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Mistério e briga fora de campo agitam final da Copa do Brasil

Do UOL, em Belo Horizonte

11/11/2014 22h13

Quando Atlético-MG e Cruzeiro eliminaram Flamengo e Santos, na semana passada, garantindo a inédita final de Copa do Brasil, os torcedores dos dois rivais mineiros certamente não esperavam que as polêmicas em torno da organização da decisão ofuscassem as verdadeiras estrelas do espetáculo. Na véspera do primeiro clássico decisivo, as possíveis escalações dos times, as discussões sobre esquemas táticos e prováveis surpresas preparadas por Levir Culpi e Marcelo Oliveira ficaram em plano secundário.

Já no dia seguinte ao fim da semifinal, na última quinta-feira, a polêmica começou com a definição atleticana de que mandaria seu jogo no Independência, ao contrário dos confrontos contra Corinthians e Flamengo, ambos vencidos por 4 a 1, e de virada, que foram no Mineirão. Começava a morrer ali a acalentada decisão em dois jogos no Gigante da Pampulha, com torcidas divididas, meio a meio, nas duas partidas. O sorteio na CBF que apontou o confronto decisivo com mando celeste esquentou ainda mais o clima.

Com a decisão atleticana de jogar no Independência, iniciou-se o acalorado debate sobre a carga de ingressos para os visitantes. Cogitou-se no primeiro momento, a tese da torcida única. O Cruzeiro chegou a informar que a exemplo dos clássicos anteriores, disputados este ano, abriria mão dos 10% previstos em regulamento. Como o Atlético insistiu em ter o seu quinhão no jogo da volta, em 26 de novembro, a diretoria celeste mudou de ideia, passando a exigir a sua parte.

A polêmica estava apenas começando. Na sexta-feira, em reunião para discutir detalhes do primeiro clássico, os dois clubes se apresentaram munidos de laudos diferentes sobre a capacidade de público no Independência. Além disso, o presidente celeste, Gilvan de Pinho Tavares, acusou Alexandre Kalil, mandatário atleticano, por não ter cumprido acordo firmado, recebendo no dia seguinte uma resposta em tom igualmente exaltado.

Após ligeira pausa no final de semana para os jogos dos dois times pelo Brasileirão, ambos com vitórias sobre Palmeiras e Criciúma, por 2 a 0 e 3 a 1, respectivamente, a semana do primeiro jogo da decisão começou quente. O impasse sobre a divisão de ingressos durou toda a segunda-feira, sem definição nas reuniões realizadas.

No início da noite de segunda-feira, Atlético-MG enviou ofício ao Cruzeiro informando que disponibilizou 10% da carga de ingressos para o visitante de 2.219 entradas, mas só poderá comercializar 1.871 bilhetes, por uma questão de segurança, determinada pela Polícia Militar de Minas Gerais. Nesse documento, o alvinegro mineiro fixava prazo até às 13h para a compra dos bilhetes pelo oponente. O clube atleticano não aceitou liberar outro setor para receber os cruzeirenses.

O Cruzeiro, por sua vez, seguiu defendendo o número de 23.318 como capacidade do Independência, o que significaria 2.301 entradas. A definição foi adiada para esta terça-feira. Sem acordo entre as duas diretorias, o Comando da PM mineira informou que trabalha com carga de 1.871 lugares para visitantes, disponibilizada pela diretoria atleticana e não com 2.302 como queria o clube celeste.

Após a oficialização da posição da PMMG, o Cruzeiro divulgou nota em que informa ter aberto mão da carga de 10% dos ingressos de visitantes na primeira partida da decisão da Copa do Brasil. O clube celeste acusou o rival Atlético-MG de manobra e de não cumprir o Regulamento Geral das Competições e também por retardar a entrega dos bilhetes, que, de acordo com o Estatuto do Torcedor, teriam de ser colocados à venda 72 horas antes do jogo.

“A diretoria lamenta ainda que nossa torcida não possa comparecer ao primeiro jogo da final devido às manobras da diretoria do Atlético Mineiro”, disse a nota do Cruzeiro. Pouco tempo depois, a diretoria atleticana colocou os ingressos que seriam do torcedor adversário à venda, o que se esgotou rapidamente.

O imbróglio, no entanto, está longe de ser encerrado. O Cruzeiro fala em cumprimento do regulamento para o jogo do dia 26, mas adia uma definição sobre os ingressos para os atleticanos, no Mineirão. Além disso, em rápida conversa com o UOL Esporte, nesta terça-feira, o procurador-geral do STJD, Paulo Schmitt, revelou que o episódio pode terminar em punição ao Atlético.

“Qualquer situação envolvendo torcedor, hoje, no futebol, pode acarretar em punição. Mas nós vamos esperar o Cruzeiro entrar com uma representação contra o Atlético”, afirmou Schmitt. Dessa forma, há possibilidade concreta que o clássico histórico, por marcar a primeira decisão nacional entre os dois grandes mineiros, acabe no Tribunal.

Mistério dos dois lados

Polêmica fora de campo, mistério dos dois lados na montagem das equipes de Atlético e Cruzeiro. Na Cidade do Galo, Levir Culpi comandou atividade tática sem a presença da imprensa, nesta terça-feira. Os titulares com isso, só serão revelados já no vestiário do Independência. Os jornalistas entraram no CT apenas quase 40 minutos do horário inicialmente previsto. 

A grande preocupação da comissão técnica nos dois dias de preparação foi em relação ao desgaste físico dos atletas. Na segunda-feira, cinco atletas foram poupados: os meias-atacantes Dátolo, Diego Tardelli, Luan, Maicosuel e o volante Leandro Donizete. Segredos à parte, a tendência é que o time titular não tenha grandes novidades. O esquema tático segue incerto. Levir poderá optar por dois volantes ou cinco homens de meio e ataque, com apenas um atleta de contenção: Leandro Donizete ou Josué

O Cruzeiro também adotou a postura de trabalhar em silêncio. Os jogadores, na véspera da primeira partida da decisão, fizeram um treino recreativo com a presença de dois titulares apenas: Lucas Silva e Marcelo Moreno. O restante do grupo ficou na academia, fazendo exercícios físicos. 

A escalação, nesta quarta-feira, deve ser muito semelhante às utilizadas por Marcelo Oliveira nos compromissos mais recentes. A única possibilidade de mudança ocorre na defesa. Bruno Rodrigo, ainda sem o ritmo ideal, pode ser substituído por Manoel, recém-recuperado de uma pancada na coxa esquerda.