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Treinador e diretoria apontam que problema do Palmeiras é emocional. Será?

Do UOL, em São Paulo

31/08/2014 06h00

O Palmeiras vive uma crise em campo, ameaçado outra vez pelo rebaixamento após um turno decepcionante no Campeonato Brasileiro. Para o treinador, o problema é “anímico”. Para a diretoria, o grupo necessita de um “chacoalhão”. Tanto Gareca quanto Brunoro evitam falar, porém, dos problemas técnicos que o time apresenta em campo. 

“Alguma coisa precisa ser feita. Isso não quer dizer que tem de trocar treinador, mas tem de reunir, analisar os prós e contras, e a reação tem de ser imediata. Não é em relação a tirar ou por treinador. Alguma coisa precisa mexer com os brios, o moral, para que as coisas melhorem”, disse José Carlos Brunoro, diretor-executivo do clube, em entrevista à rádio ESPN após a derrota do Palmeiras por 1 a 0 para o Inter, no último sábado.

O resultado deixou o Palmeiras na 16ª colocação com 17 pontos, podendo cair para a lanterna dependendo dos jogos deste domingo. O resultado é decepcionante para um clube que acaba de voltar de sua segunda passagem pela Série B. A ameaça de uma nova queda é iminente e assusta a todos – no último domingo, Juninho disse “ajoelhar todo dia” para pedir salvação.

Embora ressalte que não quer, necessariamente, trocar de técnico, Brunoro pede mudanças. Gareca não nega em nenhum momento a gravidade do momento, mas não acena com nenhuma alteração técnica. Questionado sobre o problema do time, apontou o lado psicológico.

“Qualidade não, qualidade nós temos. Tire a palavra qualidade. Animicamente sim. Levamos gols que se podem evitar. Isso mina a confiança, o time sofre. Reconheço o Inter como grande time, mas há gols que são evitáveis”, disse Gareca, dando a entender que o nervosismo e a falta de confiança levam a derrotas como a do último sábado.

O discurso não está distante da lógica do "apagão" usado por Felipão e Parreira após o 7 a 1 que a seleção sofreu diante da Alemanha. Depois de um passeio técnico e tático, os técnicos brasileiros apontaram o emocional como único culpado do desastre na semifinal da Copa do Mundo. No Palmeiras, como no Brasil, as explicações vão além da psicologia. 

Diante do Inter, uma falha coletiva da defesa deixou Jorge Henrique em condições de marcar. Wellington perdeu na disputa pelo alto com Rafael Moura, Lúcio estava mal posicionado na sobra, Weldinho não acompanhou o atacante colorado e Fábio saiu mal do gol. O 1 a 0 no primeiro tempo minou o espírito do Palmeiras, que passou a se afobar e parou em uma defesa bem postada dos gaúchos.

O vacilo que deu origem ao gol poderia ser isolado, mas não é, e os erros não se dão apenas por problemas psicológicos. No primeiro tempo do último sábado, em um intervalo de minutos, o Inter teve três chances com lançamentos altos pelo meio do campo – Rafael Moura tocou com a mão em um, Sasha perdeu o outro e Jorge Henrique fez o dele. O Palmeiras, em três oportunidades distintas, não conseguiu evitar que o Inter se aproveitasse do seu mau posicionamento defensivo, com laterais dando condição e jogo e zagueiros falhando pelo alto. 

Ao longo do jogo, em desvantagem, o Palmeiras ainda deixou o Inter contra-atacar com superioridade numérica. Aránguiz, Jorge Henrique e Rafael Moura perderam uma chance cada em jogadas contra poucos palmeirenses, já que o time se lançava desesperadamente ao ataque. No desespero, os defensores alviverdes atacam a bola sem organização, às vezes com dois ou três homens no mesmo atacante, deixando espaço para outros rivais.

As cenas vistas no Pacaembu são patrocinadas pelo esquema ofensivo de Gareca, que bradou a grandeza do Palmeiras, se recusou a jogar na defesa e escalou só Marcelo Oliveira de volante contra um dos quatro melhores times do torneio. Ao fim do jogo, os jogadores sentiram o peso da decisão técnica, ainda que o peso emocional não possa ser descartado.

“É complicado, o time fica muito exposto, mas isso é decisão dele [Gareca] e do presidente. A gente não tem autonomia para falar desses assuntos. Tem de se unir, independentemente de tática ou técnica, e fazer o melhor para sair dessa situação”, disse o zagueiro Lúcio, comandante da pior defesa do Brasileiro, com 24 gols sofridos.