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Nova eliminação mostra que evoluir não basta ao SP: é preciso vencer

Bruno Grossi e José Eduardo Martins

Do UOL, em São Paulo (SP)

20/04/2018 04h00

A torcida do São Paulo vinha se acostumando, a contra gosto, a ver seu time eliminado para rivais ou clubes de menor expressão sem mostrar qualquer poder de reação. Equipes sem sangue, apáticas e ingênuas, muitas vezes. Do ano passado para cá, entretanto, parte desse cenário foi alterado. As eliminações continuaram a ferir o moral dos torcedores, é verdade, mas em desempenho, espírito e perspectiva o Tricolor conseguiu  mudar. O problema é que isso não tem bastado. Prova é que a palavra "evolução" se tornou indesejável no clube, que perdeu na última quinta-feira mais uma chace de sair da fila de seis anos sem títulos ao cair para o Atlético-PR na quarta fase da Copa do Brasil.

Os são-paulinos das arquibancadas e das redes sociais viram Rogério Ceni e Dorival Júnior pregarem à base desse termo. Afinal, viam crescimento no trabalho diário, na implantação de seus estilos jogo. Só que dirigentes, conselheiros e torcedores passaram a se irritar com essa fé. O time de fato evoluía? Quanto tempo mais seria necessário para a evolução se transformar em resultados? Para piorar, falar em evolução após fracassos em clássicos ou desclassificações soava como uma visão fora da realidade.

Por isso houve decepção de boa parte da torcida quando Ceni, que sempre sentiu tanto os problemas enquanto jogador, não viu como vexame ser eliminado pelo modesto Defensa y Justicia na Copa Sul-Americana do ano passado. A revolta ofuscou as quedas com perspectiva no Campeonato Paulista e na Copa do Brasil, semanas antes, em 2017. Com Dorival, o mau início do Estadual deste ano deixou esquecida a ascensão durante o Campeonato Brasileiro passado, quando a equipe figurou entre os líderes do segundo turno e escapou do rebaixamento.

Diego Aguirre chegou ciente dessa aversão dos torcedores. Sabia que o tempo era escasso até para discursos de "trabalho", com a sequência de jogos eliminatórios no Paulistão, na Copa do Brasil e na Copa Sul-Americana. O São Paulo do uruguaio se tornou mais cascudo, não esmoreceu para o rival Corinthians, papa-títulos dos últimos anos, equilibrou com a sensação Atlético-PR, mas isso não basta mais para o clube. O técnico mesmo reconhece, a ponto de se recusar a fazer qualquer elogio após a queda da última quinta.

Há um fardo por esses fracassos impotentes, que tornam as falhas valentes sem peso. Resultado de um titulo em dez anos e três lutas para não cair no Brasileirão. "A realidade é essa. Mas não podemos deixar que isso influencia os jogadores de hoje. O que acontece é que temos que cortar isso e pensar em reverter essa situação adversa", opinou Aguirre.

Sidão, seu goleiro titular e capitão, foi o único a falar na saída do Morumbi após mais uma eliminação e manteve o raciocínio duro. "A gente não pode mais falar a mesma coisa, que está evoluindo, isso todos enxergaram. A hora é de dar resultado. Perdemos mais uma, fomos eliminados de novo. Fazer um grande Brasileiro é obrigação, assim como a Sul-Americana. Não tem mais desculpa. São anos sem brigar por um título e sobra para a gente, jogadores atuais. Temos que entender essa responsabilidade e trazer um titulo ainda neste ano. Temos que aceitar e quem está com a camisa agora é o responsável por mudar tudo isso", cobrou.

Recém-contratado do Flamengo por R$ 15 milhões, Everton é um símbolo dessa tentativa tricolor de expurgar seus fantasmas. Comprar um titular de uma equipe de alto escalão, por tamanha quantia, mostra um desejo de se impor no mercado, reflexos da recuperação financeira do clube e que não há mais espaço para certo "coitadismo" sobre o elenco. O plantel não é mais curto, não é mais ingênuo, não é mais carente de referências. 

Na temporada passada, o percurso do São Paulo foi semelhante, com perspectivas positivas em eliminações, um elenco qualificado e um técnico elogiado. Entre a queda para o Defensa e o início do Brasileirão, jogadores falavam em conquistar o título nacional. Agora, falam em obrigação por uma taça na temporada. Até Everton salientou a tese. Resta de novo a longa e complicada Série A, com uma ingrata pausa para a Copa do Mundo, e resta a Sul-Americana. Em 9 de maio, no Morumbi, o Rosario Central precisa ser derrotado para mais uma vez a evolução não morrer no quase.