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Libertadores - 2019

Suposto autor da morte de boliviano depõe e deixa Vara da Infância sob pressão de populares

Advogado da Gaviões da Fiel acompanhou depoimento do jovem de 17 anos - Apu Gomes/Folha Imagem
Advogado da Gaviões da Fiel acompanhou depoimento do jovem de 17 anos Imagem: Apu Gomes/Folha Imagem

Rodrigo Mattos

Do UOL, em São Paulo

25/02/2013 17h46

O jovem de 17 anos que diz ter sido o autor do disparo que vitimou o boliviano Kevin Espada, 14 anos, deixou a Vara da Infância de Guarulhos na tarde desta segunda-feira após prestar falar com a promotoria sob enorme pressão de populares e imprensa, que se aglomeraram em frente ao local em busca de imagens do menor de idade.

O torcedor prestou depoimento ao promotor Gabriel Rodrigues Alves. mas o caso foi declarado sob segredo de justiça. Por isso, a assessoria de imprensa do Ministério Público se negou a dar informações: não quis dizer nem se houve um depoimento formal ou apenas uma conversa com o adolescente. Fato é que ele ficou por duas horas e meia na vara.

Após deixar a Vara da Infância acompanhado da mãe e do advogado da Gaviões da Fiel, Ricardo Cabral, que estavam ao volante, o veículo com o torcedor corintiano percorreu pelo menos 30 metros cercado por cerca de 30 pessoas, já que a rua estava fechada para trânsito. Durante o trajeto, profissionais da imprensa cercaram o carro na tentativa de filmar o jovem, que cobriu o rosto com o boné no banco do passageiro.

Populares, que esperavam na porta da vara, também seguiram o carro. Uma pessoa não identificada gritou: “assassino”, antes do jovem entrar no veículo. Outra gritou: "Obrigado, moleque. Vai Corinthians!". Após sair da Rua Felicio Marcondes, onde fica a vara, o carro acelerou, mas foi seguido por motos. 

No último domingo, o jovem, que é associado da torcida organizada Gaviões da Fiel, afirmou em entrevista ao Fantástico, da TV Globo que foi o autor do disparo do sinalizador que atingiu e matou o torcedor boliviano. Segundo o seu advogado, a decisão de não se entregar na Bolívia foi da diretoria da Gaviões da Fiel. O jovem disse ter comprado os sinalizadores de um ambulante na Rua 25 de Março, em São Paulo.

O relato feito pelo torcedor à TV Globo não será levado adiante pela delegada boliviana Abigail Saba, que cuida da investigação em Oruro. Ela descarta usar o depoimento do jovem no processo.

“Como o jovem saiu da Bolívia? Com que ajuda? Há várias interrogações que têm de ser esclarecidas em Oruro. As autoridades não têm de levar em conta provas produzidas em outro lugar. Quem garante que este garoto não foi pressionado?”, disse Saba, por telefone, ao UOL Esporte.

Doze torcedores do Corinthians permanecem presos na Bolívia.