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Não foi obra do acaso. Por que reservas corintianos jogam como os titulares

Dassler Marques

Do UOL, em São Paulo

24/11/2015 06h00

Logo após se apresentarem na manhã de domingo, cientes de qual seria a equipe para o clássico, os jogadores corintianos se sentaram à mesa no CT Joaquim Grava. Vagner Love, o titular poupado, puxou uma cadeira ao lado de Ángel Romero, eleito para seu lugar. Por alguns minutos, transmitiu não apenas confiança ao paraguaio que faria dois gols, mas também passou suas impressões sobre como ele deveria se comportar em campo naquela que se tornaria a maior goleada do Corinthians sobre o São Paulo: 6 a 1.

Braço direito de Tite, o auxiliar técnico Cléber Xavier define esse tipo de atitude criada no vestiário do hexacampeão brasileiro como uma das explicações para a pergunta: por que o time reserva corintiano é capaz de jogar de forma tão similar à dos titulares? Mas, conforme mostra a rotina da comissão técnica, não se trata apenas de cooperação entre os atletas. A explicação vai além. 

Semanalmente, o treinador corintiano e seu estafe têm o hábito de misturar titulares e reservas na atividade. Por vezes, o setor direito (lateral, meia-central e atacante de lado) treina no primeiro time e o setor esquerdo fica entre os suplentes. É como se fosse uma quebra de paradigmas da lógica do futebol que diz que a repetição de equipe é essencial para o entrosamento. Tite também acredita nisso, mas prioriza que cada jogador conheça exatamente cada detalhe da função que pretende executar. 

"Não vou dizer que a atenção a titulares reservas é igual, mas é quase igual", conta Cléber Xavier ao UOL Esporte. "Misturamos titulares e reservas para não se criar uma competitividade exagerada e para eles saberem todas as funções. Todos os jogadores são posicionados para trabalharem dentro da função e treinamos a parte ofensiva separada da defensiva. O Fábio (Carille, auxiliar) e eu nos revezamos nisso, em treinos de quatro contra quatro, cinco contra cinco e seis contra seis", detalhou.

Engana-se quem acredita que o time para enfrentar - e massacrar - o São Paulo foi definido às pressas. Em uma atividade que quase passou despercebida, no último dia 13 de novembro, a espinha dorsal desse time foi preparada. Oito dos 10 jogadores de linha que atuaram no domingo participaram de um jogo-treino contra o Red Bull. Foi ali que a comissão identificou Bruno Henrique e Rodriguinho para as funções de Elias e Renato Augusto, respectivamente, aproximou Fagner e Uendel do ritmo de competição, e ainda trabalhou a parceria entre Romero e Danilo. 

No último domingo, o veterano foi designado para iniciar o clássico aberto à direita e o paraguaio recebeu a função de ser o atacante mais adiantado. Quando o Corinthians abriu o placar durante o primeiro tempo, os papéis se inverteram. Danilo já não seria tão útil para reter a bola e sustentar a beirada do campo para os avanços de Fagner. Romero, com mais fôlego, passou a acompanhar o lateral esquerdo Carlinhos, e se tornou o homem dos contragolpes. Por ali, venceu quase todos os duelos, sobretudo contra Reinaldo a partir do intervalo.

"Nós tínhamos esse plano B e já tínhamos feito isso com Emerson e Danilo na Libertadores. Os dois fazem as duas funções com características diferentes. Você faz a troca (de posicionamento) e espera para ver se dá certo", explica Cléber. 

Mas, no fim das contas, nenhuma preparação adiantaria não fosse o ambiente criado entre os atletas. O auxiliar de Tite é que aponta: "não é da boca para fora, a relação entre eles é muito boa e estamos sempre fomentando. Você vê que um sempre está dando força ao outro. O Love não ajudou apenas o Romero, mas 'cuidou' do Luciano quando perdeu a vaga no time (durante o primeiro turno)", complementa.

Há um dado importante que legitima esse raciocínio de que todos merecem atenção similar. Com Bruno Henrique e Cristian, o Corinthians chegou a 20 jogadores diferentes a balançar as redes no Campeonato Brasileiro. Nenhum outro clube conseguiu fazer tantos artilheiros no torneio.