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Libertadores - 2019

Striptease de Neymar, 'sócio-cachorro', carteirada e furto; bastidores do tri do Santos

Bruno Thadeu e Thales Calipo

Em São Paulo

23/06/2011 13h01

A briga generalizada ao fim da partida não foi o único ponto negativo na conquista do tricampeonato da Copa Libertadores pelo Santos. Fora de campo, inúmeras falhas da organização fizeram com que torcedores fossem maltratados, políticos passassem por saias-justas, jornalistas sofressem ameaças e furtos, além de o vestiário festivo do campeão se transformar em um show de barbaridades, com direito até a um “striptease” de Neymar.

O UOL Esporte acompanhou os bastidores do título santista, na última quarta-feira, no Pacaembu, e relata as dificuldades e os jeitinhos de muitos para acompanhar o jogo entre Santos e Peñarol.

O presidente Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro, quando informado pela reportagem sobre alguns dos problemas que serão citados abaixo, mostrou desconhecimento e disse que iria “apurar os fatos”.

"SÓCIO-CACHORRO" FICA PERDIDO SEM INFORMAÇÃO E APANHA DA POLÍCIA

Na Vila Belmiro, um dos setores de cadeiras em que ficam os associados é apelidado de “sócio-cachorro”, por conta das dificuldades que esse tipo de torcedor encontra, segundo relatos dos próprios.

No Pacaembu, no entanto, esse termo foi além. Uma confusão criada pelo próprio Santos resultou em diversos sócios sendo agredidos por policiais, que por sua vez tentavam impedir que os santistas invadissem o já superlotado estádio da final.

Toda a confusão começou porque o ingressos dos sócios dizia que a entrada seria feita pelo portão 8. No entanto, sem aviso prévio, o acesso foi mudado para a porta 20. Porém, com a interdição de parte das vias públicas, para evitar um confronto com os torcedores do Peñarol, os associados tiveram de dar quase uma volta inteira no estádio para chegar ao destino correto.

Contudo, segundo relatos de seguranças, foram vendidos mais ingressos do que a capacidade do setor. Com isso, quando o jogo começou, os portões foram fechados, deixando muitos para fora. O tumulto teve início, com o arremesso de garrafas e chutes contra os portões. Em resposta, a polícia usou de violência para conter a fúria dos santistas.

Novamente, sem aviso, a entrada foi liberada pelo portão 2, na praça Charles Miller. Quem, por sorte, passou pelo local, conseguiu finalmente entrar no estádio. Alguns perderam pelo menos 30 minutos do primeiro tempo até assistirem, de fato, à partida.

DIRIGENTE BURLA A LEI E ESTACIONA EM LOCAL PROIBIDO

José Paulo Fernandes, assessor especial da presidência, cometeu um ato que, em qualquer outro local, lhe renderia uma multa. O dirigente santista estacionou seu carro, sem cerimônia, em um lugar indicado para ambulâncias. Um funcionário do estádio tentou avisá-lo, mas seu carona logo respondeu. “Está liberado”.

Um policial militar, que estava próximo ao local, mas não viu o momento em que o dirigente estacionou seu carro, confirmou que a atitude de José Paulo Fernandes se caracterizava como uma infração de trânsito, mesmo sendo dentro do Pacaembu. Apesar disso, o PM também relevou. “Alguém muito importante aqui deve ter permitido”.

CLODOALDO VIRA GUIA, MAS SE PERDE DE OUTROS EX-JOGADORES

O momento histórico do Santos contou com a presença de diversos ex-jogadores que fizeram história com a camisa alvinegra. Liderados por Clodoaldo, nomes como Mengálvio, Dorval, Coutinho e Edu estiveram no Pacaembu para acompanhar a conquista do tricampeonato da Libertadores.

Apesar de “chefiar” a delegação de ex-jogadores, Clodoaldo se perdeu do restante do grupo. “Eu sei que eles estão por aqui, mas agora nós nos perdemos”, disse o ex-meio-campista, próximo à entrada de convidados do Pacaembu.

Mengálvio e Dorval passaram pelo local um pouco antes. Juntos, os dois craques da equipes que conquistou o bicampeonato da Libertadores atraiu a atenção de diversos torcedores, que pediram para tirar fotos.

PALMEIRENSE, SERRA É COBRADO POR TORCEDOR SANTISTA

APO ex-governador José Serra chegou em cima da hora ao Pacaembu para assistir ao jogo entre Santos e Peñarol. O fato de ser palmeirense declarado, no entanto, fez com que o político passasse por uma saia-justa na entrada do Pacaembu.

Mesmo com poucas pessoas na porta, Serra ouviu de um torcedor, já irritado por conta da demora para entrar no estádio. “Você não veio secar o Santos, né?”. “Estou aqui para dar apoio ao seu time”, respondeu o ex-governador.

