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Espanhol - 2019

Barcelona abandona consagrado tiki taka e impõe novo estilo em decisões

João Henrique Marques

Do UOL, em Barcelona (Espanha)

23/03/2015 06h00

O Barcelona ainda joga com a maior posse de bola. Mas essa não é mais a arma da equipe em grandes jogos. O consagrado tiki taka da era Guardiola já foi deixado de lado e o que foi visto diante do Manchester City no meio de semana se repetiu na vitória contra o Real Madrid por 2 a 1 na noite deste domingo, no Camp Nou. É uma nova postura do Barça evidenciada nos gols de bola parada de Mathieu e de ligação direta entre defesa e ataque de Luis Suárez.

Contra o City, o gol da vitória de 1 a 0 marcado por Rakitic nasce em um contra-ataque puxado por Messi. A exibição do time, porém, foi de alto nível com o domínio do jogo. Bem diferente do visto diante do Real Madrid.

“Me causa dor na vista ver o Barça jogando tão mal. Renunciando ao seu estilo. Apostou descaradamente pelo contra-ataque enquanto o Real Madrid era que colocava qualidade e promovia espetáculo. Quando Piqué o melhor do time é o sinal de que está tudo errado”, opinou o jornalista catalão do diário Sport, Lluís Mascaró, ao fim do jogo.  

“São recursos do futebol. Importantes. Temos o objetivo de ficar com a bola para ficar longe de sofrer ataques dos adversários, mas o futebol é muito complexo e alternativas precisam ser exploradas. Hoje fizemos gols em jogadas com as quais estamos trabalhando mais, e isso é muito gratificante” disse o treinador Luis Enrique.

Diante do Real Madrid, em boa parte do confronto o Barcelona se posicionou à espera do adversário. O reflexo foi a menor posse de bola em um jogo na temporada com 52,3 %. O controle no meio-campo só foi visto nos minutos finais quando Luis Enrique optou por colocar em campo Busquets e Xavi, dois pilares do tiki taka de Guardiola.

Luis Enrique é visto pela imprensa espanhola como obcecado por treinamentos de bola parada. Com os jogadores já causou até irritação por realizar simulações de faltas e escanteios em véspera das partidas com formações distinta a dos jogos no dia seguinte.

Só que tanto treinamento deu resultado. São 12 dos 80 marcados na Liga produzidos em jogadas de bola parada, o que deixa a equipe no quesito somente atrás do Atlético de Madrid, com 22 gols,

Na era Guardiola, o Barça chegou a ser o time com menos gols de bola parada no Campeonato Espanhol, com oito gols na temporada 2010-2011. O recordo sob o comando do treinador foram os 15 gols na edição do ano anterior.

Como retrato da força da bola parada do time de Luis Enrique, o zagueiro Piqué vive a temporada mais goleadora, com seis gols até o momento. A eficiência do time no quesito ainda é demonstrada defensivamente, sendo o gol de Pepe na derrota por 3 a 1 para o Real Madrid no primeiro turno, o último sofrido pelo time através de jogadas de bola parada.

“Claro que é”, respondeu seco Luis Enrique quando perguntado se o gol de bola parada de Mathieu no clássico é fruto de treinamento. “Aqui tudo se trabalha. Até as jogadas que não são gols me mostram que o caminho está bem feito. São ações de futebol que um time de qualidade precisa ter”, definiu.

Para explorar adversários que não atuam na retranca, como são os casos do Manchester City e Real Madrid, o time de Luis Enrique ainda abusa da ligação direta. Foi comum ver jogadas ofensivas do Barça decididas em segundos. Isso aconteceu no longo lançamento de Daniel Alves no campo de defesa para Luis Suárez marcar o gol da vitória no clássico.

“O time do Luis Enrique tem estratégia sábia de explorar defeitos de adversários. E como posso reclamar da bola parada se o Barça ano passado perde o Campeonato desse jeito (gol de Godín no empate por 1 a 1 contra o Atlético de Madrid na última rodada)? Agora o time ataca e defende bem no quesito, e isso justo antes de enfrentar o PSG do David Luiz e Thiago Silva, autores de gols de escanteios na classificação contra o Chelsea”, disse o jornalista catalão Fernando Polo, do Mundo Deportivo, defendendo o treinador Luis Enrique.