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Espanhol - 2019

Xavi deixa Barça com 1/3 dos títulos espanhóis e como maior ícone do clube

Xavi faz nesse sábado último jogo pelo Barcelona no Campeonato Espanhol - Divulgação/ EFE/Alejandro García
Xavi faz nesse sábado último jogo pelo Barcelona no Campeonato Espanhol Imagem: Divulgação/ EFE/Alejandro García

Do UOL, em São Paulo

23/05/2015 06h00

Xavi Hernández faz hoje seu último jogo no Campeonato Espanhol e vai deixar o Barcelona no fim da temporada. Mas é impossível afirmar por quanto tempo o seu legado permanecerá no Camp Nou. Poucos clubes de futebol na história tiveram seu espírito esportivo espelhado com tanta perfeição por um jogador. Assim foi a relação do Barça com Xavi.

Mais do que títulos e recordes (e não foram poucos), Xavi deixa enraizada uma filosofia de futebol que mudou a história recente do Barcelona. Ele foi o herdeiro de uma tradição que revolucionou o futebol do clube no fim do século passado.

Antes e depois de Cruyff

Desde 1990, quando Johan Cruyff assumiu o cargo de treinador do time azul-grená, o Barcelona ganhou mais títulos espanhóis do que em todo o resto de sua história: 10 antes; 13 depois. Mais que isso: ganhou fundamentalmente uma referência de futebol.

O comandante do carrossel holandês, que assombrou o mundo na Copa de 1974, trouxe na bagagem sua filosofia de jogo: posse de bola, movimentação constante dos jogadores, rápida troca de passes e controle da partida desde os primeiros metros do campo até o gol. Era o futebol total.

“A Holanda de Cruyff não ganhou nada, mas deixou um legado. O Chelsea do Di Matteo ganhou a Liga dos Campeões, mas no meu ponto de vista não jogava nada", disse o camisa 6 em entrevista exclusiva à revista espanhola Panenka.

Xavi assume filosofia

Catalão de Terrassa, aos 35 anos, Xavi é o maior representante dessa filosofia barcelonista hoje. Estreou no profissional em 1998, mas demorou para fazer do time sua imagem e semelhança. Quando assumiu a liderança de estilo dos culés (ele não era titular da equipe campeã da Liga dos Campeões em 2005/06), o camisa 6 transformou o Barcelona. Que apenas dois anos depois começou a encantar o mundo sob comando de Pep Guardiola. Se Messi jogava como falso nove, Xavi funcionava como marca-passo no meio-campo culé.

Quando o Barcelona estava sob pressão em seu campo de defesa, lá estava Xavi para desmanchar qualquer blitz com dois toques na bola. Com ela nos pés, lá estava Xavi ditando o ritmo do que ficou conhecido como “Tiki-Taka”. Variava passes rápidos e curtos com inversões de bola longas e precisas. Buscava a bola nos pés de Busquets, no centro, ou Iniesta, na meia-esquerda, e invertia o jogo para o peito de Dani Alves ou Messi, na ponta-direita. Muitos dos gols do argentino com passes do brasileiro surgiram a partir de equações calculadas pelos pés de Xavi.

"Sou feliz jogando no Barça pela sua filosofia. Se um técnico vier para implementar um outro estilo, precisaríamos de anos para se adaptar. Às vezes me pego pensando sobre a posse de bola, o estilo de jogo, mas nossos resultados me dão razão", defendeu o meio-campista.

Ideia na cabeça; bola no pé

Dono de inteligência e liderança naturais, Xavi nunca foi forte ou habilidoso. “Sou pequeno e lento, mas rápido de mente”, definiu-se. E foi assim que se transformou no melhor passador de sua época. Chegou a ter mais de 95% de aproveitamento nos passes ao longo de uma temporada. "Eu me sinto bem quando tenho a bola. Quando não, eu sofro. Eu odeio mais perder uma bola que uma chance de gol", cravou ele.

Mas o camisa 6 não é mais dominante como antes. A participação da Espanha da Copa no Brasil diz muito sobre isso. Assim como o fato de Xavi ter sentado no banco do Barcelona a maior parte dessa temporada.

Porém, mesmo com o Barcelona funcionando agora em torno de seu trio de ataque Messi-Neymar-Suárez, Luis Enrique sempre foi criticado quando o time terminou uma partida sem o domínio da posse de bola. Porque além de ganhar, o Barcelona tem que manter seu espírito. Mesmo em jogos decisivos ou jogando fora de casa. Mesmo sem o maior representante desse espírito em campo.

Com Xavi já na descendente de sua carreira e Iniesta numa temporada muito aquém de sua melhor forma, o Barcelona não teve nessa temporada um maestro no meio-campo. Isso ajuda a explicar, aliás, a metamorfose pela qual passou Messi. Além de grande definidor, o camisa 10 do Barcelona encontrou sua faceta de garçom – são 41 gols e 18 assistências só no Campeonato Espanhol. Isto é: sem Xavi para centralizar o jogo em seus pés e criar as oportunidades de gol, Messi recuou, atrás de Neymar e Suárez, mais como meio-campista que como falso nove.

8 de 23 Campeonatos Espanhóis

A importância de Xavi para o Barcelona também se prova em números. De 23 títulos espanhois do clube (13 após a era Cruyff), ele ganhou oito. Das quatro Liga dos Campeões conquistadas, ele levantou três. São 764 partidas, 85 gols e 23 títulos. Que podem virar 25 – se o time culé vencer as finais da Copa do Rei, dia 30 de maio, e Champions League, 6 de junho.

Na entrevista coletiva em que anunciou oficialmente sua saída, no meio de semana, Xavi foi questionado sobre o que faltou em sua jornada no Barcelona desde 1991. Um “hat-trick” (três gols numa mesma partida) e um gol de bicicleta, disse ele. Mas não se pode medir ainda o que ele deixou.

O Barcelona continua à procura por um novo Xavi. Mas não é fácil. Poucos clubes na história do futebol tiveram seu espírito esportivo espelhado com tanta perfeição por um jogador. Assim foi a relação entre Xavi Hernández no Barça.