“E por que um palmeirense pode entrar de graça e eu pago R$ 300 no ingresso para ficar aqui, do lado de fora?”, foi a tréplica do santista, que não teve uma resposta do político.

ORGANIZADORES RIEM DE PROTESTO DE TORCEDOR

Um torcedor monopolizou as atenções na entrada de convidados do Pacaembu. Após passar longos minutos pedindo para falar com algum diretor, o santista se revoltou e passou a fazer reivindicações aos berros.

Com sua carteira de sócio na mão, o torcedor pedia para que seu filho, que tinha ingresso, pudesse entrar com seu neto, menor de idade, de graça. Para isso, o associado disse inúmeras vezes que esteve em partidas históricas do time alvinegro, como a primeira contra o Peñarol, no Uruguai, e no “1 a 0 sobre o Botafogo”.

A insistência em citar essas duas partidas como motivo para que ele falasse com um diretor virou piada entre os organizadores, que diversas vezes se viraram para rir da situação. 
Thales Calipo/UOL Esporte

DE VERMELHO, PELÉ ATRAPALHA TRÂNSITO E MUDA DE CAMAROTE

Rubens Cavallari/Folhapress
Entre os convidados para a final da Libertadores, nenhum despertava mais interesse que Pelé. O maior jogador de futebol de todos os tempos chegou ao Pacaembu cerca de uma hora antes do início da partida e causou o alvoroço costumeiro.

Para minimizar o assédio, a van que o levou ao estádio teve permissão para estacionar próxima à porta de entrada dos VIPs. O problema, no entanto, é que o veículo ficou no meio da fila que havia se formado para a entrada dos sócios no portão 20. Com isso, muitas pessoas aproveitaram para furar, despertando a ira de quem aguardava pacientemente a sua vez.

No estádio, Pelé seguiu rapidamente para um dos camarotes. Meia hora depois, o ex-jogador resolveu descer e encarou o assédio de dezenas de jornalistas que criaram um tumulto para ouvir suas palavras. “Meio gol hoje já será suficiente”, repetiu.

Pelé resolveu ir ao Pacaembu com um terno vermelho. O visual inusitado, no entanto, fazia parte da campanha publicitária do Santander, patrocinador da Libertadores e do ex-jogador. A presença do Rei, inclusive, era esperada no espaço montado pela empresa no estádio, mas ele preferiu seguir para o camarote em que estava o presidente santista, Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro.
 
Uruguaios assistem ao jogo sem ingresso no Pacaembu
Cerca de 300 torcedores do Peñarol foram ao Pacaembu sem ingresso. Com a superlotação do espaço destinado aos visitantes, os uruguaios foram barrados.

Porém, depois de muito insistir e protestar, os organizadores liberaram a entrada de todos, durante o intervalo da partida.
Polícia fecha portão VIP para evitar invasão
Quando o jogo começou, o portão 20 foi fechado, deixando muitos sócios santistas para fora. Inconformados e sem informações, os torcedores tentaram a sorte na entrada destinada aos VIPs. Enquanto alguns passavam chorando, outros reclamavam do descaso.

Apesar de, aparentemente, a situação estar sob controle, a polícia temeu uma possível invasão e fechou a porta de convidados, mesmo que a passagem do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, ainda fosse aguardada.

NEYMAR FAZ STRIP-TEASE E DOA AS PEÇAS PARA OS TORCEDORES

Alex Almeida/UOL
Pouco depois de chegar ao vestiário, Neymar ficou em um local visível para os torcedores que lá se encontravam. Enquanto conversava com seu pai, o atacante retirou suas chuteiras e os esparadrapos colocados sobre o meião.

A partir daí, o atacante tirou uma das meias e, mesmo sem nenhum pedido, atirou para o pequeno grupo de torcedores. Um jovem "ganhou" o presente. Na sequência, o outro meião foi jogado, caindo, desta vez, na mão de uma garota.

O terceiro item do "striptease" de Neymar foi o calção. O item foi cobiçado por duas pessoas, mas acabou ficando de posse do estudante Pedro Borges, de 14 anos. O jovem comemorou o presente antecipado, já que faz aniversário no próximo dia 4.

Pouco tempo depois, o atacante voltou a aparecer próximo dos torcedores, desta vez apenas de sunga. Algumas pessoas aproveitaram para registrar o momento "à vontade" de Neymar com seus telefones celulares e levar mais uma recordação do craque santista.

MÃE, PAI, FILHOS, PRIMOS E AS CARTEIRADAS DOS DIRIGENTES

Thales Calipo/UOL Esporte
A confirmação do título santista enlouqueceu os torcedores nas arquibancadas do Pacaembu. Pouco tempo depois, no entanto, alguns "privilegiados" puderam estender a comemoração para o vestiário do time, nem que, para isso, tivessem de usar as famosas "carteiradas".

