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Gremistas negros se dizem envergonhados, mas não querem punição ao clube

Kevin (d) e amigos na Arena do Grêmio estão envergonhados por racismo - Marinho Saldanha/UOL
Kevin (d) e amigos na Arena do Grêmio estão envergonhados por racismo Imagem: Marinho Saldanha/UOL

Marinho Saldanha

Do UOL, em Porto Alegre

31/08/2014 18h27

Os atos de torcedores gremistas contra o goleiro Aranha na última quinta-feira envergonharam outros torcedores. Negros gremistas lamentaram as ações dos aficionados e revelaram ainda uma tentativa de coibir o ocorrido. Porém, não acreditam que uma punição ao clube seja justa.

"Eu fiquei envergonhado. Triste. Não vou deixar de torcer para o Grêmio por conta disso. Mas foi lamentável. Não pode acontecer. São apenas algumas pessoas. Não todas. Então o clube não deve ser punido", disse Kevin da Silva, de 19 anos.

O aficionado se disse confortável ao comparecer aos jogos porque os atos racistas foram isolados. "Não é a torcida do Grêmio, foram apenas aqueles. E as pessoas precisam ser punidas", afirmou Marcos Fernandes, de 32 anos, também negro e gremista.

Na última quinta-feira, outro gremista ainda revelou a tentativa de abafar o grito de 'macaco' vindo das arquibancadas. "Eu e meus amigos estávamos ali perto. Tentamos coibir a ação. Não foi uma tentativa de invasão, como muitos pensaram, mas sim a tentativa de coibir o racismo que estava acontecendo. Não podemos deixar de vir na nossa casa que é a Arena. Eu repudio tudo que aconteceu, fiquei triste, envergonhado. Até deixei um recado na página do filho do Aranha, estou com ele nisso. Sou negro como muitos gremistas e quero que quem fez isso seja preso", explicou Marcelo Martins, de 29 anos.

"Isso envergonha qualquer gremista. Dói em nós também. Mas não são todos. Não tenho nenhum medo de vir aqui na Arena, nunca aconteceu comigo. Foi isolado", completou Rafael Marques, de 23 anos.

Racismo de jovem gremista choca amigos e família 'foge'

O caso também é policial. Dois torcedores do Grêmio identificados pelas câmeras de transmissão do jogo foram intimados a depor nesta segunda-feira na 4ª Delegacia de Polícia de Porto Alegre. A dupla será confrontada com as imagens. Se confirmada injúria racial, serão indiciados. E se considerados culpados em julgamento, a pena vai de 1 a 3 anos de detenção.
 
Um dos intimados é a jovem Patrícia Moreira, flagrada em evidência chamando o goleiro Aranha de 'macaco' no segundo tempo do jogo contra o Santos, na Arena. A reportagem do UOL Esporte esteve na vizinhança da jovem na noite de sábado e foi informado por amigos que a família deixou Porto Alegre para evitar a exposição.
 
Segundo amigos próximos da moça de 23 anos, ela nunca apresentou comportamento racista e se relaciona muito bem com negros e brancos. Mas ao ver as imagens, eles ficaram 'chocados'.