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Escorregão de Kardec vira piada e aumenta trauma do São Paulo com pênaltis

Adriano Wilkson

Do UOL, em São Paulo

27/11/2014 06h00

Alan Kardec estendido no chão, golpeando o gramado enfurecidamente depois de escorregar e chutar para o alto sua cobrança, impotente diante de um duro golpe do acaso... esse é o retrato do São Paulo em decisões por pênaltis nas últimas temporadas. Pela terceira vez consecutiva, o time foi eliminado de um torneio desta forma, talvez a mais sofrida do futebol, e sempre em casa.

Tinha sido assim no Campeonato Paulista de 2013, quando Alexandre Pato, então no Corinthians, foi parado por Rogério Ceni, mas teve direito a uma segunda chance porque Ceni se adiantara e o juiz mandou voltar. Converteu sua segunda tentativa e ajudou o Corinthians a eliminar o São Paulo no Morumbi.

A tragédia se repetiu um ano depois, com doses um pouco maiores de vergonha, porque o algoz do Paulista de 2014 foi o pequeno Penapolense. O time do interior eliminou o gigante da capital, este em casa, depois de converter todas as suas cobranças, e Rodrigo Caio, o volante hoje no estaleiro, perder a sua.

Nessa última quarta-feira chuvosa, a tragédia foi sul-americana. Kardec escorregou e perdeu; Toloi chutou fraco e perdeu; Ceni não perdeu, mas também não defendeu nenhuma cobrança, e o Atlético Nacional avançou à final mesmo tendo sido derrotado nos 90 minutos por 1 a 0.

A fúria de Kardec contra o gramado só diminuiu quando ele foi consolado pelos colegas, conscientes de que, dessa vez, o escorregão fora apenas uma fatalidade, falta de sorte em uma noite fadada a não dar certo para o São Paulo.

“Ele é o nosso melhor cobrador e ali na hora fez o que sempre faz: deslocou o goleiro, bola de um lado, goleiro do outro. Mas escorregou, uma fatalidade, não tem jeito, acontece”, tentou explicar o técnico Muricy Ramalho, que também classificou a eliminação são-paulina no Morumbi lotado como “a maior injustiça que eu já vi na vida.”

“E olha que eu já vi muita coisa”, completou.

O lance de Kardec derrapando, as travas de sua chuteira não resistindo à umidade do gramado, o atacante caindo de bunda no chão, a bola descrevendo uma parábola curiosa sobre o gol (uma cena que seria cômica se não fosse trágica) foi repetido à exaustão na internet. Os torcedores que secaram o São Paulo se divertiram com várias piadas sobre o assunto.

Mas é injusto culpar o atacante, o mais regular e dedicado do elenco, pela eliminação. Michel Bastos perdeu gols que não se podem perder. Kaká também. Luis Fabiano teve chances de marcar, e a defesa falhou quando não deveria, permitindo aos rivais chegar na cara de Ceni algumas vezes. O goleiro salvou o time.

O técnico Juan Carlos Osorio, que fez sua equipe suportar a pressão do Morumbi e levar aos pênaltis um duelo que nos minutos finais parecia quase perdido, disse que decisões da marca do cal têm muito mais a ver com a cabeça do que propriamente com os pés.

Os colombianos foram precisos, mortais, frios e calculistas, chutaram a bola como se não ouvissem as 40 mil vozes gritando contra, calaram o Morumbi e levaram para casa a chance de ser campeões em 2014.

O São Paulo fica no chão, caído como Alan Kardec, após falhar demais na hora decisiva. Mais uma vez.