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Atlético-MG tem ano atípico com série de lesões e ataca calendário

Zagueiro Réver, que passou por cirurgia, não deve mais atuar nesta temporada - Bruno Cantini/Divulgação Atlético-MG
Zagueiro Réver, que passou por cirurgia, não deve mais atuar nesta temporada Imagem: Bruno Cantini/Divulgação Atlético-MG

Bernardo Lacerda

Do UOL, em Vespasiano (MG)

13/09/2014 06h00

Nem mesmo o fato de ter uma das melhores estruturas do Brasil, profissionais gabaritados e com passagens pela seleção brasileira fazem o Atlético-MG ficar livre de lesões. O departamento médico alvinegro tem convivido, desde o início da temporada, com casos graves, até mesmo cirúrgicos. A situação até certo ponto inusitada é motivo de preocupação no clube mineiro, que já realizou reuniões para debater o tema e vê o calendário brasileiro como grande vilão.

O preparador físico Carlinhos Neves, que foi da comissão técnica de Mano Menezes na seleção brasileira, reconhece que o fato é rato e preocupante. “Temos de ver a distribuição de lesões, talvez neste período sim (maior número de lesões desde 2012), mas no geral da temporada o número deva ser aproximado. Mas realmente chama atenção, pois é um número diferente de tudo o que a gente já viveu. Mas temos de ter calma, os profissionais aqui não desaprenderam e a nossa estrutura é muito boa”, observou.

São 11 jogadores machucados neste momento. Aliados ao calendário apertado, à falta de pré-temporada adequada, ao elenco reduzido e ao pouco treinamento durante a intertemporada, as lesões viraram uma grande dor de cabeça para o Atlético na temporada.

Na derrota para o Corinthians, por 1 a 0, na quinta-feira passada, o técnico Levir Culpi chegou a ter onze desfalques, um time inteiro no departamento médico. Ficaram ausentes do duelo Giovanni, Emerson, Réver, Pedro Botelho, Lucas Cândido, Pierre, Josué, Rafael Carioca, Marion, Maicosuel e Dátolo.

Na partida anterior, vitória sobre o Botafogo por 1 a 0, foram 15 jogadores ausentes, entre lesionados, suspensos e atletas convocados para a seleção brasileira. O treinador chegou a ter dificuldade para formar o banco de reservas, que foi composto por apenas quatro atletas de linha.

Peça fundamentalmente atingida com as contusões, Levir Culpi tem evitado reclamar das baixas. “Mas eu não fico preocupado com os caras que não podem me ajudar. Se eles não podem jogar pelo Atlético, eles não podem me ajudar. A gente tem de dar atenção para quem pode jogar”, disse o treinador.

“Por isso, quando alguém se machuca, tenho de mexer, não lamento. É a oportunidade de se consagrar. Quem está no banco quer jogar, ter a chance, então o momento é este. A pior coisa que pode acontecer para o atleta é lesão, porque você não conta mais com ele, você olha para outro lado e não pensa mais nele. A lesão é coisa seria para o jogador, ninguém quer machucar, mas infelizmente acontece. Mas eu confio nos jogadores e no elenco”, ressaltou Levir.

Porém, internamente, a onda de lesões causa preocupação para a comissão técnica e diretoria. Até mesmo uma reunião entre médicos, fisiologistas, preparador físico e treinador foi feita para analisar os problemas. “Quando acontece este tipo de situação, a gente reúne, conversa e tenta entender os motivos de tantas lesões”, explicou o médico Otaviano Oliveira.

“O período de agosto é normalmente quando a gente convive com maior número de lesões, pois temos maior quantidade de partidas em sequência. Mas esta temporada tem sido toda assim, com jogos em sequência, o que aumenta o desgaste dos atletas”, acrescentou o médico atleticano.

O motivo apontado para o excesso de contusões é o calendário apertado no Brasil e que ficou ainda pior com a realização da Copa do Mundo. O Atlético vem atuando duas vezes por semana desde o começo do ano, já que disputou Campeonato Mineiro e Libertadores e, neste momento, se divide entre o Campeonato Brasileiro e a Copa do Brasil.

“Agora os fatores estão sendo rediscutidos, sempre tomamos cuidado e agora mais, e as contusões, com toda estrutura e conhecimento multidisciplinar que temos com integração entre profissionais, não cercamos todas as variáveis. Mas não somos os únicos clubes do Brasil, há muita gente sofrendo com isso em função do calendário mal dividido, mas é a realidade do futebol brasileiro”, ressaltou Carlinhos Neves.

Porém, um fator novo vivido pelo clube mineiro, que afetou a preparação, foi a participação no Mundial de Clubes, em dezembro do ano passado. Com a competição se estendendo até metade de dezembro, os jogadores entraram de férias mais tarde e retornaram aos treinos no final de janeiro. Apenas quem não participou do Mundial, no Marrocos, trabalhou a partir do dia 10 de janeiro.

Os que participaram do torneio da Fifa tiveram apenas oito dias de pré-temporada até a estreia no Campeonato Mineiro, diante do Minas Boca, em Sete Lagoas. O então técnico Paulo Autuori optou em mandar a campo seus principais jogadores, para dar ritmo de jogo e conseguir formar o time durante a competição estadual.

No meio do ano, o alvinegro mineiro contou com a pausa do Brasileiro para a Copa do Mundo e ficou mais de 30 dias sem jogar oficialmente. Os atletas tiveram dez dias de descanso e viajaram em seguida para a China, onde realizaram uma série de amistosos. Logo depois do retorno ao Brasil, embarcaram para um período final de intertemporada na Argentina, onde o clube enfrentou o Lanús, pela Recopa Sul-Americana.

“Ao mesmo tempo em que ganhamos tempo de preparação, tivemos uma viagem longa para a China, com apenas jogos e sem preparação, e depois tivemos um período bom na Argentina. Mas em função da parada, tivemos densidade de jogos em alguns meses, tivemos que espremer o calendário e agora em agosto, setembro e outubro com muitos jogos”, explicou Carlinhos Neves, que evitou criticar o planejamento feito por ele e a comissão técnica.

Outra explicação dada para o excesso de lesões é o pequeno número de jogadores do elenco atleticano. Com contusões desde o primeiro mês de jogos, a comissão técnica deu rotatividade a todos os atletas, que já foram utilizados, mas precisou dar prioridade a uma base titular, que acabou se desgastando. Do atual time, não sofreram com contusões longas apenas Victor, Leonardo Silva e Diego Tardelli.

Jogadores como Marcos Rocha, Réver, Pedro Botelho, Leandro Donizete e Guilherme, tiveram ao menos duas contusões ao longo de 2014. Já Luan, Emerson, Lucas Cândido, além do capitão atleticano, foram submetidos a cirurgias e perderam longo período de preparação e jogos.

“Temos mecanismos para trabalhar com essa densidade, tem que ter rotatividade de jogadores, mas não temos um elenco tão numeroso também. Aceleramos o processo de recuperação de jogadores, mas não conseguimos fazer (no período) e agora estamos fazendo”, explicou Carlinhos Neves.

“O trabalho de prevenção é feito individualmente e respeitando o histórico de cada atleta, principalmente o biológico. No nosso caso tivemos jogadores vindos da Europa como o Emerson Conceição, o Maicosuel e o Rafael Carioca, que por necessidade chegaram jogando. Os atletas de meio e de lateral são os mais exigidos e não é surpresa fazer rodízio com esses jogadores, mas muitas vezes não é possível por necessidade técnica, tática e com nosso número de jogadores corremos o risco”, acrescentou o preparador físico atleticano.