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5 motivos explicam por que o São Paulo não aproveitou a pausa para a Copa

Guilherme Palenzuela

Do UOL, em São Paulo

06/08/2014 06h00

Não é raro ver o técnico Muricy Ramalho lamentar, em uma entrevista coletiva, as falhas do calendário do futebol brasileiro. “É jogo quarta, domingo, quarta, domingo”, costuma dizer, ao reclamar que não há tempo hábil para treinar a equipe. Durante a Copa do Mundo, no entanto, o São Paulo teve dias de sobra para isso, mas mostra agora que não utilizou a intertemporada da forma mais pertinente. Apenas uma vitória e um empate em quatro partidas, três esquemas táticos diferentes e uma equipe sem padrão de jogo desde então.

Mais do que os nove pontos de distância para o líder Cruzeiro, o que coloca o São Paulo abaixo dos principais concorrentes do Brasileirão, hoje, é o nível de jogo. E a equipe de Muricy perdeu partidas que não esperava: contra Chapecoense e Goiás, sofreu para bater o Bragantino pela Copa do Brasil, e empatou com o Criciúma ao voltar ao Morumbi. Abaixo, os motivos que fizeram da pausa um período infrutífero para o São Paulo, mesmo com a viagem de duas semanas para os Estados Unidos.

1. Sem Kaká

kaká apresentado - REGINALDO CASTRO/ESTADÃO CONTEÚDO - REGINALDO CASTRO/ESTADÃO CONTEÚDO
Imagem: REGINALDO CASTRO/ESTADÃO CONTEÚDO

A diretoria apostou na contratação de Kaká, de curto prazo, até o fim do ano, mesmo sabendo que o meia não participaria da intertemporada com Muricy Ramalho e o elenco. A contratação foi firmada durante a Copa do Mundo, quase um mês depois do time voltar dos Estados Unidos. Muricy não tinha o meia para montar equipe nos treinos durante a temporada, e por quarenta dias treinou equipe que não seria a titular ideal no segundo semestre de 2014.

2. Indefinição tática

pato, ganso e ademilson - Site Oficial/saopaulofc.net - Site Oficial/saopaulofc.net
Imagem: Site Oficial/saopaulofc.net

O problema se liga à ausência de Kaká no período de treinos, obviamente, mas poderia ter sido evitado, ou pelo menos amenizado. Muricy não teve Kaká antes, no início da pausa, como deveria, e por isso não treinou a equipe com o ex-melhor do mundo durante a pausa. Mas sabia dos planos da diretoria do presidente Carlos Miguel Aidar, e concordou com o reforço. Poderia ter testado variações da equipe com o meia, para que não voltasse ao segundo semestre variando esquemas táticos.

Depois do empate contra o Criciúma, partida em que o São Paulo – sem Kaká – apresentou o melhor futebol desde o reinício do Brasileirão, Muricy falou: “Acontece que esse time era só para esse jogo. Agora volta o Kaká, ele já treinou hoje, vamos ter que mexer”. Ou seja, o São Paulo provavelmente terá o quarto esquema tático diferente em cinco jogos na partida contra o Vitória, no próximo domingo, no Morumbi. A equipe voltou de uma intertemporada sem desenho tático e sistema de jogo definidos.

3. Pato no banco

Pato no banco - Divulgação/Site Oficial - Divulgação/Site Oficial
Imagem: Divulgação/Site Oficial

Alexandre Pato voltou dos Estados Unidos totalmente na reserva. Estava abaixo de Ademilson e Osvaldo, nas pontas, e de Paulo Henrique Ganso e Alan Kardec, nas hipóteses de jogar como segundo atacante ou como referência. Foi banco contra a Chapecoense e contra o Goiás, para ganhar chance no time titular contra Bragantino e Criciúma. Nas últimas duas partidas da equipe, nas quais jogou entre os 11, foi o melhor em campo. A titularidade do atacante, que se fez necessária após os dois últimos jogos, não foi notada durante a intertemporada.

4. Reforços desequilibrados

Kardec - Rubens Chiri/saopaulofc.net - Rubens Chiri/saopaulofc.net
Imagem: Rubens Chiri/saopaulofc.net

No começo do ano, a diretoria que ainda tinha Juvenal Juvêncio como comandante priorizava reforçar o setor defensivo do time. Só não o fez porque não encontrou no mercado viabilidade nos nomes que tinha como alvo. A comissão técnica era a mesma. Depois da chegada de Carlos Miguel Aidar, os alvos mudaram. Alan Kardec e Kaká foram contratados para uma equipe que tinha acabado de receber Alexandre Pato e já contava com Paulo Henrique Ganso e Luis Fabiano. É óbvio: os cinco não cabem no mesmo time. As prioridades defensivas acabaram, e nem são repensadas após a grave lesão do titular Rodrigo Caio. Não haverá contratação de zagueiros.

5. Processo inverso

muricy e time - Rubens Chiri/saopaulofc.net - Rubens Chiri/saopaulofc.net
Imagem: Rubens Chiri/saopaulofc.net

No Cruzeiro, líder e atual campeão do Brasileirão, existe um esquema padrão de jogo. Seja qual for a sequência de 11 jogadores que atuam, o desenho do 4-2-3-1 será respeitado. No Corinthians de Mano Menezes, o mesmo acontece apesar de não ter tanta rigidez. Há 11 funções em campo que se conservam e são respeitadas seja qual for a escalação. A tendência é a mesma para os principais times do planeta. Primeiro vem o esquema de jogo, aquele que é trabalhado diariamente no treino e na cabeça dos jogadores, e depois vem a escalação. No São Paulo, sete meses após o início da temporada, o processo é inverso: primeiro os jogadores, depois o esquema. Adapta-se a equipe aos atletas disponíveis para a próxima partida. Mata-se um jogo por vez.