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Sogra de Muricy revela lado mão aberta do genro e pede retranca no SP

Luis Augusto Símon

Do UOL, em São Paulo

06/11/2013 06h00

“O empate é nosso, então não tem nada de errado em fazer uma retranquinha no começo do jogo e apostar no contra-ataque. A obrigação de correr é deles. Acho que desse jeito, a gente sai classificado lá da Colômbia, porque o Nacional não é tão bom”. Talvez Muricy concorde com a receita de dona Neusa Guerreiro, de 76 anos, que não perde um jogo no Morumbi. Mas ela nunca vai saber disso.

“Imagina que eu vou dar minha opinião para ele. Isso não tem cabimento, só estou falando porque você perguntou”, ela diz, rejeitando a ideia de uma conversa amistosa que está apenas a seu alcance e de nenhum outro torcedor do São Paulo.

Dona Neusa é sogra de Muricy. Gosta muito de futebol, mas sabe seus limites. “Se eu falasse com ele, ia parecer palpite. E quem entende muito de futebol é o meu genro. Ele sabe tudo, acompanha todos os jogos. Viu o que aconteceu com o Ganso? Não tava jogando nada e agora é o destaque. Melhorou mais de 80% com o Muricy”, afirmou.

Agora, ela espera pela melhora de Luís Fabiano. “Esse aí nem tem discussão. Se estiver bem fisicamente, tem de jogar. É muito bom. Mas o que eu queria mesmo é que o Rogério Ceni renovasse por mais um ano. Ele é meu ídolo no futebol. Viu o que o Muricy falou dele, que ele está defendendo muito bem? Dá para jogar mais um ano, sim”, avaliou.

Ela diz que é fã de Muricy mesmo antes do casamento com Roseli, sua filha. “Eles nem namoravam ainda e eu já via que ele era um menino de ouro. Foi muito bem-educado pelos pais, o seu Marinho e a dona Alaíde. A gente era vizinho, o Marinho era famoso porque jogava muito bem na várzea. O Muricy e a Rose estudavam juntos no mesmo colégio”, explicou.

A sogra conta também que Muricy e sua filha faziam a lição de casa juntos. Depois, começaram a ir ao cinema, o que dona Neusa não achou nada ruim. “Era muito educado, eu não tive nada contra o namoro. Nem quando ele usava aquele cabelão no ombro, tinha gente que criticava, mas era moda, os garotos faziam isso mesmo”, afirmou.

Ela não reluta ao falar da maior alegria e da maior tristeza vividas por meio da carreira do genro. “Alegria tem muita, ele sempre ganha títulos. Tristeza é quando ele vai trabalhar em outra cidade porque fica longe da gente, fica longe da família. Mas o pior mesmo foi em 78 quando ele tinha chance de ir para a seleção [disputar a Copa do Mundo], todo mundo falava nisso e machucou o joelho. A gente sofreu muito”, lembrou.

Dona Neusa cumpre um ritual em dias de jogos. Vai com o carro até a casa da filha, conversa um pouco e depois vai ao Morumbi. Coloca-se sempre na linha do meio de campo, nas cativas vermelhas. E comporta-se como um torcedor normal. “Eu xingo juiz sim, todo mundo faz isso, eu também”.

Não lamenta ir ao campo sem companhia. A filha prefere ficar em casa e só saber o resultado depois do final da partida. “Ela sofre muito, fica nervosa. Eu não, para mim vir ao Morumbi é uma higiene mental. É como quando vou na hidroginástica, nos chás e nas excursões de terceira idade”.

Com a morte da mãe de Muricy há alguns anos, dona Neusa sentiu mais vontade ainda de agradar ao marido da filha. “Quando a gente perde alguém na família procura se aproximar dos outros. Fica muito unido. Gosto de fazer bolo de chocolate, recheado com mousse de chocolate e coberto com mousse e cerejas. Ele adora esse doce. Comer, ele come de tudo, nunca pede nada”, afirmou.

O Muricy descrito por dona Neusa não corresponde à imagem que muitos têm dele. “É amoroso, bem-educado e muito bem-humorado. Lembra quando tinha aquela novela [Avenida Brasil] com uma mulher que chamava Muricy? A gente brincava e ele ria, nunca reclamou.  E vou contar uma coisa: é mão aberta também. Quando fica sabendo que estou fazendo pesquisa na internet para comprar alguma coisa, ele vai lá e me manda o cheque. Os últimos presentes foram um fogão de quatro bocas e um Corsa quando eu fui trocar o carro”.

Mas dona Neusa, com a gente que é repórter, ele é mais bravo do que a senhora está falando. “Ah, mas vocês cutucam ele muito, né? Ficam falando que ele faz retranca, mas às vezes é preciso. O time não está ganhando? E outra coisa, um técnico está com os jogadores todos os dias, treina, sabe o que tem de fazer em uma partida. Aí, a turma critica, não está certo.”

Dona Neusa não perde mesa redonda. Na hora do almoço e também domingo à noite, “no canal 11”.  É fã de Vanderlei Nogueira e Flávio Prado e tem algumas reclamações. “O Chico Lang é meio chatinho né, corintiano demais. Devia fazer igual ao Neto, que disfarça um pouco mais”.

Ela gostaria de ver Muricy na seleção, mas respeitou muito quando ele recusou a oferta de Ricardo Teixeira, em 2010. “Minhas amigas me ligaram e falaram agora você é sogra do técnico da seleção e eu fiquei toda orgulhosa. Mas quando ele não aceitou, eu entendi. Ele sempre sabe o que faz”.

Sobre a volta para o São Paulo, ela ficou sabendo pela televisão. Ligou imediatamente para a filha. E lamentou a resposta, brincalhona. “Ela falou que era tudo mentira e fiquei decepcionada. Aí, ele pegou o telefone e disse que estava tudo certo e que ia começar a trabalhar no dia seguinte. Fiquei muito feliz”.

Felicidade porque a escolha impediu que voltasse a acontecer um dilema na vida de dona Neusa. “Eu sempre torci pelo São Paulo, sou até sócia do clube. Mas quando ele está em outro clube, eu torço para os dois. Quando ele enfrenta o São Paulo, eu torço para ele. Então é ótimo que ele esteja aqui. Posso torcer para os dois, é o melhor que podia acontecer para mim”.

Dona Neusa, sem dúvida, é Muricy F.C.