Atacante da várzea faz brincadeira e passa telefone para Mano: "Se quiser me convocar, tem o número"

Bruno Doro

Do UOL, em São Paulo

  • Milton M. Flores / UOL

    Uochiton entrega número de seu telefone para Mano Menezes, técnico da seleção brasileira

    Uochiton entrega número de seu telefone para Mano Menezes, técnico da seleção brasileira

O atacante Uochiton não fez a melhor partida de sua carreira, mas foi vital para o Ajax, da Vila Rica, neste domingo. Ele marcou, de pênalti, o primeiro gol de sua equipe e, com uma cobrança de escanteio, deu a assistência para o gol da vitória. Aproveitando a presença do técnico da seleção brasileira, Mano Menezes, na arquibancada, ele brincou e começou a campanha para ser convocado.

Os dois se encontraram ainda nos vestiários, antes da partida. E o atacante relembrou o primeiro encontro dos dois: "Quando eu fui artilheiro da Copa Kaiser, em 2010, o Mano brincou e pediu meu telefone, caso precisasse de um atacante. Agora foi a minha vez: como ele deve ter perdido o número da primeira vez, eu passei o meu número novo para ele. Assim, se ele quiser me convocar, já tem o número", disse, gargalhando, o atacante.

CONHEÇA UOCHITON BARAÚNA, O ARTILHEIRO DA VÁRZEA

Quando a Copa Kaiser começou, relatos de um atacante talentoso que estava chegando ao Ajax pipocavam pelos campos de terra. Quando a reportagem do UOL Esporte ouviu a conversa, logo se interessou. O nome do jogador em questão, porém, confundiu um pouco. "Washington?", foi a primeira pergunta. "Não, parceiro, é Uochiton. Com U, sem o W".

Foi assim que o atacante se apresentou. Uochiton Baraúna, 29 anos, jogador profissional da várzea. É engraçado, mas é a mais pura verdade. "Vivo do futebol de várzea mesmo. Durante a semana eu me cuido. Nos fins de semana, ganho para jogar", conta o atleta que defende seis times a cada temporada. Leia a matéria completa sobre o jogador.

COM MAIS DE 20 MIL NO PACAEMBU, AJAX LEVA PRIMEIRO TÍTULO DA COPA KAISER

  • Renato Cordeiro/UOL

    O sonho de todos os amantes do futebol de várzea de São Paulo era ver o Pacaembu lotado neste domingo. Com capacidade para 34 mil expectadores, o estádio parecia grande demais para a ambição dessa turma. Mas a torcida apareceu e estabeleceu o novo recorde de público em um torneio amador no Brasil. Com 20.260 pessoas nas arquibancadas, a vitória por 2 a 1 do Ajax, da Vila Rica, sobre a Turma do Baffô, do Jardim Clímax, foi a partida de várzea com o maior público da história.

    E, como não podia deixar de ser, o jogo propriamente dito foi um dos melhores do ano na competição. Embalados pela torcida mais barulhenta, graças à bateria da Torcida Independente que vestiu azul, o Baffô dominou o primeiro tempo e abriu o placar, com Portugal. O empate veio cinco minutos depois, com Ucochiton, de pênalti. A virada veio só no segundo tempo, com Jeremias.

     

"O Uochiton fez uma brincadeira, lembrando da primeira vez que nos encontramos, que é saudável", afirmou Mano Menezes, após o jogo, ao ser questionado sobre quantos craques da várzea pediram por uma convocação. "Foram poucos pedidos. O mais importante quando falamos desse assunto é lembrar que é preciso ter respeito", completou o treinador.

O técnico da seleção brasileira visitou os dois vestiários antes da partida. O encontro com a Turma do Baffô, que acabou com o vice-campeonato, foi mais rápido. Os jogadores estavam mais concentrados, após a preleção do técnico Juninho, e apenas se reuniram e ouviram as poucas palavras de Mano.

Com o Ajax as coisas foram diferentes. Os jogadores do time da Vila Rica estavam claramente mais calmos e, quando o técnico da seleção entrou na área de aquecimento, os atletas foram rápidos para formar a "rodinha" em sua volta.

Quando terminou de falar, Uochiton e o nigeriano Daniel Eze fizeram questão de trocar algumas palavras com Mano. "Eu contei um pouco da minha história no futebol. Queria ver o que ele diria", conta Daniel, também atacante, que está se recuperando de uma cirurgia no joelho antes de tentar retomar a carreira no futebol profissional.

O mais afetado pela visita foi o técnico Tukinha. Ainda se adaptando à função de treinador após mais de 20 anos como jogador do Ajax, ele se sentou ao lado de Mano após a partida e foi colocado em xeque com a pergunta: "O que é mais difícil: ser técnico na várzea ou da seleção?" A resposta foi política. "Acho que você sofre a mesma pressão nos dois. É claro que um time de várzea não é uma seleção, mas na seleção você não tem o cara gritando na sua orelha, do seu lado", afirmou o técnico campeão.

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