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Rodada reúne Mano e Felipão, duelo que discute o futuro do futebol no país

Gustavo Franceschini

Do UOL, em São Paulo

24/08/2014 06h00

Grêmio e Corinthians se enfrentam neste domingo em um jogo recheado de significados e importância. Nenhum detalhe da partida que acontecerá na Arena Grêmio, às 16h, porém, deve superar a discussão que o jogo desperta. Na oposição entre Luiz Felipe Scolari e Mano Menezes, os dois últimos técnicos da seleção brasileira, estão muitas das discussões sobre o futebol brasileiro que ganharam espaço desde a Copa do Mundo.

Não se trata de uma dicotomia entre duas visões sobre o jogo, ou mesmo de um duelo em que quem vencer tem a razão. A partida deste domingo, que marca a briga do Corinthians pela vice-liderança e a do Grêmio por uma aproximação do G4, discute o futebol brasileiro porque os dois treinadores estão no centro desse debate.

Não há uma grande amizade entre os dois. Mano, por exemplo, foi frio ao responder se cumprimentaria Felipão no reencontro. “Se acontecer tudo com normalidade, provavelmente vamos nos cumprimentar sim”, disse o treinador do Corinthians.

Mano foi demitido do comando da seleção em novembro de 2011. Andrés Sanchez, então diretor da CBF, deixou seu cargo logo depois reclamando que Felipão havia sido contratado antes mesmo do anúncio da mudança. A relação, obviamente, ficou deteriorada.

Scolari sustenta que o 7 a 1 que o seu Brasil sofreu para a Alemanha na final da Copa foi fruto de um apagão, e seguidas vezes ressaltou qualidades do trabalho que realizou. Mano, em entrevista ao UOL Esporte, disse que a goleada derrotou uma ideia de futebol, e não somente aquele time que estava em campo no Mineirão.

Felipão representa uma geração mais antiga de treinadores. Como Abel Braga, Muricy Ramalho e Vanderlei Luxemburgo, estava no mesmo posto em 1995, portanto há 19 anos. Mano é mais jovem, mas seu discurso modernizador não foi acompanhado de resultados na seleção e ele teve de voltar ao fim da fila para mostrar valor. Na comparação de trabalhos, não faltou quem colocasse o veterano à frente do mais jovem antes do fracasso no Mineirão.

Os clubes que defendem hoje também representam, de certa forma, um pouco do que é o futebol brasileiro. Ambos construíram estádios novos e investiram em programas de sócio-torcedores, fidelizando o público e diversificando fontes de renda. Só que a gestão do futebol ainda esbarra, em momentos de aperto, em velhas práticas.

Ambos investiram pesado para montar seus times em 2013. O Corinthians despejou mais de R$ 60 milhões em contratações e foi o clube que mais gastou com futebol no ano (R$ 248,2 milhões). O Grêmio não chegou a tanto, mas os R$ 161,4 milhões representam 68% a mais que aquilo que gastava há dois anos, por exemplo.

O Corinthians deixou de pagar mais de R$ 120 milhões de impostos desde 2007, o que levou a Justiça a investigar Andrés Sanchez e mais três diretores. O Grêmio, por sua vez, aumentou sua dívida em quase 50% de 2012 para 2013, segundo números do estudo feito anualmente pelo especialista Amir Somoggi, baseado nos balanços financeiros divulgados pelos próprios clubes.

Hoje, ambos apelam para velhas soluções ao tentarem encontrar o rumo do sucesso. Felipão e Mano, com estilos distintos, tentam imprimir personalidade a dois times que se renovaram e ainda buscam afirmação. Há mais tempo no cargo, hoje o técnico corintiano leva vantagem.

O Corinthians está na terceira colocação, com 31 pontos, a cinco do líder Cruzeiro. O Grêmio, por sua vez, é o décimo, com 22, a sete do último do G4. Uma vitória na Arena neste domingo, além da vantagem no duelo direto entre os técnicos, daria ao vencedor mais confiança para a caminhada no Brasileiro.

Depois do 5 a 2 convincente contra o Goiás na última quinta, o Corinthians precisa de regularidade para seguir sonhando com o título. Mano terá Petros à disposição, mas deve apostar em Renato Augusto no meio-campo. No ataque, Luciano pode ser a novidade na vaga de Romero.

Já o Grêmio de Felipão tem problemas. Lesionados, Edinho, Riveros e Lucas Coelho não ficarão à disposição. Giuliano, em compensação, pode voltar ao time depois de sofrer com dores no púbis. Depois de perder apertado para o Cruzeiro na última quarta, o time gaúcho quer aproveitar a sequência em casa (Corinthians, Santos e Bahia) para deslanchar.

FICHA TÉCNICA
Data: 24/08/2014
Local: Arena Grêmio, em Porto Alegre (RS)
Horário: 16h
Árbitro: Heber Roberto Lopes (SC)
Assistentes: Kléber Lúcio Gil e Carlos Berkenbrock (ambos de SC)

CORINTHIANS:
Cássio, Fagner, Gil, Anderson Martins e Fábio Santos; Ralf, Elias, Renato Augusto e Jadson; Romero (Luciano) e Guerrero
Técnico: Mano Menezes

GRÊMIO:
Marcelo Grohe; Pará, Werley, Rhodolfo e Zé Roberto; Felipe Bastos, Ramiro, Walace (M. Biteco/Giuliano), Luan e Dudu; Barcos
Técnico: Luiz Felipe Scolari