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Jogo dos sete erros. Como o Inter foi de campeão e líder a rebaixado

Jeremias Wernek

Do UOL, em Porto Alegre

11/12/2016 18h57

O rebaixamento do Internacional pode ter sido confirmado na 38ª rodada, mas começou muito antes. O ano que iniciou com o hexacampeonato estadual e depois teve liderança do Campeonato Brasileiro termina de forma melancólica. Erros em contratações, falta de política de futebol e até falhas administrativas ajudam a explicar o inimaginável até maio.

Sim, até maio o Inter vivia uma temporada como outras recentes. Tinha vencido o Gauchão, com altos e baixos, mas com vitória. 
 
E mais: sonhava com o título do Campeonato Brasileiro de um jeito diferente. Sem medalhões, tomado por jovens. Sem ser apontado como um dos favoritos. As oito rodadas iniciais iludiram e não foi só o torcedor.
 

Renovação extrema

 
Depois da Libertadores de 2015, o Inter começou a matutar uma reformulação profunda no elenco. Aránguiz, Nilmar, Lisandro López, Juan, Dida, Rafael Moura, Jorge Henrique. O Colorado se desfez de todos eles na esperança de dar espaço a jovens das categorias de base, criar novas lideranças e reduzir custos.
 
Hoje a visão dentro do Beira-Rio é unanime: a renovação foi radical demais. Nem D’Alessandro escapou. O meia teve atrito com a direção, recebeu proposta do River Plate e decidiu sair por empréstimo, em fevereiro. À época, a cúpula viu com bons olhos o negócio. Atualmente admite que foi um equivoco não ter argumentado mais para que o gringo ficasse.
 

Argel vai, Argel fica

 
Contratado após a demissão de Diego Aguirre, Argel Fucks exigiu um contrato até dezembro de 2016 e levou. A multa rescisória não era alta, mas o resultado a curto prazo (com a segunda melhor campanha no returno do Brasileirão) fez a direção não mandá-lo embora. No começo da temporada, o treinador participou ativamente da montagem do elenco.
 
Mesmo que tenha balançado, e muito, durante o Gauchão, Argel ficou. Foi campeão e teve bom início de Brasileirão. Internamente a visão é de que a proposta de jogo dele não casava com o Inter, e na hora de evoluir para algo mais elaborado, o treinador se perdeu.
 

Departamento de futebol enxuto

 
As decisões políticas isolaram o departamento de futebol mês após mês. Após o falecimento de Luiz Fernando Costa, em janeiro de 2015, Carlos Pellegrini centralizou as decisões. Com aval do presidente Vitorio Piffero, ele se tornou vice de futebol. Na gestão Pellegrini, Jorge Macedo trocou Porto Alegre pelo Rio de Janeiro. Ele topou deixar a função de gerente de futebol para virar diretor executivo no Rio de Janeiro.
 
O Inter até buscou um novo dirigente remunerado, mas não encontrou. A saída foi dar maior poder a funcionários do clube, mas nunca os colocando na linha de frente ou com real poder de decisão. Em 2016, Pellegrini foi perdendo força dia após dia, mas saiu da função apenas em 31 de julho. Neste meio tempo, ganhou companhia de Pedro Affatato por poucas semanas. Em agosto, a gestão apelou e pediu a intervenção de Fernando Carvalho e a “SWAT colorada”.
 

Um vexame em 14 jogos

 
Ridículo, vexame e vergonha. Os adjetivos de jogadores e dirigentes resumem a série histórica que o Internacional protagonizou no Campeonato Brasileiro de 2016. Nunca o Colorado ficou tanto tempo sem vencer no Brasileirão. E jamais, em seus 107 anos, acumulou quatro derrotas seguidas como mandante.
De 26 de junho a 8 de setembro, o Inter não soube o que era vitória. Depois da derrota para o Botafogo, em casa, o time desandou. A cada jogo, a falta de experiência em reflexo da renovação radical cobrou seu preço. Erros técnicos crassos, psicológico afetado. Gols sofridos nos últimos minutos, pênaltis perdidos. Contra o Santos, com direito a expulsão polêmica de Lucas Lima, o Colorado encerrou a série que passou pelas mãos de Argel, Falcão e Celso Roth.
 

Falcão em 27 dias

 
A demissão de Diego Aguirre, três dias antes de um clássico que terminou com derrota de 5 a 0, ganhou um fato rival neste ano. Paulo Roberto Falcão foi contratado após a demissão de Argel Fucks e ficou no cargo por míseros 27 dias.
 
Falcão foi convidado após negativas de Abel Braga e Mano Menezes e ficou no cargo somente por cinco jogos. Com dois empates e três derrotas, o ‘Rei de Roma’ foi demitido com um fato curioso: dois dias depois da assinatura oficial do contrato. Por ser o Inter, Falcão não teve pressa em rubricar os papeis e só firmou compromisso no sábado antes da queda.
 

Celso Roth cai tarde

Contratado em agosto, Celso Roth dirigiu o Inter em 22 partidas. Do início com enormes dificuldades a reta final sem reação, o treinador nunca pôde se queixar da falta de apoio. Mesmo após as piores atuações da equipe, sempre recebeu respaldo. Foi demitido após o empate com a Ponte Preta, em Porto Alegre, pela 35ª rodada. 
 
Internamente, a crítica mais contundente foi justamente sobre o timing para a dispensa. Diversos dirigentes entendem que ele poderia ter saído após a derrota para o Palmeiras. Assim, o sucessor teria 10 dias a mais para treinar e assumir o time com uma rodada extra na missão de evitar a queda.
 

Doze rodadas bastam 

 
Em um campeonato de 38 jogos, ficar 12 rodadas entre os últimos basta. O Inter caiu para a Série B ficando pouco mais de um terço da competição entre os piores times. A equipe liderou a competição por três rodadas e foi despencando. Chegou a ficar seis partidas seguidas na zona de rebaixamento, mas saiu e respirou. Retornou na 34ª, com derrota para o Palmeiras e não saiu mais. Um período curto, mas suficiente para levar o clube aonde ele nunca foi.