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Restrições, medo e espiões. Grêmio tem estratégia para evitar atos racistas

Marinho Saldanha

Do UOL, em Porto Alegre

18/09/2014 06h00

O Grêmio ainda sofre repercussões do caso de atos racistas contra o goleiro Aranha na partida contra o Santos pela Copa do Brasil no último dia 28. Prestes a rever o adversário, o clube gaúcho quer evitar que qualquer coisa do gênero se repita. E para isso traçou uma estratégia que começou com a venda restrita de ingressos, contará com reforço de câmeras e até 'espiões' infiltrados em meio aos torcedores na arquibancada da Arena. Mas a principal arma é o 'medo' que a primeira punição gerou nos aficionados. 

A ação para conter qualquer manifestação que possa ser interpretada como racismo teve, antes de tudo, um princípio educacional. O Grêmio fez uma grande campanha de conscientização com vídeos e materiais distribuídos aos aficionados pedindo que nada deste tipo ocorra. Mais do que isso, que os torcedores coíbam atitudes do tipo. 
 
E na prática, a tríade de atitudes que moldam a estratégia tricolor começou com a restrição na venda de ingressos de arquibancada, onde ficam as torcidas organizadas e de onde partiram os atos de injúria racial contra o goleiro Aranha no último dia 28. Com a torcida Geral suspensa, atualmente há poucos identificados com organizadas que ficam no local. E cada um, sob a nova determinação, pôde adquirir apenas uma entrada para arquibancada da Arena e a comercialização foi restrita pela Internet. 
 
Além da venda moderada, o responsável pela ligação entre torcidas organizadas e direção do clube, Lauro Noguez, acredita que o medo imposto pela força da pena aplicada ao Grêmio no STJD por si só já coíba ações de mesmo cunho. 
 
"É um jogo que remete ao outro. Há um perigo latente. Achamos que a torcida vai se comportar bem. Tomou um susto pela decisão judicial da qual discordamos e estamos com recurso para ser analisado. Mas hoje, o Grêmio está excluído de uma competição. São mais de 8 milhões de torcedores sem o direito de acompanhar o time na Copa do Brasil por conta de no máximo 10. Tenho certeza que este medo vai fazer a torcida se comportar", afirmou o assessor para assuntos de torcida do clube. 
 
O Grêmio também reforçou o sistema de monitoramento da Arena. Serão mais de 300 câmeras voltadas para os aficionados munidas de microfone e qualidade de registro em HD para identificar com áudio e vídeo de qualidade qualquer um que tenha conduta inadequada durante a partida. 
 
"Estamos tomando atitudes de prevenção. Teremos gente entre os torcedores para identificar qualquer um. Não teremos bilheteria par arquibancada. Medidas que mostram que o clube, dentro do possível, está agindo pra identificar os infratores e evitar que eles tenham a convivência no estádio", completou Noguez. 
 
Além disso, 'espiões' estarão em ação. São seguranças vestidos como torcedores que estarão posicionados na arquibancada com objetivo de identificar atitudes dos demais. 
 
"Não vamos divulgar quantos serão por questões estratégicas. Mas teremos gente suficiente. Minha opinião pessoal é que eles [torcedores] irão se comportar bem", refletiu. 
 
Aranha, goleiro do Santos, foi alvo de xingamentos racistas na partida entre as duas equipes pelas oitavas de final da Copa do Brasil. O caso ganhou repercussão internacional. Na ocasião, o Grêmio entregou imagens do sistema de câmeras da Arena para polícia e auxiliou na investigação, que está em fase final. Ao menos cinco aficionados serão indiciados por injúria racial. 
 
Mas nem mesmo esta atitude impediu a punição no STJD. Julgado, o tricolor gaúcho foi excluído do torneio, mas busca reverter a pena em segunda instância, no Pleno, no próximo dia 26.