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Pressionado, Muralha é só mais um a não se firmar no Fla desde Bruno

Muralha é o centro das atenções antes da decisão da Copa do Brasil contra o Cruzeiro - Gilvan de Souza/ Flamengo
Muralha é o centro das atenções antes da decisão da Copa do Brasil contra o Cruzeiro Imagem: Gilvan de Souza/ Flamengo

Vinicius Castro

Do UOL, no Rio de Janeiro

26/09/2017 04h00

Alex Muralha tem uma responsabilidade e tanto nas mãos para a próxima quarta-feira (27), às 21h45 (de Brasília), no Mineirão. Por conta daquelas coincidências do destino, o camisa 38, longe da melhor fase na carreira, terá de superar obstáculos e um peso de sete anos na Gávea para ajudar o Flamengo na missão de conquistar o tetracampeonato da Copa do Brasil contra o Cruzeiro.

Contar a história do hoje questionado Muralha sem citar o drama do Rubro-negro com jogadores da posição é como esquecer uma peça na montagem do quebra-cabeça. A pressão que o titular na decisão sofre de um tempo para cá não é novidade. Faz parte do dia a dia do Flamengo desde a prisão do goleiro Bruno, em 7 de julho de 2010.

Condenado pelo assassinato de Elisa Samudio, o então camisa 1 era ídolo da torcida e uma referência do elenco. Foi assim que ergueu a taça do hexacampeonato brasileiro em 2009. Bruno parecia cada vez mais perto da seleção brasileira quando o crime causou impacto nacional e deixou o Flamengo com um drama difícil de solucionar.

Com fama de pegador de pênaltis, Diego Alves foi contratado recentemente para tentar, enfim, preencher a lacuna. Ainda não deu tempo. E o fato de não poder atuar na Copa do Brasil, pois chegou após o encerramento das inscrições, comprometeu momentaneamente qualquer objetivo.

Goleiro Bruno repõe uma bola durante treinamento do Flamengo - Maurício Val/VIPCOMM - Maurício Val/VIPCOMM
Hoje preso, o goleiro Bruno foi a última referência do Flamengo na posição de goleiro
Imagem: Maurício Val/VIPCOMM
Alex Muralha é só mais um que passou pela meta sem o sucesso esperado. Desde Bruno, outros cinco defenderam o Flamengo: Marcelo Lomba, Felipe, Paulo Victor, César e Thiago. Alguns tiveram mais sucesso, mas nenhum deles virou ídolo e incontestável.

Para Marcos Braz, vice-presidente de futebol campeão brasileiro em 2009, a questão vai além. Ele conviveu muito com Bruno e era diretor do clube quando o goleiro foi contratado, em 2006.

“A pressão extra pela forma como ele saiu de cena foi muito forte no primeiro ano, mas esse prazo passou. Quem mais sofreu com isso foi o Marcelo Lomba, ali o negócio foi grande mesmo. Não pode ser mais desculpa. O clube teve tempo suficiente para se planejar e fazer um bom goleiro”, afirmou o atual vice-presidente do Conselho de Administração Rubro-negro.

“De fato, o Bruno foi o último ídolo do Flamengo na posição. Só que treinava muito, era acima da média e foi determinante em diversos títulos. Protagonista mesmo. Depois dele, alguns goleiros chegaram com expectativa acima da realidade. Isso é um problema no Flamengo. Sempre foi. O Diego Alves ainda não teve tempo. Vamos aguardar”, completou.

Muralha chegou ao Flamengo no ano passado depois de se destacar no Figueirense. Acima da média no começo, ganhou o carinho da torcida e foi convocado para a seleção, mas viu a fase mudar drasticamente nos últimos meses. Apontado como vilão na eliminação da Copa Libertadores, ele perdeu lugar para o reserva Thiago e viu a diretoria buscar Diego Alves no exterior. Para piorar, ficou marcado na eliminação da Primeira Liga, quando o Jornal Extra até anunciou que não o chamaria mais de "Muralha". 

O episódio despertou solidariedade da torcida e do elenco, que viram no ato uma "humilhação" ao profissional. Ele, ainda assim, acompanhou a primeira final do banco. Thiago falhou no gol de empate do Cruzeiro no Maracanã, mas nem isso garantia a presença de Muralha no jogo decisivo. Uma lesão do jovem colega de posição, no entanto, abriu caminho. 

Cercado de desconfiança, Muralha chega como um dos personagens mais importantes da decisão. Ao que tudo indica, perderá espaço para Diego Alves independentemente do que fizer em campo. Ainda assim, é ele que tem a missão de, mais uma vez, superar a sombra de Bruno no gol do Flamengo.