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Ministro do Esporte cobra "firmeza" da Conmebol no combate ao racismo

Do UOL, em Belo Horizonte

13/02/2014 16h27

A reação do Governo Federal às injúrias raciais que atingiram o volante Tinga, do Cruzeiro, no jogo com o Real Garcilaso, pela Libertadores, na quarta-feira, não ficou restrita à manifestação, via twitter, da presidente Dilma Rousseff. O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, informou, por meio de sua assessoria de comunicação, que telefonou para o presidente da Confederação Sul-Americana de Futebol, Eugenio Figueredo Aguerra, e exigiu medidas enérgicas para combater atitudes preconceituosas e racistas. Os insultos racistas sofridos por Tinga no jogo do Cruzeiro com o Real Garcilaso também foram comentados pelo presidente do Peru, Ollanta Humala Tasso, que utilizou pela primeira vez neste ano a sua conta pessoal no twitter para condenar esse tipo de manifestação.

 “No ano que o mundo inteiro se une para disseminar uma mensagem contra o preconceito durante a Copa do Mundo do Brasil, é inconcebível o comportamento que vimos em Huancayo. Tinga tem todo o nosso apoio na luta contra o racismo, que, esperamos, será combatido com firmeza pela Conmebol”, afirmou o ministro, ao condenar o comportamento racista dos torcedores peruanos.

Em mensagem pelo twitter, Ollanta Humala Tasso lembrou a origem do país para rebater a prática racista. “Um país tão diverso como o nosso e que fortalece sua identidade, com todas suas culturas, não deve admitir manifestações racistas de nenhum tipo”, ressaltou o presidente peruano. “Expressões como as de ontem (quarta-feira) em uma partida de futebol devem originar indignação e impulsionar nossa luta contra todo tipo de discriminação”, acrescentou o presidente peruano.

Depois de entrar no lugar de Dagoberto no decorrer da segunda etapa, aos 19 min, o volante Tinga foi constantemente vaiado pelos torcedores locais, que emitiram sons imitando macaco a cada vez que o jogador encostava na bola. Essa manifestação racista foi se agravando e aumentando o tom com o decorrer da partida.

No início da manhã a presidente da República, Dilma Rousseff, se solidarizou com o fato e publicou mensagens de apoio a Tinga.  “Foi lamentável o episódio de racismo contra o jogador Tinga, do Cruzeiro, no jogo de ontem, no Peru. Ao sair do jogo, Tinga disse que trocaria seus títulos por um mundo c/ igualdade entre as raças. Por isso, hoje o Brasil inteiro está #FechadoComOTinga”, escreveu em seu perfil do Twitter.

Ao longo desta quinta-feira, desportistas, autoridades, pessoas públicas e anônimas, independente de clubes ou nacionalidade, manifestaram apoio a Tinga, das mais diferentes maneiras, muitos utilizando as redes sociais.

A Confederação Brasileira de Futebol e presidente da Fifa, Joseph Blater, também utilizaram a rede social para se manifestarem. "Por um mundo sem racismo, sem preconceito e sem desrespeito #SomosIguais #FechadoComOTinga", escreveu a CBF, que também divulgou uma nota oficial em seu site.

"Faço coro com @dilmabr ao condenar o episódio de racismo envolvendo Tinga, do @_OficialCEC. A FIFA é contra todo ato de discriminação", endossou Blatter, que também postou um link divulgando a resolução da entidade contra qualquer tipo de discriminação.

Peruanos são reincidentes em atos racistas

Não foi a primeira vez que um jogador brasileiro sofreu com insultos racistas em território peruano. Em 2011, durante uma partida entre Brasil e Bolívia pelo Sul-Americano sub-20, uma pequena parte da torcida presente ao estádio 25 de Noviembre, em Moquegua, hostilizou o atacante Diego Maurício.

Depois de entrar no segundo tempo da partida, o jogador da seleção brasileira passou a ser ofendido por torcedores, que imitavam, assim como ocorreu com Tinga, sons de macaco. Depois do jogo, o atacante lamentou o incidente.

“Eu fico triste, mas isso não me afeta em nenhum momento. Independentemente de raça, somos todos seres humanos. Dentro de campo vou sempre mostrar meu trabalho e não dou bola para isso”, disse o jogador na época.

Apesar da evidente discriminação ao atacante brasileiro, os peruanos, torcedores em geral e até autoridades, consideraram normal e mesmo “engraçada” a atitude de parte da torcida de imitar sons de macaco quando Diego Maurício pegava na bola.

Um policial que estava no estádio disse que era apenas um gesto usado pela torcida para “atrapalhar” os jogadores de “pele escura”. Um jornalista peruano afirmou que se tratava de uma tradição no país e uma “brincadeira”, mas recuou envergonhado ao ser questionado se não se tratava de uma discriminação racial.

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) cobrou explicações da Conmebol sobre o comportamento dos torcedores. A iniciativa gerou uma reação da entidade sul-americana, que criou uma campanha para tentar coibir atos racistas durante o Sul-Americano sub-20. Uma faixa com a frase “Não ao racismo” foi afixada próxima aos torcedores durante os jogos. Além disso, o pedido foi reforçado por alto-falantes dos estádios.