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Gritos, experiência e coletivos. Felipão muda radicalmente rotina do Grêmio

Felipão orienta Giuliano aos gritos em treinamento do Grêmio - Lucas Uebel/Divulgação/Grêmio
Felipão orienta Giuliano aos gritos em treinamento do Grêmio Imagem: Lucas Uebel/Divulgação/Grêmio

Marinho Saldanha

Do UOL, em Porto Alegre

15/08/2014 06h00

Buscar semelhanças entre os trabalhos de campo de Enderson Moreira e Luiz Felipe Scolari é o mesmo que tentar achar pontos em comum entre o oceano e o deserto. Antigo e atual técnicos do Grêmio têm condutas totalmente diferentes nas atividades da semana. Felipão grita, distribui broncas com dedo em riste e tom elevado, e trocou a programação de treinos em campo reduzido por coletivos. Experiente e vitorioso, o ex-técnico da seleção brasileira ganhou de cara o respeito do grupo mudando radicalmente a rotina no Tricolor.

Enderson Moreira mostrou algumas características fortes. O ex-treinador gremista usava tom ameno de voz e buscava conversar particularmente com jogadores fosse para elogiar ou cobrar. Em campo, utilizava a chamada 'setorização' da equipe, trabalhando ataque, defesa e meio-campo separadamente. Tinha preferência por treinamentos em campo reduzido e às vezes com mais de duas metas no gramado.

Felipão é o oposto. Em pouco mais de 10 dias de trabalho no Grêmio mostrou que os ouvidos dos atletas precisam estar prontos. Em trabalhos, quando algo o desagrada, fala alto, dá bronca, esbraveja, reclama independente da presença de câmeras e jornalistas por perto. Jovens, experientes, todos ouvem reclamações a cada erro, e elogios a cada acerto publicamente.

"Ele é um cara de temperamento muito forte. Costuma cobrar bastante de uma forma bem forte quando algo o desagrada. É participativo, ativo, age com muita emoção. Além disso, tem uma paixão muito grande pelo clube, já falou isso quando assumiu o comando. Tem o desejo de dar títulos ao Grêmio e cobra assim para que o time jogue como ele pensa", explicou o volante Ramiro.

No campo, a mudança também é evidente. Felipão não faz treinamentos com time setorizado ou em campo reduzido com três ou quatro goleiras, como Enderson fazia. Pelo contrário, tem preferência absoluta por coletivos em campo inteiro e tenta parar a atividade o menor número de vezes possível, exatamente para que o treino seja parecido com jogo oficial. Quando não dá coletivo, passa treinamentos táticos com ou sem adversário e divide comando com Ivo Wortmann.

E a avaliação do grupo também mostra uma diferença gritante entre Enderson Moreira e Luiz Felipe. No começo da temporada, ao elogiar o treinador que assumia o time, os adjetivos usados citavam potencial futuro, modernidade e ascensão. Felipão é celebrado pela experiência, história e reconhecimento internacional.

"Ele nos passa muita confiança. É realmente um 'paizão' para o elenco. Ele chama, briga quando tem que brigar, ajusta, elogia quando tem que elogiar. É uma experiência que conta muito. Aprendemos muito com ele. Não é todo dia que se tem um campeão do mundo do lado. Nós jogadores temos que crescer com ele. É assim que vamos amadurecendo, observando os que venceram também no clube. O Grêmio vive um momento meio difícil de títulos e ver um treinador que venceu tanto pelo clube ainda com a chama acesa de querer vencer ainda mais nos motiva a buscar conquistas", afirmou Felipe Bastos.

Nesta sexta-feira, Felipão terá pela frente o último treinamento mais forte para sua segunda partida no comando do Grêmio. O time tricolor pega o Criciúma no domingo às 16h, pela 15ª rodada do Campeonato Brasileiro. Após perder o clássico Gre-Nal do último domingo, será oportunidade para testar a nova maneira de conduzir o grupo gremista, que precisa de recuperação.