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Libertadores - 2019

Corinthians abandona imagem de "queridinho" e compra briga contra o sistema

Gobbi e Andrés com Del Nero e Marin em 2012, quando as partes ainda eram próximas - Almeida Rocha/Folhapress
Gobbi e Andrés com Del Nero e Marin em 2012, quando as partes ainda eram próximas Imagem: Almeida Rocha/Folhapress

Gustavo Franceschini

Do UOL, em São Paulo

17/05/2013 06h00

O Corinthians de Andrés Sanchez se notabilizou pela relação próxima com poderosos como Lula, CBF e Globo e ganhou a pecha de “queridinho” do establishment do futebol. Hoje, a situação mudou. Sob a batuta de Mário Gobbi, o clube do Parque São Jorge já não vive um mar de rosas com quem manda e, prejudicado pela arbitragem, resolveu atacar de vez o sistema.

A maior representação disso é a entrevista de Roberto de Andrade à rádio Globo na última quinta. Em poucos minutos, o cartola, possível candidato da situação à sucessão de Gobbi, detonou todo mundo que podia por conta da arbitragem desastrosa de Carlos Amarilla na eliminação diante do Boca Juniors.

“Vocês [imprensa] dão oportunidade da gente mostrar toda a indignação por todo o sistema falido que é esse futebol sul-americano e brasileiro e paulista também. Porque todos viram a imagem do jogo de ontem. Eu não vi um dirigente sequer do nosso futebol, tanto paulista como da CBF, do Brasileiro, se manifestando a favor do Corinthians pelas barbaridades que o juiz fez. Então, o que adianta falar? Só vamos nos desgastar”, disse Roberto de Andrade.

A revolta começa em Amarilla, que deixou de marcar um pênalti claro e anulou incorretamente um gol de Romarinho, mas resvala na organização do futebol sul-americano. No início do ano, o Corinthians já havia se desgastado com a Conmebol por conta do episódio Kevin.

Depois da morte trágica do torcedor boliviano, o clube chegou a ser obrigado a atuar com portões fechados e entendeu que foi usado como bode expiatório pela entidade. Paralelamente, ficou descontente com a falta de ajuda que recebeu de FPF (Federação Paulista de Futebol) e CBF (Confederação Brasileira de Futebol). Hoje, o clube não está entre os queridinhos dos principais cartolas do futebol do país, cenário muito distinto daquele vivido no fim de 2011, nos últimos dias de Andrés na presidência.

Naquele momento, o Corinthians comemorava o título brasileiro e sonhava com voos mais altos em 2012. Andrés, estandarte da virada política que o clube sofreu desde o rebaixamento, construiu com afinco esse cenário.

Os primeiros frutos vieram em 2010. Na África do Sul, foi ele o escolhido de Ricardo Teixeira para o cargo de chefe de delegação na Copa. A relação próxima com o presidente Lula, ele mesmo admite, ajudou a tirar do papel o sonho do estádio próprio, que derrubou o Morumbi em uma disputa direta e ainda terá a abertura de 2014.

Andrés ainda capitalizou a discussão mais importante da política do futebol recente. Próximo da CBF e da Globo, ele comprou briga e ajudou a implodir o Clube dos 13, primeiro apoiando Kleber Leite contra Fábio Koff e depois, efetivamente, liderando as negociações individuais com a emissora carioca pelos direitos de transmissão do Brasileirão.

Todas essas relações colocaram o Corinthians na vitrine. O time passou a ser hostilizado pelas demais torcidas como o clube dos poderosos e sofreu acusações de um suposto favorecimento da arbitragem. No ápice desse processo, um pênalti duvidoso no jogo contra o Cruzeiro, vital na disputa do Brasileiro de 2010, concentrou protestos de todos os rivais.

Hoje, quase tudo está diferente. Lula já não está mais na presidência do país e a principal característica de Dilma Rousseff no que diz respeito ao esporte é a distância dos cartolas. A Globo, outra parceira importante há pouco, viu o crescimento da Fox Sports desde o início do ano passado e hoje é coadjuvante nas discussões sobre a Copa Libertadores, por exemplo.

A mudança mais sensível, no entanto, se deu na CBF. Ricardo Teixeira caiu de maneira surpreendente até para seus parceiros mais próximos e deixou um vácuo político. Andrés ainda tenta ocupar esse espaço, mas para isso precisa entrar em conflito direto com José Maria Marin e Marco Polo del Nero.

Com isso, em uma tacada só o Corinthians perdeu um aliado de peso e se viu próximo do inimigo número um dos atuais cartolas dominantes. Quando questionado sobre o assunto, Mário Gobbi evita posicionar-se sobre a eleição da CBF no próximo ano, mas admite que ficará ao lado de Andrés caso ele leve a cabo a ideia de se candidatar.

O resultado de todo esse processo começa a aparecer. De todas essas frente, a única que não foi afetada foi a relação com a TV. Embora o jogo de forças da emissora tenha mudado, o Corinthians segue sendo a maior audiência do país e opção prioritária para todas as redes envolvidas.

Na política e na bola, porém, o clube deixou de vez a posição de favorecido, e nada resume melhor essa situação que a semana que se encerra nesta sexta. Em um intervalo de dois dias, o Corinthians arrumou briga com Fifa, Conmebol, CBF e FPF.

A primeira se deu com a discussão sobre o Itaquerão. O clube, em nota oficial, chegou a dar um ultimato à Fifa deixando aberta a possibilidade de mudança do local de abertura da Copa. Na última quinta, de uma vez só, Roberto de Andrade atacou todas as outras entidades ao perder a calma com a arbitragem de Carlos Amarilla, enterrando de vez a imagem de “queridinho”.