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Com passado de abandono, Luan desistiu de virar pastor e se tornou jogador

Luan, que tem o apelido Doidinho, quase desistiu de ser jogador para se tornar pastor - Bruno Cantini/Site do Atlético-MG
Luan, que tem o apelido Doidinho, quase desistiu de ser jogador para se tornar pastor Imagem: Bruno Cantini/Site do Atlético-MG

Bernardo Lacerda

Do UOL, em Vespasiano (MG)

18/11/2014 06h00

Enfrentar o Flamengo, adversário desta quarta-feira, no Independência, é sempre especial para Luan. O atacante brilhou na goleada por 4 a 1, no confronto válido pela semifinal da Copa do Brasil. Quando criança, o atleta sonhava em vestir a camisa do clube carioca, que tem a torcida de seus familiares. E, curiosamente, por pouco o “doidinho”, como é chamado por torcedores, não seguiu caminho bem distante dos gramados. O menino alagoano quase seguiu o caminho da religião e por pouco não virou pastor evangélico.

Esse era o desejo da sua mãe, que abandonou o filho ainda quando criança, após se casar novamente. O atleta já havia perdido o pai, que o abandonou com apenas oito meses de idade. O futebol era assunto proibido na casa de Luan e para se profissionalizar no esporte, o meia-atacante teve de contrariar interesses de seus parentes.

O atacante chegou a estudar para seguir os passos da religião, mas o futebol sempre falava mais alto e o atleta não perdia a chance de brincar com a bola nos pés. Luan não gosta de falar do passado, principalmente em relação ao abandono familiar, mas lembra das dificuldades vividas na infância para realizar o sonho.

 “Meus amigos e primos falavam que eu não ia conseguir ser jogador, criticavam meu sonho, mas eu sempre acreditei que conseguiria. Ninguém me dava força, achavam que eu seria pastor, iria para a religião, que a minha vida seria melhor”, contou Luan.

Após o abandono da mãe, ainda quando criança, Luan viu a sua vida mudar e o caminho do esporte se sobressair ao da religião. O atacante foi morar com a avó Ranuzia, em São Miguel dos Campos, interior de Alagoas e aos poucos a ideia de ser pastor foi ficando para trás, mesmo que a religião não tenha sido afastada do seu dia a dia.

Ao contrário da mãe, sua avó dava corda para o sonho do neto em ser jogador. E Ranuzia era torcedora do Flamengo. Juntamente com outros primos, Luan pensava em conseguir realizar o sonho de ser jogador de futebol e vestir a camisa do time de Zico, ídolo da vovó.

Ranuzia faleceu há dez anos, mas antes de morrer, conseguiu ver o neto começar a realizar o seu maior sonho, de ser jogador de futebol. Após se destacar pelo São Miguel, time da sua cidade, Luan seguiu para o Goiás.

“Foi difícil perder minha avó. Ela era a única pessoa que me dava incentivo. Eu não tive amor de mãe e de pai, mas ela conseguiu suprir a tudo isso. Meus amigos me zoavam muito, diziam que eu era ruim e nunca ia ser profissional”, afirmou Luan.

Na pele, o jogador guarda tatuado a lembrança da sua avó. Em cada comemoração de gol ele mostra a marca como homenagem a Ranuzia.

Foi no Atlético de Sorocaba, do interior de São Paulo, que a vida de atleta de Luan começou a mudar. Mas, ele não teve facilidades. O atacante precisou da ajuda de amigos, que haviam sido indicados para realizar o teste no Sorocaba, para conseguiu uma oportunidade. Ali, o treinador da equipe gostou do futebol do moleque doidinho.

O velocista se transferiu para o Atlético em 2013, por indicação do técnico Cuca e rapidamente caiu nos braços do torcedor, principalmente pelo seu estilo de jogo e pelo seu carinho pelo clube mineiro. Em um jogo no Independência, o velocista começou a batucar, no banco de reservas, o hino alvinegro, que hoje, ele sabe de cor.

Luan supera obstáculos - Bruno Cantini/Site do Atlético-MG - Bruno Cantini/Site do Atlético-MG
Luan é um dos jogadores mais queridos pelos companheiros e pelos torcedores do Atlético-MG
Imagem: Bruno Cantini/Site do Atlético-MG

O início de 2014, com a saída de Cuca, foi o mais difícil para Luan. O atleta sofreu lesão grave no joelho direito e perdeu praticamente todo o primeiro semestre com uma cirurgia. Porém, o atacante retornou aos gramados vivendo uma fase ainda melhor e mais madura em campo. Conseguiu se tornar titular e deixou de lado o rótulo de 12º jogador, que havia conquistado um ano antes.

Os números em campo mostram o crescimento do atleta. Luan é o artilheiro do Atlético na Copa do Brasil, com cinco gols e deixou a sua marca em todos os jogos decisivos do time na competição, contra o Palmeiras, nas oitavas de final, Corinthians, nas quartas, Flamengo, pela semifinal e diante do rival Cruzeiro, na semana passada.

“Foi o clube que abriu as portas para crescer no futebol brasileiro. Sei da minha responsabilidade. Agradeço à torcida e à diretoria e quero retribuir dentro de campo. Não é um sentimento qualquer, me sinto diferente quando visto essa camisa”, comentou Luan.