No acesso aos vestiários existiam grades móveis com dois policiais e alguns oficias da Federação Paulista de Futebol (FPF), responsáveis por autorizar, principalmente, a entrada de jornalistas, devidamente identificados, ao local.

Isso, no entanto, não impediu que uma pessoa passasse se dizendo "diretor" e, logo na sequência, desse a ordem: "Tá todo mundo liberado", apontado para um grupo com mais de dez pessoas. O policial tentou impedir, mas os torcedores forçaram a entrada e, com o tumulto criado, acabaram cedendo passagem.

Não satisfeitos, um grupo de torcedores ainda tentou entrar no campo de jogo. Para isso, passaram por uma porta e avançaram túnel adentro até parar no portão fechado à beira do gramado. Do outro lado, a polícia teve trabalho para convencer a todos que saíssem dali (foto).

Com tantos "penetras", pessoas mais próximas aos jogadores tiveram dificuldade para comemorar. O atacante Zé Eduardo, por exemplo, viu seus pais entrarem espremidos. A filha de Muricy Ramalho foi outra que só conseguiu parabenizar o pai após muita insistência.

Em determinado momento, e com tantos convites de quem estava dentro para quem estava fora entrar, os seguranças do Santos já pouco conseguiam impedir que o primo de tal dirigente, ou o amigo do amigo de outro também ficassem próximos dos campeões.

POLÍTICOS SE DIVIDEM ENTRE CAMAROTES E ARQUIBANCADAS

O jogo entre Santos e Peñarol serviu também para políticos se aproximarem dos torcedores, seja nos confortáveis camarotes, ou mesmo nas arquibancadas do Pacaembu.

Torcedor do Santos, o governador Geraldo Alckmin teve a companhia do prefeito de Santos, João Paulo Tavares Papa, em um dos camarotes superiores. Palmeirense, José Serra também se acomodou em um desses espaços.

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP), por sua vez, ficou no camarote da Federação Paulista de Futebol (FPF) e, no intervalo, deixou as cadeiras para aproveitar o serviço de comes e bebes gratuito.

No meio da torcida, no entanto, estava o prefeito de São Vicente, Tércio Garcia. Mais desconhecido que os demais, o político ficou na arquibancada verde e quase passou despercebido em meio ao restante dos torcedores.

JORNALISTAS URUGUAIOS VIRAM "HINCHAS" E PROVOCAM TUMULTO

Thales Calipo/UOL Esporte
A imprensa escrita que esteve no Pacaembu ficou confinada em um pequeno espaço localizado logo atrás do setor de cadeiras do estádio. Próximos aos torcedores santistas, os jornalistas uruguaios, se portando como verdadeiros "hinchas", passaram a torcer de forma voraz pelo Peñarol.

O problema começou quando o time visitante marcou seu gol e os "jornalistas" uruguaios comemoram aos berros. Revoltados, os torcedores santistas passaram a xingar e ameaçar a todos, inclusive brasileiros, que estavam trabalhando.

O clima de provocações continuou até o fim do jogo e, mesmo com os brasileiros pedindo para os uruguaios se acalmarem, os torcedores santistas, ao invés de comemorar o título, resolveram xingar e cuspir nos jornalistas, acertando quem estivesse por lá.

Responsável por controlar a entrada dos jornalistas no espaço, o presidente da Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo (ACEESP), Luiz Ademar, alegou que a presença dos uruguaios foi permitida porque todos haviam feito um credenciamento prévio e, por isso, tinham direito a ficar no local.
Thales Calipo/UOL Esporte
Presidente é pop
O jeito bonachão e carismático do presidente Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro, somado às conquistas do Santos dentro de campo, o elevaram ao posto de queridinho dos torcedores. Na chegada ao Pacaembu, o mandatário foi cercado por diversos deles e, atencioso e paciente, parou para tirar fotos e distribuiu sorrisos a todos.
Fotógrafo é furtado e motorista ameaçado
Em meio à série de desorganizações, dois fatos foram registrados contra a imprensa. Dentro do campo do Pacaembu, após o fim da partida, um fotógrafo teve todos os seus equipamentos furtados. O profissional deixou o local por alguns instantes e, quando retornou, já não encontrou mais seu computador e suas máquinas.

Já do lado de fora, o veículo de um jornal, devidamente adesivado, foi alvo da fúria de um grupo de torcedores, que cercou o automóvel e passou a chutá-lo e balançá-lo. O motorista, que estava sozinho, nada pôde fazer, já que estava preso em um trânsito na entrada do Pacaembu e só conseguiu se desvencilhar da situação quando os demais carros seguiram em frente.