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Da periferia do Rio ao Grêmio, com Ronaldos no caminho. Conheça Michel

Michel (centro) começou no São Cristovão e virou volante para jogar o Gauchão - Marcio Cunha/Estadão Conteúdo
Michel (centro) começou no São Cristovão e virou volante para jogar o Gauchão Imagem: Marcio Cunha/Estadão Conteúdo

Jeremias Wernek

Do UOL, em Porto Alegre

15/06/2017 04h00

Michel rodou bastante antes de chegar ao Grêmio, deixar o status de aposta para trás e cravar seu nome entre os titulares do time na melhor fase da temporada. Meia até os 21 anos, se tornou volante depois de sair do clube que revelou Ronaldo Nazário para o mundo. E em Porto Alegre, ganhou a confiança de Renato Gaúcho com um lance específico.

Abandonado pelo pai após o falecimento da mãe, foi criado pelos avós em uma comunidade carente no Rio de Janeiro. O caminho desse contexto até a vida como profissional é uma história vencedora. Até os 14 anos, ele dividia o tempo entre escola, casa e campos de terra na Penha. Depois passou para o gramado sintético e, de lá, pulou para a grama de verdade no São Cristóvão.

“Eu comecei na Escolinha do Marcelo Rocha, ex-jogador do Flamengo. Ele rodava as comunidades do Rio e pegava molecada para jogar, eu entrei nessa. Jogamos um Estadual no sintético. E depois, em um jogo contra o São Cristóvão, fui bem e me convidaram para ir para o clube. Eu fui e me profissionalizei lá”, conta.

Michel, volante do Grêmio, nos tempos de São Cristovão - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Michel nos tempos de São Cristovão
Imagem: Arquivo pessoal

No São Cristóvão, com 18 anos, assinou contrato profissional. Mas foi no extinto Porto Alegre, clube então administrado pela família de Ronaldinho Gaúcho, que mudou de posição e começou a alterar a linha da vida.

O ano era 2011, o técnico Luís Antônio Zaluar montava o time para o Gauchão e teve uma ideia. Michel foi recuado para melhorar a saída de bola do time, por necessidade, e depois que deu uns passos para trás no campo não saiu mais dali.

“Ele (Zaluar) falou e eu vi que poderia ser uma boa. Como meia eu jogava de costas para o gol. Como volante eu poderia usar o passe bom e tinha uma outra visão do campo, do jogo”, relembra. “Fiquei um ano no Porto Alegre e, quando saí, já saí como volante”, acrescenta.

Do Porto Alegre foi para o Madureira. Depois Guarani de Palhoça-SC, Novorizontino, um retorno ao time catarinense e volta ao interior de São Paulo até chegar ao Atlético-GO. Lá a história seguiu um roteiro que se tornou familiar.

“Eu cheguei lá da mesma maneira que cheguei aqui no Grêmio, como aposta. Aposta mesmo. Tinha vindo do Novorizontino, sem muito destaque, entrei no time e joguei 35 jogos na Série B. Tem muita coisa parecida”, pontua.

No Grêmio, foi o primeiro reforço anunciado para a temporada depois do fim do jejum de 15 anos sem títulos nacionais. Chegou para completar elenco, mas viu um titular sair, outro se lesionar e agradou nos treinos. Certo dia, fez uma jogada que brilhou nos olhos de Renato Gaúcho. Michel pegou a bola à frente dos zagueiros e sentou o pé. Ela viajou alta pelo ar e caiu entre os defensores do time adversário. Colada no atacante. Pintava ali a jogada que já rendeu gol contra o Botafogo, anotado por Ramiro em rebote, e diante da Chapecoense – encobrindo Jandrei.

“Eu fiz em um jogo, o Renato viu e gostou. Pediu para eu fazer mais. E falou que não tinha de ter medo, se errasse era para tentar de novo depois”, revela. “Eu tenho procurado ajudar com esse passe longo. Não só para acionar em diagonal ou na infiltração, mas também na virada de jogo. Tem dado certo, ajuda o time a chegar mais rápido”, completa.

A sintonia entre Michel, Grêmio e o elenco atual é grande. Tanto que no sábado passado, o volante participou da reunião que definiu a escalação para o jogo com o Bahia. O retorno de Maicon, capitão da equipe, obrigou Renato Gaúcho a fazer mudanças no meio-campo.

“O Renato é super tranquilo, ele tem uma relação muito aberta e sincera com a gente. Conversa bastante, escuta o que o jogador fala. Isso dá confiança”, garante Michel. “Nesse último jogo, como o Maicon estava voltando, ele se reuniu com a gente. Comigo, com Maicon e com Arthur. A gente pensou junto e entrou em consenso sobre como devia jogar”, explica.

Com Michel, o Grêmio volta a campo e defende sua melhor arrancada na história do Brasileirão dos pontos corridos diante do Fluminense, nesta quinta-feira (15).