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Herói do Atlético esteve perto do Santos e leva vida de casado aos 19 anos

Bernardo Lacerda

Do UOL, em Belo Horizonte

24/09/2014 06h00

Baiano de Santa Luz, mas descoberto em Santos, cidade que viu Pelé construir sua realeza, e, mais recentemente, testemunhou o surgimento de Robinho e Neymar, Carlos, 19 anos, ficou perto de seguir o mesmo caminho dos dois principais nomes da nova geração santista. O atacante do Atlético-MG foi observado pelo mesmo olheiro que descobriu aquela dupla de craques, teve a possibilidade de tentar a sorte na base do clube paulista, mas não o fez por causa do excesso de concorrência para a posição que teria de enfrentar.

“Meu empresário me viu jogando e tinha parceria com o Atlético e me trouxe para fazer o teste aqui. Passei e estou jogando desde os 14 anos aqui. O Betinho me olhou, conhecia o meu empresário, gostou, mas falava que tinha muitos meninos no Santos e sabia que eu poderia me encaixar bem aqui”, contou Carlos ao UOL Esporte.

O Betinho citado é Roberto Antonio dos Santos, que foi o responsável por levar a dupla Robinho e Neymar para o Santos. Ele deu aval para que o empresário Alexandre Gaspar se tornasse representante de Carlos. Gaspar observou o hoje atacante atleticano por algum tempo, mas só se convenceu definitivamente depois da confirmação de Betinho, olheiro mais experiente.

“Eu observei o Carlos em um torneio em Santos e pedi para o Betinho confirmar. Ele me disse que era um jogador acima da média, deu aval e me mostrou o caminho que deveria levar o Carlos”, disse Alexandre Gaspar. Ao contrário das duas outras revelações da base do Santos, Carlos não seguiu para o time paulista pela grande competitividade que teria no ataque. “Ele chamava atenção pela qualidade desde novo, mas achávamos que no Santos a disputa seria muito grande, principalmente na função dele”, explicou o agente.

Dessa forma, o Santos perdeu a possibilidade de contar com outro atacante de futuro e o Atlético-MG ganhou uma promessa. Há menos de um mês, a jovem revelação atleticana disputava a final da Taça Minas Gerais de Júniores. Fez gol, mas não evitou a derrota para o América-MG e nem teve tempo para lamentar a perda do título. Com muitos desfalques de atacantes, virou opção para Levir Culpi no time profissional e viu o seu mundinho se transformar ao marcar dois gols no triunfo sobre o líder Cruzeiro, por 3 a 2.

O menino discreto, tímido, experimentou, pela primeira vez, assédio típico de gente grande. Passou os dois últimos dias dando autógrafos, tirando fotos com fãs e respondendo a novos admiradores por meio de redes sociais. Na segunda-feira, dia seguinte ao momento de ‘herói do clássico’, Carlos movimentou um shopping em Belo Horizonte. “Ótimo momento, onde eu vou as pessoas me reconhecem, tiram fotos, até no meu prédio onde moro o porteiro mexe comigo. Sempre sonhei com isso, mas não esperava ser tão rápido. Na base, pedia a Deus para ter a oportunidade”, comentou.

Tímido, sempre falando baixo, Carlos revela uma vida tranquila em Belo Horizonte. Nos momentos em que não está treinando ou jogando, gosta de ir ao cinema, passear em shopping e curtir a namorada em casa. “Gosto de jogar futebol no videogame”, contou o jovem atleta, que ao lado da sua namorada não resiste a tirar fotos e postá-las no Instagram.

A novidade do assédio de fãs já desperta a atenção de companheiros experientes e que passaram por uma situação semelhante. “Já conversei com o menino depois dos dois gols no clássico”, contou Diego Tardelli, que tem conhecimento de causa para orientar o garoto. “Eu era um fio desencapado”, reconheceu o atual camisa 9 atleticano, que demorou para afastar a fama de bad boy e quer ajudar seu novo parceiro de ataque a não passar por problemas que ele poderia ter evitado.

