A figura de Eurico Miranda dando baforadas com seu charuto e com raros sorrisos pode causar receio em muitos, mas, para o técnico Doriva, isso não demonstra quem o presidente do Vasco realmente é. Há cinco meses no clube, o treinador campeão carioca se mostra encantado com o cartola e faz questão de defende-lo publicamente.

Animado com o projeto que tem sido feito no clube, ele revelou o lado “paizão” que Eurico exerce internamente. De acordo com o comandante, Miranda o “abraçou” e tem feito do Vasco uma “família”.

“Ele é realmente muito protetor. Uma pessoa que, às vezes, até transparece ser uma pessoa rude para quem está fora do processo. Mas ali dentro a gente sabe que é como se fosse a família dele”, elogiou.

Veja abaixo a íntegra da entrevista de Doriva ao UOL Esporte:
UOL Esporte: O que representa ser campeão estadual por clubes diferentes (Ituano e Vasco). Aliás, você é o primeiro treinador a conquistar títulos seguidos em São Paulo e no Rio de Janeiro?
Doriva: É muito importante. Sou muito jovem nesta profissão e estou buscando uma consolidação. Com certeza iniciar desta maneira (dois títulos seguidos) é muito bom. Estou feliz. Agora é continuar com os pés no chão, trabalhando e sempre buscando mais. Foi importante pra mim, embora o mais importante seja o nível coletivo.

UOL Esporte: Você sonhou com o título? Quando percebeu que ninguém poderia tirar o título do Vasco?
Doriva: Não houve esse momento, pois a disputa foi muito intensa. O Botafogo valorizou muito a nossa conquista e não houve momento que a gente pudesse garantir que já era campeão. Mas obviamente quando a gente fez o segundo gol deu para soltar o grito na garganta, porque o Botafogo precisaria de dois gols.

UOL Esporte: Geralmente em decisões um ou outro jogador é chamado de "o cara". O Rafael Silva foi o seu talismã nesta decisão?
Doriva: Ele cresceu no momento certo. Foi tremendamente abençoado com dois gols em dois jogos e com certeza a minha alegria é grande. Não só pelos gols, mas pelo que está acontecendo com ele. É um menino que trabalha muito e merece, ainda mais em uma final. Essa projeção é muito bacana pra ele. Além de ser um jogador voluntarioso, é muito tático,  tem uma saúde privilegiada. Consegue atacar e defender. Ele fez os gols e exerceu um papel fundamental no momento em que a equipe estava sem a bola. Foi por isso que o escolhi. Conheço ele, sei que tem esse vigor físico, essa capacidade. Ele foi preponderante pra que tivéssemos uma equipe bem postada em campo.

UOL Esporte: Qual a importância do Eurico Miranda nos bastidores do Vasco? Ele interfere? Como é o presidente do clube no dia a dia?
Doriva: O Eurico é muito tranquilo. Desde o primeiro momento eu me senti abraçado aqui no Rio, especialmente pelo presidente. Isso com certeza deu confiança. Ele é realmente muito protetor, uma pessoa que às vezes até transparece ser rude para os que estão fora do processo. Mas ali dentro a gente sabe que é como se fosse a família dele. Ele protege todo mundo. Comissão técnica, jogadores e é apaixonado pelo Vasco. Ele vive o Vasco intensamente e é muito positivo. Sabe tomar atitudes no momento certo e, com a experiência que tem, nos ajudou e muito com esta maneira de comandar o Vasco.

UOL Esporte: O Eurico é de participar das preleções com você e os jogadores? Ou em outros momentos?
Doriva: Não. Ele vai ao vestiário em alguns momentos, é uma pessoa muito positiva, mas não fala muito nas conversar que tem conosco. Só fala quando é preciso. E sabe dar carinho e voto de confiança quando é necessário. Isso é uma coisa muito boa e que muitas vezes não transparece para as pessoas que estão fora do Vasco.

UOL Esporte: O Eurico participou no vestiário da final? Falou algo pra você e para os jogadores?
Doriva: Não, ele não falou absolutamente nada na última semana. A gente conversou uma vez ou outra, mas ele dizia que estava tudo bem. Perguntava se eu precisava de alguma coisa, como as coisas estavam caminhando e que estávamos tendo uma semana boa para a final. Ele apareceu depois do jogo, depois que a gente já tinha conquistado o título. Aí sim ele desceu para festejar, para comemorar e merecidamente comemorou.

UOL Esporte: O que o Eurico falou pra você?
Doriva: Ele ficou feliz e falou que foi justo, que fomos campeões com méritos. E é o que a gente acredita mesmo, nós merecemos. A nossa conquista foi por merecimento. O trabalho foi bom, o ambiente é muito saudável e conseguimos conquistar.

UOL Esporte: José Luiz Moreira, vice presidente, assumiu que contratou você porque era bom e barato. Essa filosofia está sendo boa para o Vasco?
Doriva: Com certeza. Eu sou jovem, estou ainda me projetando no cenário e com certeza a conquista com o Ituano foi importante, mas ainda não sou uma realidade. Não sou um treinador estabelecido no mercado. Estou buscando essa consolidação ainda. Foi a união do útil ao agradável. Eu estava buscando uma oportunidade como esta e sei que não é fácil. Ter a chance de dirigir uma equipe de tradição e do tamanho do Vasco era um desafio que eu estava disposto a enfrentar. Graças a Deus as coisas aconteceram de maneira positiva.

UOL Esporte: Você é o treinador com o custo mais em conta entre os grandes clubes? O bom e barato é o correto neste momento?
Doriva: Eu estou contente com aquilo que eu combinei com o Vasco. Estou fazendo o meu trabalho e as coisas que vierem são consequências. Sei que o título dá projeção e consequentemente as coisas podem melhorar. Minha preocupação nem é a parte financeira, mas fazer um trabalho de qualidade, consistente, que me projete para estar buscando melhores contratos. Isso é obvio e eu seria hipócrita se não ambicionasse esse aspecto também.

UOL Esporte: Agora você está mais do que valorizado. O aumento será inevitável?
Doriva: Eu não estou pensando nisso. As coisas acontecem no momento certo e não tenho pretensão nenhuma. Isso é muito relativo. São anos de experiência e eu não tenho essa bagagem toda como treinador. A experiência de atleta é sempre levada em consideração, mas esta rodagem como treinador virá com o passar dos anos mesmo.

UOL Esporte: Depois da conquista recebeu alguma ligação de outros técnicos? 
Doriva: Não, não recebi ligações de ninguém. Eu nem tenho tanto contato com os grandes treinadores. Conheço alguns, estivemos juntos recentemente em um evento da CBF, mas não existe essa afinidade grande.
 

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