Topo

Atlético-MG não aproveita título da Libertadores e perde força em 2014

Bernardo Lacerda

Do UOL, em Belo Horizonte

19/08/2014 06h00

O Atlético-MG conquistou o título da Libertadores há pouco mais de um ano. Porém, as mudanças no clube depois do título continental foram grandes. O alvinegro mineiro, em 2014, vive uma realidade bem diferente de 2013, com crise interna, dificuldades financeiras, perda de força do elenco e deixa o futuro indefinido para o próximo ano.

A temporada teve uma conquista, o título da Recopa, sob comando de Levir Culpi, diante do Lanús, em dois jogos. Porém, nas demais competições disputadas, a equipe mineira foi coadjuvante, sem conseguir aproveitar o embalo do título da Libertadores. Uma característica diferente em relação aos dois anos anteriores, foi a troca de comando técnico, com Paulo Autuori sendo demitido pouco mais de cinco meses depois de ter assumido.

No Campeonato Mineiro ficou com o vice-campeonato, depois de dois anos sendo campeão. Na Libertadores, caiu precocemente, nas oitavas de final, para o Atlético Nacional, no Independência. No Brasileiro, o clube é o sexto colocado, com 23 pontos, mas distante do líder Cruzeiro, que soma sete a mais.

Mais do que a falta de resultados em campo, o alvinegro mineiro convive com clima de incerteza em relação a 2015. O presidente Alexandre Kalil deixará o clube ao final do ano, já que seu mandato se encerrará. Seu vice Daniel Nepomuceno é o nome mais cotado para ser candidato da situação. Porém, nos bastidores a oposição já trabalha para ter ao menos um nome para tentar modificar o cenário político. Fred Couto é o nome mais cotado. 

Neste cenário, a diretoria atleticana convive com problemas. O principal deles é a falta de dinheiro. Com a verba da venda de Bernard ainda retida pela Fazenda Nacional, cerca de R$ 50 milhões, há mais de um ano, o clube tem dificuldades para pagar os salários e está com mais de um mês dos vencimentos dos atletas atrasados, além de parte das premiações ainda de 2013. Alexandre Kalil busca verbas para quitar as dívidas, mas encontra dificuldades. Ao mesmo tempo, tenta um acordo fiscal para conseguir o desbloqueio das contas. 

A diretoria busca formas de aumentar a arrecadação para a reta final do ano. Uma possibilidade é mandar jogos no Mineirão, algo que poderia gerar maior receita nos jogos do Atlético em Belo Horizonte. Durante a janela internacional, o Atlético não conseguiu vender nenhum dos atletas por um montante mais considerável, fato que agrava os problemas financeiros.

As dificuldades financeiras poderão afetar o planejamento atleticano para 2015. Jogadores importantes terão seus vínculos se encerrando ao final do ano, ou no começo do próximo. Leonardo Silva, Pierre, Guilherme são alguns dos nomes que poderão não terem seus contratos renovados, ampliando uma reformulação do time campeão da Libertadores, que já perdeu Ronaldinho Gaúcho, Alecsandro, Richarlyson, Gilberto Silva, Júnior César, entre outros.

Internamente, o clima já é de insatisfação por algumas partes e principalmente de cobranças do técnico Levir Culpi, que desde que assumiu o comando atleticano não poupa críticas em cima de atletas e dos dirigentes. Na última semana, o treinador deu declarações contra o planejamento feito pela diretoria, que buscou neste ano oito reforços, sendo três apenas na última semana, quando o lateral-esquerdo Douglas Santos, o volante Rafael Carioca e o zagueiro Tiago foram anunciados.

Pouco depois, via Twitter, o presidente atleticano rebateu as declarações do treinador, criando um mal estar. “No Atlético é o seguinte: do porteiro ao presidente, se tiver ruim, é só pedir pra ir embora. Sem drama e sem conversinha", escreveu Alexandre Kalil.

Após o jogo de domingo, contra o Figueirense, Levir Culpi procurou minimizar a situação e disse que iria resolver pessoalmente a situação com Alexandre Kalil, mas garantiu que o clima entre eles está tranquilo. “Nós somos amigos também e profissionais, então temos que resolver isso entre nós”, destacou.

O treinador, porém, conta com histórico de desacertos no Atlético e de declarações polêmicas. Logo na sua chegada, nos primeiros jogos, um desentendimento com Diego Tardelli abalou o dia a dia do Atlético. Ao ser substituído no segundo tempo do segundo jogo das oitavas de final da Libertadores, contra o Atlético Nacional, o camisa nove esbravejou e criticou a modificação. Perguntado, o comandante rebateu, alegando que os números do atleta foram ruins no duelo.

Depois de uma conversa interna, a situação foi contornada. Porém, as cobranças internas do treinador não diminuíram. Levir chegou a falar em fazer uma grande reformulação no time e alegou que via atletas sem foco depois da Libertadores. As mudanças ocorreram, mas em menor escala do que o desejado pelo treinador.

Um dos jogadores a deixar o elenco foi Ronaldinho Gaúcho, principal nome do clube. O atleta vinha sendo substituído com regularidade por Levir, que chegou a criticar a sua forma física. Depois de sair nos dois jogos da Recopa, contra o Lanús, acertou junto com a diretoria a rescisão do seu contrato de forma antecipada.

Após a vitória sobre o Palmeiras, no Independência, por 2 a 1, o lateral Marcos Rocha relatou dificuldades do time em adotar a marcação de bola parada em zona, imposta por Levir Culpi. Ao final do jogo, o comandante criticou o fato e se disse traído pelas declarações do atleta. Dias depois, o treinador minimizou a situação, mas voltou a demonstrar insatisfação com o fato durante a sua entrevista coletiva na Cidade do Galo. 

“Resolvemos a crise. Tivemos reunião com presidente, ele veio, resolvemos a crise da bola aérea. Resolvemos sem solução, pois vamos continuar levando gol de bola aérea e vamos marcar. É a física, não estudamos, mas sabemos que dois corpos não pode ocupar o mesmo espaço. Mandei gravar os gols da última rodada, acho que sete foram assim”, observou Levir Culpi. Curiosamente, diante do Figueirense, no domingo, o time voltou a sofrer gol pelo alto.