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Vasco vira "escada" para clubes e consórcios lucrarem em Arenas na Série B

Torcida do Vasco lotou a Arena Amazônia contra o Oeste, mas clube não levou um centavo - Marcelo Sadio / Site oficial do Vasco
Torcida do Vasco lotou a Arena Amazônia contra o Oeste, mas clube não levou um centavo Imagem: Marcelo Sadio / Site oficial do Vasco

Bruno Braz

Do UOL, no Rio de Janeiro

18/09/2014 06h03

O Oeste, clube de Itápolis, no interior de São Paulo, voltou para sua cidade feliz da vida nesta quarta-feira. Com uma modesta renda média de pouco mais de R$ 5 mil nos jogos em seu estádio, o time paulista atingiu inimagináveis R$ 1,1 milhão ao ser mais uma equipe da Série B a aceitar o lucrativo, garantido e já corriqueiro negócio de alterar seu mando contra o popular Vasco da Gama para uma das Arenas da Copa do Mundo.

Esta foi a quinta mudança de local em partidas em que o Cruzmaltino atuou como visitante, além de dois jogos pela Copa do Brasil em que a mesma situação ocorreu. Na maioria delas, o convite parte dos próprios consórcios que administram o estádio, cientes de que os cariocas atraem público e geram lucro certo.

E se as empresas e os clubes de menor expressão sorriem de orelha à orelha com o mecanismo, respaldados pelo regulamento, que permite a alteração com até dez dias antes da data do confronto, o Vasco não está nem um pouco satisfeito. Além de não receber um centavo, o clube reclama de gastos exorbitantes com a logística e do desgaste físico gerado pelas longas viagens.

“Às vezes, o torcedor acha que vale essa mudança, mas o benefício é zero. Só temos despesas. Quem paga esses excedentes é o próprio Vasco. Contra o Oeste, por exemplo, tivemos um prejuízo de quase R$ 100 mil”, alega ao UOL Esporte o diretor-executivo vascaíno Rodrigo Caetano, que disse já ter procurado a CBF para que se crie um mecanismo que respalde mais os clubes de massa nestas situações.

Sem ter culpa alguma na insatisfação criada no Vasco, o Oeste só tem motivos para ter certeza de que tomou a medida certa. Com um público médio de apenas 334 pagantes em Itápolis, ele acumula uma receita líquida negativa em todos os jogos da Série B até aqui, o que totaliza um prejuízo de R$ 143.635,04. Com a renda milionária garantida no duelo em Manaus, que contou com 26.621 pagantes, não só quitará esta conta como a dos futuros, e praticamente certos, déficits como mandante até o fim da competição. O “troco” ainda servirá para garantir quase que integralmente a folha salarial até dezembro.

“A Arena Pantanal (Cuiabá) também nos procurou, mas fizemos uma pesquisa e optamos pela Arena Amazônia. Houve uma abertura, o público foi bom e acabou valendo a pena. Deu uma boa renda. Tem que saber aproveitar”, disse Mauro Guerra, diretor de futebol do Oeste, sem se importar com a distância de 2.387 km que liga Itápolis a Manaus.

Na opinião de Rodrigo Caetano, porém, o Vasco está sendo, literalmente, usado pelos clubes da Série B e pelos consórcios.

“Os promotores desses eventos já viram que é muito melhor negociar com um time de menor investimento do que com o Vasco, pois sabem que dificilmente iremos tirar o jogo do Rio, já que priorizamos a parte técnica. Então, eles vão cobrar o preço que vale a marca do Vasco. Eles usam totalmente o Vasco”, reclama.

O diretor-executivo espera que esta nova situação, criada após a construção das Arenas e vivida pelo Cruzmaltino nesta Série B, sirva como exemplo para mudanças no regulamento.

“Nada contra as praças e nem tão pouco contra os torcedores, mas é lamentável que o Vasco arraste essa multidão e fique no prejuízo.  Espero que talvez, para o próximo ano, isso sirva de exemplo para que haja uma proteção no regulamento em que o visitante que carrega a torcida, tenha algum tipo de benefício”, argumenta.

Apesar de toda a reclamação, são grandes as chances de o Vasco novamente presenciar uma alteração no local de jogo como visitante. A Portuguesa, que inicialmente tem o confronto com o Cruzmaltino marcado para o Canindé, em São Paulo, já estuda a possibilidade de transferi-lo também para a Arena Amazônia, em Manaus.

Veja abaixo os sete jogos com locais alterados com o Vasco como visitante:
3/4/2014 – Copa do Brasil – Resende 0 x 0 Vasco – Arena Amazônia (Manaus)

26/4/14 – Série B – Luverdense 2 x 1 Vasco – Arena Pantanal (Cuiabá)

9/8/14 – Série B - ABC 1 x 2 Vasco – Arena das Dunas (Natal)

19/8/14 – Série B - Vila Nova 2 x 1 Vasco – Mané Garrincha (Brasília)

2/9/14 – Copa do Brasil - ABC 2 x 1 Vasco – Arena das Dunas (Natal)

13/9/14 – Série B – Atlético-GO 1 x 1 Vasco – Mané Garrincha (Brasília)

16/9/14 – Série B – Oeste x Vasco – Arena da Amazônia (Manaus)