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Mancini vê dois tipos de técnico no Brasil: o que já caiu e o que vai cair

Vágner Mancini está há quatro meses no cargo; Sérgio Soares há nove - Montagem/UOL
Vágner Mancini está há quatro meses no cargo; Sérgio Soares há nove Imagem: Montagem/UOL

Marcello De Vico

Do UOL, em Santos (SP)

05/10/2015 06h00

O cenário atual no Brasil não é nada animador para os treinadores. Muito tem se falado sobre a necessidade de manter o técnico para obter resultados positivos a médio e longo prazo, mas poucos clubes seguem esta escrita. Só na Série A de 2015 foram 24 quedas de treinadores, sendo a última delas de Milton Mendes, ex-Atlético-PR.

A situação incomoda os técnicos, mesmos os que conseguem se manter por algum tempo no cargo. Casos de Vágner Mancini, no Vitória, e Sérgio Soares, no Bahia. O primeiro já está há mais de quatro meses no comando, marca considerável para o cenário atual no Brasil. Já o segundo é um dos ‘recordistas’ no país, sendo que chegou ao Tricolor em dezembro de 2014.

Mesmo assim, ambos mostram-se preocupados com o pensamento a curto prazo dos dirigentes dos clubes brasileiros, e sabem que qualquer sequência negativa de resultados podem lhes custar o emprego. Vágner Mancini vai além, e expõe uma simples (mas real) ideia sobre o que os técnicos enfrentam no Brasil.

“No Brasil temos dois tipos de treinadores: o que já caiu e o que vai cair”, analisa Mancini em entrevista ao UOL Esporte. “Todo mundo sabe que o ideal seria segurar o técnico para ter tempo de ser cobrado e ter resultado. Mas a nossa cultura atrapalha. A segurança do treinador depende de dois fatores, vitórias e um dirigente de pulso, que não ceda à pressão e isso é muito raro”, lamenta o técnico.

Apesar de estar há mais de nove meses no cargo, Sérgio Soares mostra-se com o mesmo pensamento de seu colega de profissão. E também vê na cultura brasileira um problema para os técnicos.

“A pressão vai sempre existir, até porque ela é cultural. Mas o mais importante é que a diretoria dentro do ambiente interno saiba suportar essa pressão e confie no trabalho, siga dentro do projeto e da filosofia que foi alinhada com o treinador. Temos um dos melhores ataques do Brasil e mesmo assim há pressão, mas a diretoria segue firme e confiante no trabalho”, declara Sérgio Soares.

Para o técnico tricolor, os exemplos dados por alguns clubes, como Corinthians, Atlético-MG e Sport, seguido de resultados expressivos desses times, pode ajudar a mudar o cenário no Brasil.

“Acredito que a manutenção dos treinadores e do projeto é que vai fazer o futebol brasileiro realmente dar uma mudada. O Tite, no Corinthians, o Levir [Culpi], no Atlético-MG, e até o Eduardo [Baptista] que ficou muito tempo no Sport mostram isso.  Estou há dez meses no Bahia e nesse tempo chegamos à final do Estadual, à final da Copa do Nordeste, disputamos Copa do Brasil, a Sul-Americana e estamos brigando pelo G-4 da Série B. Essa continuidade é fundamental para que você possa ter resultado”, garante.

“Essa é a tendência e espero que mais clubes façam dessa forma. Mas sei que ainda vamos sofrer um pouco nesse sentindo por conta da cultura que vai contra essa manutenção”, completa.