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No duelo da "espanholização", Fla x Corinthians segue longe de Real x Barça

Flamengo e Corinthians iniciam a busca por uma vaga na final da Copa do Brasil 2018 - Thiago Ribeiro/AGIF
Flamengo e Corinthians iniciam a busca por uma vaga na final da Copa do Brasil 2018 Imagem: Thiago Ribeiro/AGIF

Dassler Marques e Vinicius Castro

Do UOL, em São Paulo e no Rio de Janeiro

12/09/2018 04h00

Em abril, o presidente corintiano Andrés Sanchez dizia, a quem quisesse ouvir, que tinha em seu WhatsApp confirmações de que o Flamengo havia oferecido R$ 1 milhão mensais para que Fábio Carille, então treinador, trocasse o Parque São Jorge pela Gávea. A história jamais foi confirmada por dirigentes rubro-negros, mas reforçou um sentimento: o incômodo no Corinthians, em situação financeira complicada, pela força de seu principal concorrente na luta pelas melhores receitas do futebol brasileiro.

Nesta quarta-feira (12), em uma semifinal de Copa do Brasil marcada por intensa disputa nos bastidores, o Maracanã recebe Flamengo x Corinthians, às 21h45 (de Brasília), com a impressão de que a "espanholização" alarmada desde 2012 ainda é um fenômeno longe da realidade dos dois clubes de maior torcida no Brasil. Uma distância calculada a partir das peculiaridades de ambos. Seja no futebol ou no campo administrativo.

Se recentemente o Flamengo desembolsou cerca de R$ 45 milhões para adquirir Vitinho, o reforço mais caro de sua centenária história, o Corinthians vive situação oposta. Na véspera da decisão no Rio de Janeiro, o balancete do clube mostrou que a dívida, que não para de subir, superou a marca de R$ 500 milhões. Essa tendência de alta entre rubro-negros e queda entre alvinegros, porém, não se refletiu de forma tão clara dentro das quatro linhas.

Desde 2015, quando adotou um discurso maior de recessão e reduziu os investimentos principalmente na aquisição de jogadores, o Corinthians conseguiu dois títulos do Brasileirão e mais dois do Paulista. No mesmo período, com a emblemática aquisição de Guerrero que era ídolo corintiano, o Flamengo não conseguiu reverter a sua bonança financeira em grandes conquistas. O único título foi o Estadual do Rio, em 2017.

Fla aposta em estrelas. Corinthians tenta comprar na baixa

Vitinho - Buda Mendes/Getty Images - Buda Mendes/Getty Images
Vitinho se tornou a contratação mais cara da centenária história do Flamengo
Imagem: Buda Mendes/Getty Images
Com boa parte dos problemas financeiros equacionados, o Flamengo abriu os cofres nos últimos anos com o objetivo de conquistar títulos de expressão. A Copa do Brasil, inclusive, é uma das últimas chances da gestão para isso, já que o clube passará por eleições em dezembro.

O plano rubro-negro para somar taças foi claro desde o início. A busca é por jogadores de nome, que entrem no time com força e poder de decisão. Foi assim na estratégia com Paolo Guerrero, Diego, Everton Ribeiro, Diego Alves e Vitinho.

Para se ter uma ideia, apenas recentemente o clube gastou R$ 22 milhões com Everton Ribeiro, pagou mais de R$ 43 milhões ao peruano Guerrero em três anos de contrato, comprou Vitinho por quase R$ 45 milhões e ainda investiu R$ 15,7 milhões em Henrique Dourado. O colombiano Uribe receberá mais de R$ 26 milhões do clube.

Já a estratégia do Corinthians tem sido cada vez mais adquirir jogadores baratos, principalmente emergentes, para tentar encontrar novos modelos de Cássio, Paulinho, Felipe, Romarinho e Rodriguinho, casos de sucesso em nomes que chegaram ao clube por valores relativamente baixos, cresceram gradualmente e se tornaram referências.

Nas montagens de seus elencos mais recentes, o Corinthians priorizou, muito pela dificuldade financeira atual, jogadores sem custos, como Danilo Avelar, Jonathas, Roger e Sergio Díaz, e só direcionou investimentos para aqueles com potencial de revenda. Casos do volante Douglas, ex-Fluminense e que será titular no Rio, e do chileno Araos, opção de banco para Jair Ventura.

Bandeira e Andrés: rivais com perfis muito diferentes

Andrés - Daniel Vorley/AGIF - Daniel Vorley/AGIF
Andrés Sanchez é um dos principais personagens no tema "espanholização"
Imagem: Daniel Vorley/AGIF
Um dos principais mentores da negociação individual de direitos de transmissão, Sanchez é um personagem importante no tema "espanholização". Foi por iniciativa dele que, a partir de 2012, os clubes passaram a tratar diretamente com a Globo e demais emissoras. O efeito disso, além do fim do Clube dos 13, foi a ascensão das receitas e uma fatia maior do bolo para Flamengo e Corinthians, que juntos ficam com cerca de 20% dos valores do Brasileirão.

Embora se posicione como oposição da CBF, e tenha votado contra a eleição de Rogério Caboclo ao lado de Eduardo Bandeira de Mello, Andrés mantém relação próxima com a entidade que já declarou inúmeras vezes ter interesse em dirigir. Há cerca de dez dias, o secretário geral Walter Feldman visitou o CT Joaquim Grava, nova mostra de um contato cordial entre as partes.

Com Sanchez como principal liderança, e presidente em dois mandatos, o Corinthians notou nos últimos 11 anos a ascensão de sua dívida e a redução na capacidade de investir em novos atletas. Dois fatores reduziram o investimento: o parcelamento de impostos não pagos por Andrés e Gobbi durante seus mandatos para evitar que os dirigentes fossem processados e o envio de receitas de bilheteria para ajudar no pagamento da Arena Corinthians, que em 2017 também consumiu dinheiro dos cofres.

Já o rival Eduardo Bandeira de Mello segue em um combate ferrenho contra a CBF e julga que o Flamengo é prejudicado em uma série de pontos. O cartola, no entanto, tem perfil oposto ao de Andrés. Ultimamente, porém, o comportamento tem sido mais arredio em meio ao clima de pressão no futebol do clube.

Em fim de mandato, preocupado em eleger o vice de futebol Ricardo Lomba em dezembro e também postulante ao cargo de deputado federal, Bandeira tem sido criticado por boa parte da torcida, que já demonstrou a insatisfação com xingamentos no Maracanã.

O encanto inicial não é mais o mesmo. O fato é que dirigentes e jogadores chegam pressionados em uma semifinal de Copa do Brasil que será decisiva no fim de ano dos clubes. Independentemente do resultado, um ponto é definitivo: a dita "espanholização" ainda está longe de acontecer.

FLAMENGO X CORINTHIANS

Data/hora: 12/09/2018, às 21h45 (de Brasília)
Local: Maracanã, no Rio de Janeiro
Árbitro: Braulio da Silva Machado (SC)
Auxiliares: Kleber Lucio Gil (SC) e Guilherme Dias Camilo (SC)

Flamengo
Diego Alves; Rodinei, Réver, Léo Duarte e Renê; Cuéllar (Romulo), Lucas Paquetá (Willian Arão), Diego, Everton Ribeiro e Vitinho; Henrique Dourado (Uribe)
Técnico: Maurício Barbieri

Corinthians
Cássio; Fagner, Léo Santos, Henrique e Avelar; Ralf, Gabriel e Douglas; Jadson, Romero e Clayson
Técnico: Jair Ventura