Topo

Brasileirão vira oásis de quem tenta se enquadrar no futebol moderno

Guilherme Palenzuela

Do UOL, em São Paulo

30/07/2014 06h00

A Alemanha explicou o futebol para o Brasil no último dia 8 e deixou claro: o futebol atual praticado ao nível extremo tem pouco a ver com aquilo que a seleção de Luiz Felipe Scolari apresentou na Copa do Mundo. O praticado pela equipe que sofreu sete gols naquele dia, no entanto, reflete aquilo que se joga no país, na liga nacional. Um futebol, de modo geral, muito distante do melhor da Europa. O Brasileirão, cenário da análise, explica a questão com suas peças: virou reduto daqueles jogadores que não cabem no futebol moderno e ainda tentam se modelar aos novos requisitos.

Foram o padrão. Hoje não se encaixam

alexandre pato - Junior Lago/UOL - Junior Lago/UOL
Imagem: Junior Lago/UOL

Alexandre Pato: Imaginava-se, em 2006, que ele seria a joia de 2010. Não aconteceu, mas imaginou-se, então, que ele seria a realidade de 2014. Também não. Saiu para a Europa ao completar 18 anos como o próximo melhor do mundo, teve momentos geniais no Milan, fazendo o que ninguém mais conseguia fazer, mas não acompanhou a evolução tática do futebol. Hoje, depois do fracasso no Corinthians, tenta encontrar uma posição para jogar. Mas não consegue ser referência na área, segundo atacante ou ponta, pelas laterais.

Denilson spfc - AP Photo/Juan Karita - AP Photo/Juan Karita
Imagem: AP Photo/Juan Karita

Denilson: Tinha 17 anos em 2005, no São Paulo, quando foi relacionado para o Mundial no Japão, contra o Liverpool. Não jogou no título, mas fez parte do elenco. O técnico Paulo Autuori dizia que o volante estava pronto. “O Denílson joga muito bem, tem ótima dinâmica de jogo e boa cabeça”, disse o técnico, há nove anos.  Em 2006, Denilson estourou e foi ao Arsenal. Depois de boas temporadas e até convocação para a seleção brasileira, perdeu espaço e apresentou dificuldades exatamente naquilo que era sua virtude: a dinâmica de jogo. Hoje, é reserva no São Paulo.

Keirrison - Divulgação/Coritiba  - Divulgação/Coritiba
Imagem: Divulgação/Coritiba

Keirrison: Com 20 anos, parecia um centroavante completo e pronto para jogar. Depois do sucesso no Coritiba, fez em 2009 meia temporada pelo Palmeiras com 24 gols em 35 jogos. Despertou, então, o interesse do campeão europeu à época. Foi ao Barcelona, com contrato de cinco anos, jogou emprestado ao Benfica e à Fiorentina, e não conseguiu se firmar. Voltou ao Brasil em forma irreconhecível e desde então nunca conseguiu se recuperar. Hoje está de volta ao Coritiba, discretamente.

Meia que só arma

ganso - Mauro Horita/AGIF - Mauro Horita/AGIF
Imagem: Mauro Horita/AGIF

Paulo Henrique Ganso: Ele tem 19 finalizações no Brasileirão, contra 22 de Ricardo Goulart, do Cruzeiro, visto como o meia ideal para o futebol atual. A diferença na quantidade nem é grande, mas se revela na qualidade. São 6 finalizações certas de Ganso contra 14 de Goulart. E 2 gols contra 8 do artilheiro do campeonato. Muricy cobra que Ganso entre mais na área. No futebol atual, o meia que só arma não serve.

