes no elenco. Alan Kardec pode ser centroavante, armador central ou jogar no lado do campo, por exemplo. Kaká também é opção para diferentes funções na linha de armadores. Entre as combinações possíveis, a comissão técnica ainda não tem convicção de qual será usada por mais tempo. Isso dependerá muito de como o time render.

O que aconteceu na Alemanha: Capitão do time, Philipp Lahm era titular absoluto da lateral direita. No Bayern de Munique, porém, ele se consolidou como volante de Pep Guardiola. “É o jogador mais inteligente com quem eu já trabalhei”, elogiou o técnico espanhol.

Como Lahm vinha sendo volante e Schweinsteiger se recuperava de lesão, o técnico Joachim Löw optou por usar o capitão no meio-campo no início da Copa de 2014. Isso gerou até uma pressão na imprensa alemã, mas foi ocasional. Durante o Mundial, foi simples para a Alemanha devolver Lahm à lateral, posição em que ele atuou até a conquista do título. Essa formação já havia sido usada antes, e a eficiência era mais do que comprovada.