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Pato vira protagonista no São Paulo após broncas de Muricy

Guilherme Palenzuela

Do UOL, em São Paulo

19/08/2014 06h00

Muricy Ramalho tinha perdido a paciência com Alexandre Pato por não reconhecer evolução no atacante durante o período de pausa para a Copa do Mundo. Um mês depois da reestreia do São Paulo no Brasileirão, com Pato no banco e derrota para a Chapecoense, o cenário se transformou de forma completa. O atacante hoje é protagonista, mais efetivo da equipe e praticamente intocável. E supera até o que fez pelo Corinthians.

Pelo São Paulo, Pato tem sete gols marcados em 21 partidas, média de 0,33 gol por jogo. Em pouco mais de um ano pelo Corinthians, marcou 17 gols em 63 partidas. O retrospecto pelo ex-clube – que o empresta ao São Paulo e ainda paga metade de seu salário, R$ 400 mil por mês – resulta em média de 0,27 gol por jogo. Na prática, aproximadamente, Pato marca um gol a cada três jogos pelo São Paulo, e marcou um gol a cada quatro jogos pelo Corinthians.

Ao mesmo tempo em que o técnico Muricy Ramalho é causador da boa fase de Pato, o treinador quase descartou o atacante como opção há um mês. O São Paulo que voltou do período de intertemporada da Copa do Mundo – com período de treinos e amistosos nos Estados Unidos – tinha Ademilson e Osvaldo como pontas do ataque, Paulo Henrique Ganso como meia e Alan Kardec como atacante.   

Para Muricy, o problema estrutural era a falta de disciplina tática de Pato e sua dificuldade para aprender a cumprir papéis mais defensivos. No esquema anterior, com dois pontas, era obrigatório que os jogadores que atuassem pelos lados do setor ofensivo acompanhassem os laterais adversários. Sem a posse de bola, Ademilson fazia a marcação ao lateral esquerdo. Osvaldo, ao direito. Pato, quando colocado na função, não conseguia cumprir o que era colocado como regra. E, para piorar, perdia a bola mais do que qualquer outro jogador do time, apesar de criar boas jogadas. Tais deficiências o tiraram do time.

Mas o desempenho desse São Paulo – de dois pontas, com Pato e Ademilson – foi tão ruim que Pato ganhou chance. E a partir do momento em que Muricy o colocou na equipe como titular sem a responsabilidade de marcar o lateral e cumprir orientações táticas rígidas que ele nunca cumpriu na vida, Pato despontou. Foi o melhor do fraco São Paulo contra o Bragantino, em Ribeirão Preto. Depois, o melhor contra o Criciúma e o melhor contra o Vitória. Ganhou sobrevida, o que culminou com o gol que abriu o placar no clássico contra o Palmeiras, vencido por 2 a 1 pelo São Paulo.

As atuações de Pato fizeram Muricy mudar o São Paulo. Hoje, os pontas não acompanham mais os laterais, até porque não há mais pontas, de ofício. Contra o Palmeiras, o quarteto ofensivo com Kaká, Ganso, Pato e Kardec mostrou outro posicionamento: no primeiro tempo, apesar da bagunça, foi possível ver Kaká pelo lado direito do meio de campo e Ganso à esquerda. Pato, como segundo atacante, atuou entre a dupla de criação e com liberdade para cair pelo lado onde estava a bola, com Kardec à frente, na área. Tudo isso funcionou melhor no segundo tempo, com inversões frequentes e mais ordenadas entre Kaká e Ganso – sem a rígida marcação aos laterais adversários.

Tal mudança faz com que Pato seja o coração do novo esquema, do quarteto estrelado. Kaká e Ganso, pelos lados, podem ser substituídos por jogadores como Michel Bastos, Osvaldo, Ademilson e Boschilia – obviamente, sem a mesma técnica. Pato, como segundo atacante, com liberdade de movimentação, não tem substituto.