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Por que Tite no Corinthians é o treinador menos cobrado do Brasil

Tite é o principal ídolo do Corinthians na atualidade e tem contrato de três anos - Miguel Schincariol/Estadão Conteúdo
Tite é o principal ídolo do Corinthians na atualidade e tem contrato de três anos Imagem: Miguel Schincariol/Estadão Conteúdo

Dassler Marques

Do UOL, em São Paulo

28/07/2015 12h41

Antecessor de Tite no Corinthians, Mano Menezes tem convicção sobre os motivos para o clube, desde 2008, estar sempre entre as melhores defesas dos campeonatos que disputa. Na visão dele, a qualidade do jogo não pode ser prioridade número um quando duas ou três derrotas consecutivas são capazes de transformar o ambiente em um inferno. A teoria de Mano explica por que Tite raramente sofre cobranças.

A imunidade é tão grande a ponto de, publicamente, ele admitir quando julga ter errado em escalações ou substituições. Na última segunda-feira, por exemplo, Tite disse que o recuo excessivo corintiano no empate com o Coritiba ocorreu por ele ter demorado a substituir Vagner Love por Danilo. "Confissões" do tipo tem sido frequentes em seu retorno ao clube.

Para a direção do Corinthians, sobretudo neste momento, importa é ter resultados que abafem a situação financeira muito difícil. No fim das contas, por mais que haja críticas entre os torcedores pelo comportamento do time, sobretudo fora de casa, a vice-liderança do Campeonato Brasileiro vale muito. A seu favor, Tite também tem o argumento de que perdeu seis jogadores durante o ano e não recebeu reforços à altura. Ele pede um meia há seis meses e um centroavante há cerca de 60 dias. Não foi atendido.

O currículo do treinador, naturalmente, também tem peso. Tite ganhou todos os títulos possíveis na passagem anterior pelo Corinthians, mas não é só. Com as saídas de Emerson e Guerrero, ele virou a principal referência para a torcida e protagonista em ações de marketing. De certa forma, funciona também como escudo nos momentos difíceis para se comunicar com a torcida.

O fato de a direção de Roberto de Andrade ser enxuta também contribui. Ex-diretor de futebol, o presidente é aquele com perfil mais crítico, mas possui relação de amizade e gratidão com o treinador que voltou mesmo com melhor oferta do Internacional. O superintendente Andrés Sanchez vive distante, mais preocupado com suas funções como deputado, e faz interferências mais pontuais. Interlocutor direto, o gerente Edu Gaspar não tem vocação para cobranças, principalmente diante da falta de reforços.

Quem vive o dia a dia do Corinthians também aponta para a forma inteligente de Tite se relacionar. O treinador raramente se envolve em questões fora da área técnica, o que evita desgastes com a direção. No clube, é gentil e solícito com todos, desde funcionários até jornalistas. "Ele faz o marketing do bonzinho, mas também é da personalidade dele", explica um amigo.

A receita de Tite contra cobranças funciona à perfeição. A ponto de admitir erros publicamente, pedir reforços de forma insistente, ser eliminado do Paulista pelo maior rival e cair precocemente na Copa Libertadores sem sofrer grandes questionamentos ou balançar no cargo. É como funciona em quase todos os clubes brasileiros.

No Corinthians, como define Mano Menezes, basta vencer, e se defender em primeiro lugar é uma estratégia eficiente. Tite, um seguidor fiel da ideologia pragmática de José Mourinho, sabe que a vice-liderança do Brasileiro, nesse momento, é uma grande vitória.