Os conselhos de Tardelli são bem recebidos por Carlos. “Tardelli é meu ídolo, conversa muito comigo, gosto muito dele. Ele me orienta dentro de campo e estou escutando. Ele fala para tomar cuidado nas entrevistas, não sair muito e curtir a família”, contou.

Companheira de Carlos - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Carlos posta foto com Bianca, sua namorada há quatro meses, e que o ajuda a crescer na carreira de jogador de futebol
Imagem: Reprodução/Instagram

Apesar da pouca idade, Carlos já iniciou a construção de uma família. Ele namora Bianca há quatro meses, com quem leva vida de casado, morando juntos em Belo Horizonte. “Ela é importante para a minha carreira, me ajuda muito”, disse Carlos, que também merece elogios de Bianca, igualmente tímida: “Ele é uma grande pessoa e um grande jogador”.

A preocupação com o assédio sobre Carlos é geral no Atlético, que tenta blindar o jovem jogador.  O técnico Levir Culpi conversa sempre com Carlos e passa conselhos a ele. “Já falei para ele não pensar em comprar carro, espero que não compre uma Ferrari”, afirmou o comandante, bem humorado.

A mãe do jogador, Tereza, também é peça importante no dia a dia de Carlos na capital mineira. “Ela mora na Bahia, mas toda semana pega o voo e vem para Belo Horizonte ficar comigo. Estou mais próximo dela agora e isso é muito bom”, disse o jovem atacante atleticano.

Mãe do atleta mora na Bahia - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Carlos mora longe da mãe, tereza, que reside na Bahia, mas que vem sempre que pode a BH para acompanhar o filho
Imagem: Reprodução/Instagram

Viver longe da família já realidade para o atacante há muito tempo. Desde os 14 anos, Carlos mora em Belo Horizonte, depois de ter sido aprovado em teste no Atlético. Ser aprovado nessa peneirada não foi fácil. Carlos precisou de uma ajuda para deslanchar e conseguiu ser aprovado graças a um gol de rara felicidade. “Quando ele estava fazendo o teste, cheguei no alambrado e pedi ao supervisor da base na época para dar mais chance ao Carlos e ele me atendeu. O Carlos pegou uma bola na intermediária, cortou e fez um golaço que chamou atenção de todos”, contou Alexandre Gaspar.

Desde o início, Carlos chamou a atenção na base atleticana, especialmente pela facilidade de fazer gols. “Ele tem bom posicionamento, sabe finalizar bem de cabeça, chuta com as duas pernas, não fica impedido, é um atacante completo”, avaliou Rogério Micale, técnico do time júnior atleticano. 

Em 2010, aos 15 anos, o jovem atacante marcou 28 gols pelo time infantil, despertando a atenção da equipe juvenil, formada por garotos um ano mais velhos. Carlos participou da conquista do torneio Future Champions, no mesmo ano, e, apesar de reserva, marcou dois gols. 

Três anos depois, já nos juniores, foi o grande destaque atleticano na Copa São Paulo, principal torneio da categoria. O alvinegro mineiro chegou às oitavas de final e ele foi o artilheiro da equipe com três gols. Naquele momento, já passou a ser observado por Cuca e fez treinos com o time profissional. Atuou na partida contra o Náutico, em agosto de 2013, pelo Campeonato Brasileiro, mas depois não teve mais oportunidades. Este ano disputou novamente na Copa São Paulo Júnior, quando foi vice-artilheiro com oito gols e ajudou o Atlético a chegar a semifinal.

Após o torneio passou a integrar em definitivo o elenco profissional do Atlético. Mas foi com Levir Culpi e graças a sequência de atletas lesionados no elenco atleticano, que Carlos passou a ser titular pelo Brasileirão. Rapidamente a diretoria atleticana resolveu renovar o seu contrato até 2018. O atleta, de 19 anos já possui uma multa contratual superior a 15 milhões de euros, valor elevado, mas menos da metade dos 35 milhões de euros definidos para Neymar, quando ele estreou pelo Santos em 2009.