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Carioca - 2019

Expansão urbana e dívidas deixam grandes do Rio sem 'casas' históricas

O estádio das Laranjeiras no começo dos anos 20, antes de ter uma ala demolida - Flu Memória/Divulgação FFC
O estádio das Laranjeiras no começo dos anos 20, antes de ter uma ala demolida Imagem: Flu Memória/Divulgação FFC

Rodrigo Paradella

Do UOL, no Rio de Janeiro

14/05/2013 11h00

Décadas antes de sofrer com a falta de estádios disponíveis e ter de realizar a primeira decisão do Campeonato Carioca fora da capital - o Botafogo conquistou o título em Volta Redonda -, os clubes do Rio já tiveram casas históricas. Quando o Estádio José Bastos Padilha - conhecido popularmente pelo nome de seu bairro, a Gávea - foi finalizado pelo Flamengo, em 1938, os quatro grandes times tinham locais próprios para mandar seus jogos.

O mais antigo deles, o Estádio de General Severiano, completaria 100 anos de sua inauguração na última segunda-feira, dia 13 de maio. A primeira partida disputada no campo foi também a primeira do clássico entre Flamengo e Botafogo. O estádio, porém, foi o único a ser efetivamente demolido, em 1977. Apesar da resistência liderada pelo histórico ex-cartola Carlito Rocha, o terreno foi vendido no mesmo ano para a Vale para que o Alvinegro saldasse dívidas.

O ESTÁDIO DE GENERAL SEVERIANO COMPLETARIA 100 ANOS NO DIA 13 DE MAIO

O fim do estádio deixou o Botafogo sem sua tradicional sede durante 17 anos. Somente em 1994, o Alvinegro retornou ao local - mas já sem o estádio. Em seu lugar foi construído um shopping. Boa parte da sede, hoje, é situada em cima da praça comercial, inclusive o campo utilizado para treinos da equipe profissional. Após a perda, o Alvinegro dividiu seus mandos entre Caio Martins e Marechal Hermes, casas sem a mesma magia.

“A demolição de General Severiano foi uma grande perda para o futebol nacional. Foi naquele gramado que surgiram ídolos como Garrincha e Nilton Santos. Ainda garoto, Jairzinho assistia aos treinos do Botafogo no mesmo local. Além disso, o local foi o berço do clássico entre Botafogo e Flamengo”, lembrou o historiador Thiago Santos.

A maior responsável pelo fim de jogos oficiais nas outras casas foi a expansão urbana. Fundados entre os anos 1910 e 1930, quando carros ainda eram raros na cidade, os estádios existentes até hoje – casos de Gávea e Laranjeiras - não podem sediar grandes jogos por conta do risco de atravancar o trânsito da metrópole. A sede do Flamengo fica muito próxima de uma das principais ligações entre Zona Sul e Barra da Tijuca, enquanto o Tricolor tem como acesso a Rua Pinheiro Machado, via crucial para a circulação na Zona Sul carioca.

GARRINCHA, DIDI E N. SANTOS TREINAM NO ANTIGO ESTÁDIO DE G. SEVERIANO

O estádio do Fluminense teve também sua capacidade reduzida para a construção do viaduto da Rua Pinheiro Machado. Todo um setor de arquibancada veio abaixo, o que reduziu a disponibilidade de lugares para menos da metade, cerca de 8 mil. O campo não é mais usado para jogos oficiais desde 2003. O local completou 94 anos no último sábado.

Assim como Laranjeiras, a Gávea também não sedia jogos oficiais desde 1997. Os dois estádios têm planos de modernização, mas de execução pouco provável. Maior das sedes desta geração, São Januário persiste como único palco ativo da era de ouro das casas cariocas.

“Os quatro estádios foram muito importantes para a história do futebol carioca, principalmente antes da chamada era Maracanã. Todos eles sediaram finais de Estadual. Nas Laranjeiras e em General Severiano, por exemplo, tivemos públicos estimados em 30 mil pessoas, algo impensável hoje em dia”, disse o historiador Thiago Santos.

Meca do futebol carioca, o Maracanã também foi responsável por deixar as antigas casas em segundo plano. O estádio passou a monopolizar as grandes partidas do Rio de Janeiro. Antes disputadas nos mais diversos locais, as finais do Estadual, por exemplo, passaram a ter como palco a futura sede da decisão da Copa do Mundo de 2014.