Recorde, homenagem a atropelado e redenção de "vítimas de empresários" marcam jogo de várzea no Pacaembu

Bruno Doro

Do UOL, em São Paulo

  • Milton M. Flores / UOL

    Jogadores do Turma do Baffo comemoram com a torcida após chegar à final da Copa Kaiser

    Jogadores do Turma do Baffo comemoram com a torcida após chegar à final da Copa Kaiser

No próximo domingo, o Pacaembu vai receber muito mais do que um jogo de futebol. Quando Ajax, da Vila Rica, e Turma do Baffô, do Jardim Clímax, entrarem em campo para decidir a Copa Kaiser, o principal torneio de futebol amador da cidade, uma série de personagens do futebol de várzea estará, também, sendo homenageada.

Torcedores e o recorde

Desde que o Pacaembu foi escolhido para receber a final da Copa Kaiser, comentários nos terrões preveem um público recorde para a partida. Pensando nisso, a cervejaria patrocinadora do torneio resolveu oficializar essa marca. A Heineken (que é dona da marca Kaiser) contratou a RankBrasil, empresa especializada em homologar recordes brasileiros.

"Teremos dois fiscais no estádio no domingo, para aferir a torcida presente e estabelecer o recorde de público em uma final de campeonato amador. Nosso foco principal será observar as catracas, para ter uma amostragem do número de pessoas. Como não temos nenhum recorde anterior, o número de domingo será o recorde. Mas acredito que para a marca ter uma representatividade, precisamos de pelo menos 10 mil torcedores", explica Luciano Cadari, diretor da RankBrasil e um dos fiscais que vai ao Pacaembu.

Para garantir a festa, a organização vai fornecer duas grandes bandeiras para as torcidas dos dois times presentes e os próprios clubes já estão agindo para levar seus torcedores para o Pacaembu. O Ajax, por exemplo, fala em pelo menos 50 ônibus saindo da Vila Rica, na zona leste da cidade. O Baffô começou com a meta de dez ônibus, mas já dobrou esse número.

"Estamos trabalhando com 20 ônibus. E para garantir a festa teremos dez mil bexigas e um mosaico para a nossa torcida. O mais legal é que conseguimos unir duas torcidas rivais em torno da várzea. Temos gente da Gaviões, do Corinthians, e da Independente, do São Paulo, trabalhando juntos pela torcida do Baffô", comemora Claudio Rosa, presidente do time do Jardim Clímax.

Homenagem a atropelado

Em campo, a Turma do Baffô está preparando uma homenagem especial para um atleta que não entra em campo desde a primeira fase: o atacante Josenilton Ferreira, o Neguinho. No início do ano, ele foi para Campinas, a trabalho, e acabou atropelado. Quebrou as duas pernas, teve de corrigir as fraturas com operações e pinos. Mesmo de muletas, esteve na maioria dos jogos do Baffô na competição, torcendo pelos ex-companheiros.

"É uma história muito triste. O Neguinho era meu atacante titular, estava marcando gols, mas foi para Campinas de moto, caiu e um carro passou por cima. Mesmo assim, esteve sempre com a gente, dando apoio e torcendo. Tomara que ele volte a jogar bola. Mas estamos preparando uma homenagem no vestiário", diz o técnico da equipe, Juninho.

Vítimas de empresários

Outra atração da partida é a redenção de dois jogadores que tiveram problemas com empresários e, por isso, interromperam suas carreiras profissionais. Pelo Ajax, o personagem é o nigeriano Fred Odebe. Após passar pelas seleções de base de seu país, ele foi levado por um empresário para a Argentina. Logo depois, surgiu a oportunidade de jogar pelo Grêmio Prudente. Após os primeiros dias de testes, porém, ele foi dispensado. O elenco já estava fechado.

"Só que o empresário sumiu. E eu fiquei em São Paulo sem falar português e sem time", conta o zagueirão. A saída veio com o interesse do Ajax em seu futebol. Diretores da equipe da Vila Rica conseguiram um emprego para o jogador e, como retribuição, todo domingo o jogador mostra força e raça com a camisa amarela e preta.

Quem também estará dando uma resposta ao mundo do futebol é o meia Nenê, do Baffô. Considerado por alguns como o melhor da posição na Copa Kaiser 2012, ele ficou por quatro anos no Qatar sem poder estrear profissionalmente. "Eu sai da várzea de Diadema e fui direto para o Al Sadd. Eles gostaram do meu futebol, acabei assinando contrato. Mas como cheguei como amador, queriam que eu me naturalizasse, para não pegar uma vaga de estrangeiro. Só que o empresário pediu mais dinheiro para isso. Acabou não acontecendo", lembra Nenê.

Copa Kaiser de futebol amador
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