Laterais que só atacam

André Santos - Miguel Schincariol/Getty Images - Miguel Schincariol/Getty Images
Imagem: Miguel Schincariol/Getty Images

André Santos: Apareceu como bom jogador nas mãos de Mano Menezes, lateral ultra ofensivo. Na Europa, não decolou. Após boa passagem pelo Fenerbahçe, virou alvo de duras críticas no Arsenal, clube no qual não era mais visto como lateral por suas carências defensivas. Agora, é alvo principal na crise do Flamengo.

cortez cri - Fernando Ribeiro / site oficial do Criciúma - Fernando Ribeiro / site oficial do Criciúma
Imagem: Fernando Ribeiro / site oficial do Criciúma

Cortez: Chegou á seleção brasileira pelo Botafogo, foi a preço de ouro para o São Paulo e acabou afastado no meio da crise de 2013. Emprestado ao Benfica, afundou na Europa e foi devolvido ao Brasil. Agora tenta reconstruir a carreira em alto nível no Criciúma.

Volantes que só destroem

willians - Alexandre Lops/AI Inter - Alexandre Lops/AI Inter
Imagem: Alexandre Lops/AI Inter

Willians: Marca como poucos, tem ótima leitura de jogo para defender, mas proporcional dificuldade para jogar com a bola nos pés. Vendido pelo Flamengo à Udinese, jogou pouco na Europa. No Internacional de Abel Braga, é titular absoluto.

O finalizador

damião - Adriano Vizoni/Folhapress - Adriano Vizoni/Folhapress
Imagem: Adriano Vizoni/Folhapress

Leandro Damião: Jogador de mais de R$ 40 milhões, teve grande queda de rendimento ao trocar o Internacional pelo Santos. Agora volta de lesão e terá dificuldade para encontrar lugar na equipe. O técnico Oswaldo de Oliveira chama o jovem Gabriel Barbosa, o Gabigol, de “titularíssimo”. A garoto de 17 anos, que ocupa o lugar de Damião, joga como falso 9, sai da área, participa da criação e da conclusão das jogadas. Algo que pede o futebol moderno, virou tendência da Liga dos Campeões à Copa do Mundo, e que Damião não consegue fazer. É centroavante.

Perderam para o extra-campo

walterror - Matheus Andrade/Photocamera - Matheus Andrade/Photocamera
Imagem: Matheus Andrade/Photocamera

Walter: Saiu do Internacional com o rótulo de promessa, para o Porto. O total descompromisso com a forma física fez com que ele não fosse aceito na Europa, e logo voltou para o Brasil. Jogou por Cruzeiro, Goiás e Fluminense, e entrega o que promete pelo preço que custa mensalmente, apesar dos quilos a mais.

Carlos Alberto - Satiro Sodré/SS Press - Satiro Sodré/SS Press
Imagem: Satiro Sodré/SS Press

Carlos Alberto: Com 19 anos, fez gol na final da Liga dos Campeões que deu o título ao Porto, em 2004. Técnico na ocasião, o português José Mourinho falou em 2009 sobre o jogador: “Eu tive um jogador que foi um dos mais jovens da história a jogar uma final de Liga dos Campeões, hoje não sei onde ele joga. Não sei onde joga hoje. Não sei. Incrível a verdade, eu não sei onde ele joga. Em 2005 foi ao Corinthians, em 2006 foi ao Werder Bremen, em 2007 voltou ao Corinthians, em 2008 jogou no Flamengo ou no Fluminense... e agora não sei. Jogador espetacular, absolutamente espetacular. Não sei onde joga”, disse. O meia estava no Vasco da Gama em 2009, e ainda passaria por Grêmio, Bahia e Goiás, até voltar ao Botafogo. Teve problemas com o peso e nunca recuperou o futebol que mostrou quando jovem.

jo - Bruno Cantini/Flickr/Atlético-MG - Bruno Cantini/Flickr/Atlético-MG
Imagem: Bruno Cantini/Flickr/Atlético-MG

Jô: Foi à Europa com 18 anos, chegou ao novo rico Manchester City aos 21 e decaiu. Jogou no Everton, no Galatasaray e voltou ao Internacional. Só foi recuperar o bom nível de atuação no Atlético-MG, depois de admitir períodos de excesso de bebidas alcóolicas e festas. Hoje, no entanto, ainda não é o jogador que há 10 anos parecia que se tornaria.