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Punição por ato racista pode chegar até a eliminação da Libertadores

Do UOL, em Belo Horizonte

13/02/2014 12h53

Depois do comportamento da torcida do Real Garcilaso de cunho racista contra o volante Tinga durante a vitória sobre o Cruzeiro, por 2 a 1, na quarta-feira, a Conmebol prometeu analisar o caso e estudar punições ao clube peruano. De acordo com o regulamento da Libertadores, a equipe poderá até ser eliminada do torneio.

O artigo 12, que trata de discriminação e comportamento similares, em seu segundo parágrafo, estipula multa de ao menos US$ 3 mil ao clube ou associação que um membro ou os torcedores realizem qualquer tipo de discriminação, seja por raça, etnia, idioma ou religião.

No entanto, o caso poderá ser avaliado por um órgão disciplinar competente que pode impor sanções mais severas ao clube, como jogar com portões fechados, a proibição de atuar em determinado estádio, a perda de pontos da partida e até mesmo a desclassificação da competição.

A diretoria do Cruzeiro prometeu tomar providência e entrar com uma representação na Conmebol para reclamar sobre o episódio e vários outros problemas que a equipe enfrentou durante a sua estadia no Peru, como as condições precárias do estádio e uma série de artimanhas do rival, como falta de água no jogo e luz durante o treinamento.

A entidade sul-americana, por sua vez, já se manifestou no twitter pedindo calma aos cruzeirenses e dizendo que irá analisar o caso. "Sobre o tema de racismo em Real Garcilaso e Cruzeiro. A Confederação Sul-americana analisará o tema e possíveis sanções pertinentes. Pedimos tranquilidade aos torcedores do Cruzeiro. Sabemos que é repudiante", divulgou a entidade máxima do futebol no continente.

Artigo 12 - Discriminação e comportamentos similares

1 - Qualquer pessoa que insulte ou atente contra a dignidade humana de outra pessoa ou grupo de pessoas, por qualquer meio, por motivos de cor de pele, raça, etnia, idioma, religião ou origem será suspensa por um mínimo de cinco partidas ou por um período de tempo específico

2 - Qualquer associação membro ou clube cujos torcedores realizem os comportamentos descritos no parágrafo anterior será sancionado com uma multa de ao menos US$ 3 mil (R$ 7 mil)

3 - Se as circunstâncias particulares do caso requererem, o órgão disciplinar competente pode impor sanções adicionais à associação membro ou ao clube responsável, como jogar um ou mais jogos de portões fechados, a proibição de jogar uma partida em um estádio determinado, concessão da vitória do encontro pelo resultado que se considere, a perda dos pontos e a desclassificação da competição

4 - Se proíbe qualquer propaganda de ideologia extremista antes, durante e depois da partida. Aos infratores deste caso, se aplicarão as sanções previstas nos parágrafos de 1 a 3 deste mesmo artigo

Peruanos são reincidentes em atos racistas

Não foi a primeira vez que um jogador brasileiro sofreu com insultos racistas em território peruano. Em 2011, durante uma partida entre Brasil e Bolívia pelo Sul-Americano sub-20, uma pequena parte da torcida presente ao estádio 25 de Noviembre, em Moquegua, hostilizou o atacante Diego Maurício.

Depois de entrar no segundo tempo da partida, o jogador da seleção brasileira passou a ser ofendido por torcedores, que imitavam, assim como ocorreu com Tinga, sons de macaco. Depois do jogo, o atacante lamentou o incidente.

“Eu fico triste, mas isso não me afeta em nenhum momento. Independentemente de raça, somos todos seres humanos. Dentro de campo vou sempre mostrar meu trabalho e não dou bola para isso”, disse o jogador na época.

Apesar da evidente discriminação ao atacante brasileiro, os peruanos, torcedores em geral e até autoridades, consideraram normal e mesmo “engraçada” a atitude de parte da torcida de imitar sons de macaco quando Diego Maurício pegava na bola.

Um policial que estava no estádio disse que era apenas um gesto usado pela torcida para “atrapalhar” os jogadores de “pele escura”. Um jornalista peruano afirmou que se tratava de uma tradição no país e uma “brincadeira”, mas recuou envergonhado ao ser questionado se não se tratava de uma discriminação racial.

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) cobrou explicações da Conmebol sobre o comportamento dos torcedores. A iniciativa gerou uma reação da entidade sul-americana, que criou uma campanha para tentar coibir atos racistas durante o Sul-Americano sub-20.

Uma faixa com a frase “Não ao racismo” foi afixada próxima aos torcedores durante os jogos. Além disso, o pedido foi reforçado por alto-falantes dos estádios.