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A situação da Portuguesa não é boa. Sobrou até para a imagem da santa

Wagner Carmo/VIPCOMM
Imagem: Wagner Carmo/VIPCOMM

Luis Augusto Símon

Do UOL, em São Paulo

10/10/2014 06h00

Com histórias que vão do campo ao vestiário e que envolvem até acusações de santas quebradas, a Portuguesa vai caminhando a passos largos para a Série C do Campeonato Brasileiro. Com 47 jogadores no elenco e três vitórias em 28 jogos na segunda divisão, a equipe paulista teve este ano cinco técnicos e três vice-presidentes de futebol. Está em último lugar, e a esperança de não cair para a Série C é apenas esperança.

A decadência do clube – só caiu no ano passado após punição no STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) por haver usado o jogador Héverton de maneira irregular na última rodada – pode ser entendida através de pequenas histórias e acusações.

O chute na santa

Em agosto, os ouvintes da Equipe Líder, que faz acompanhamento diário da Portuguesa há décadas, foram surpreendidos pelo relato indignado do jornalista Alexandre Barros, que é conselheiro do clube. Ele contou que Cláudio Santiago, novo vice-presidente de futebol, como primeiro ato, havia, em atitude violenta, jogado na lata de lixo as imagens de Nossa Senhora de Fátima, Nossa Senhora Aparecida, Santa Rita de Cássia e São Judas Tadeu que adornavam a sala.

A revelação causou furor entre a torcida, predominantemente católica e descendente de portugueses. O presidente Ilídio Lico desmentiu e mostrou uma foto com as imagens intactas na sala de Santiago. “A história é verdadeira. Uma faxineira levou uma das imagens para casa e consertou com cola. O Ilídio comprou santos novos para fingir que nada aconteceu”, diz Alexandre Barros.

Cláudio Santiago desmente. “Eu sou evangélico, mas sei respeitar outras religiões. Não fiz nada contra imagem alguma”.

Revólver e Suborno

Claudio Santiago desmente também que tivesse sido ameaçado pelo zagueiro Valdomiro com um revólver após tentar reduzir o salário do jogador. E que tenha recebido dinheiro para exigir a escalação do meia Marcus Vinícius, da Lemense. 

"A Portuguesa recebia R$ 25 milhões na Série A, entre cotas da televisão e patrocínios. Quando caiu para a B, o dinheiro diminuiu para R$ 2,8 milhões. Então, era preciso cortar. Fizemos isso, mas não teve nada de revolver envolvido". Valdomiro também desmente. "Eu sou um profissional correto, não sou homem de 1800, não uso revólver".

Alexandre Barros lança outra luz sobre o caso. "Não houve revólver algum. O Santiago inventou a história para poder demitir o Valdomiro por justa causa. Ninguém acreditou, e o Valdomiro continua no clube até hoje".

 Cláudio Santiago, diante de mais acusações, pede trégua. "Me esqueçam. Não recebi dinheiro de ninguém. Sou honesto. Fiz o que pude na Portuguesa, comigo o time saiu de dois pontos e chegou a 15. Em vez de me criticar, é preciso união para salvar o clube".

Falta de dinheiro impede a barca

A situação financeira da Portuguesa é terrível. O clube já antecipou todas as cotas possíveis do ano. Para evitar atrasos salariais, recorreu a Luís Iaúca, velho mecenas. Mesmo assim, não há certeza de pagamentos a partir de outubro. Para dispensar jogadores, é preciso fazer acordo antes para que não haja novas ações trabalhistas. Como não há dinheiro, o enxugamento do elenco não vem. “Do jeito que está, é difícil treinar. Tem muita gente”, diz o técnico Benazzi.

Mascote que vira gandula

A contenção de despesas passa pela ausência de gandulas. O trabalho é feito por torcedores, recrutados antes das partidas. Em uma delas, José Carlos Leal, que faz o papel da mascote do clube, tirou a fantasia e fez jornada dupla como gandula. Sem receber nada.

Empresários "atuantes"

Manuel da Lupa, ex-presidente, fez um acordo com a empresária Gisleine Nunes, que representava jogadores em litígio com o clube. A Portuguesa pagaria R$ 300 mil mensais por 18 anos. Depois do sétimo ano, começou a atrasar. Em gesto de “boa vontade”, o clube passou a receber jogadores agenciados por ela.

Assim, vieram o zagueiro colombiano Rafael Perez, o volante uruguaio Bruno Piñatares e o atacante Bryan Aldave, também uruguaio. E os atacantes Jânio e Jô Fernandes, conhecido por ser irmão de Mario Fernandes, o lateral que recusou a seleção com Mano Menezes e foi resgatado por Dunga.

Manuel da Lupa processa

O Conselho Deliberativo fez uma sindicância interna para definir de quem era a culpa pela escalação irregular de Heverton, que definiu a queda da Portuguesa. Marcou, então, uma reunião para que Roberto Santos, ex-vice-presidente de futebol e Manuel da Lupa, ex-presidente que respondia pelo departamento jurídico, pudessem fazer sua defesa.

Santos preparou-se e foi surpreendido pelo adiamento da sessão, graças a um pedido de Manuel da Lupa, respaldado por um atestado médico. Marcada nova sessão, foi impedido por uma liminar concedida a Da Lupa. Ele, suspeito de haver “vendido o clube”, resolveu abrir um processo por danos morais. Pede R$ 50 mil.

A base se recusa a jogar

Na série C, o clube recebe seis cotas mensais de R$ 100 mil. Como manter um time assim? A ideia é recorrer à base, mas o medo é grande. E o exemplo citado é o volante Dejair.

Com 18 anos, foi escalado por Argel, um dos cinco treinadores do ano, na quarta-zaga. Agradou e foi procurado para renovar o contrato, que vai até o final de 2015. A Ganhava R$ 800 e recebeu oferta de R$ 8 mil mensais. Recusou-se a assinar. Disse que não queria ficar preso e que assinaria um pré-contrato com outro clube assim que a lei permitisse. Ou seja, esperava fazer da Portuguesa uma vitrine para sair de graça após um ano. Foi afastado e treina no sub-15.

Ovo não aguenta pedra

Valdomiro, capitão do time, ainda se recuperando de contusão, olha para trás e define a saga da Portuguesa com um exemplo pitoresco.
“O que acontece se um ovo bater em uma pedra? O ovo se espatifa. E se uma pedra bater em um ovo? O ovo espatifa. O ovo sempre se dá mal. Faltou maturidade e inteligência para a diretoria da Portuguesa que foi brigar com CBF e Fluminense. Eles são pedra, e a Portuguesa é ovo. Precisava ter negociado uma verba intermediária e ficado na Série B. Agora, estaria lutando pela Série A e não com um pé na C.”