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Cruzeiro reclamará na Conmebol e espera punição por ato racista no Peru

Do UOL, em Belo Horizonte

13/02/2014 06h00

Indignado com os problemas enfrentados pelo Cruzeiro no Peru, onde o time estreou com derrota na Libertadores, a diretoria celeste deverá fazer uma representação na Conmebol, principalmente sobre a manifestação racista da torcida peruana direcionada ao volante Tinga no segundo tempo da derrota para o Real Garcilaso, por 2 a 1, de virada.

O técnico Marcelo Oliveira deixou de lado os problemas enfrentados pelo time mineiro dentro e fora de campo e cobrou punição em relação ao episódio envolvendo Tinga. Os torcedores fizeram gestos e emitiram sons de macaco.

“Esse é o mais grave, tem de tomar providência, esse tipo de preconceito, tipo de coisa não pode acontecer mais. Todos devem tomar providência para que seja punido, que isso não sirva de exemplo para outras pessoas”, observou o treinador.

O diretor de futebol, Alexandre Mattos, revoltou-se com os incidentes ocorridos em território peruano. Além dos gestos racistas da torcida, faltou luz durante o treino do time e por falta de água os jogadores não puderam tomar banho no estádio. “O Cruzeiro vai fazer sua representação, não tenha dúvida”, afirmou.

O dirigente ficou indignado com a atitude dos torcedores.“O Tinga é homem né cara, o Tinga passa por cima dessas coisas. Acho que nós sentimos aqui o que falei, o retrocesso da humanidade, é pensar pequeno, um lugar pequeno, nem devia existir aqui o futebol”, afirmou.

“O que fizeram com o Tinga foi uma palhaçada, uma sacanagem, é um bando de babaca. Ficar gritando ali, gritei para calar a boca e todos calaram”, acrescentou Mattos.

A falta de estrutura do estádio e da cidade de Huancayo foi criticada pelo dirigente. “Não vai ficar assim. Se precisar ir à Conmebol e o que tiver de fazer, nós vamos fazer. Eles tem que aprender que futebol é coisa seria, que move milhões, e eles brincam com isso, esse jogo tinha que ter sido em Lima”, ressaltou o diretor celeste.

Peruanos são reincidentes em atos racistas

Não foi a primeira vez que um jogador brasileiro sofreu com insultos racistas em território peruano. Em 2011, durante uma partida entre Brasil e Bolívia pelo Sul-Americano sub-20, uma pequena parte da torcida presente ao estádio 25 de Noviembre, em Moquegua, hostilizou o atacante Diego Maurício.

Depois de entrar no segundo tempo da partida, o jogador da seleção brasileira passou a ser ofendido por torcedores, que imitavam, assim como ocorreu com Tinga, sons de macaco. Depois do jogo, o atacante lamentou o incidente.

“Eu fico triste, mas isso não me afeta em nenhum momento. Independentemente de raça, somos todos seres humanos. Dentro de campo vou sempre mostrar meu trabalho e não dou bola para isso”, disse o jogador na época.

Apesar da evidente discriminação ao atacante brasileiro, os peruanos, torcedores em geral e até autoridades, consideraram normal e mesmo “engraçada” a atitude de parte da torcida de imitar sons de macaco quando Diego Maurício pegava na bola.

Um policial que estava no estádio disse que era apenas um gesto usado pela torcida para “atrapalhar” os jogadores de “pele escura”. Um jornalista peruano afirmou que se tratava de uma tradição no país e uma “brincadeira”, mas recuou envergonhado ao ser questionado se não se tratava de uma discriminação racial.

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) cobrou explicações da Conmebol sobre o comportamento dos torcedores. A iniciativa gerou uma reação da entidade sul-americana, que criou uma campanha para tentar coibir atos racistas durante o Sul-Americano sub-20.

Uma faixa com a frase “Não ao racismo” foi afixada próxima aos torcedores durante os jogos. Além disso, o pedido foi reforçado por alto-falantes dos estádios.