Topo

Time copeiro e zaga forte: como o San Lorenzo pode ameaçar o Corinthians

Guilherme Costa

Do UOL, em São Paulo

04/03/2015 06h00

Segundo adversário do Corinthians na fase de grupos, o San Lorenzo é o atual campeão da Copa Libertadores e não perdeu como mandante na campanha de 2014 (seis vitórias e um empate em sete partidas). Contudo, a equipe argentina não é a mesma do ano passado (nem em nomes, tampouco em características) e não terá nesta quarta-feira (04) o ambiente que a impulsionou outrora (por causa de uma punição da Conmebol, o estádio Nuevo Gasómetro estará vazio). Foram muitas mudanças, mas dois atributos continuam ameaçadores para os brasileiros: o espírito copeiro e a força defensiva.

Assim como o time de 2014, o San Lorenzo atual tem como principal virtude o poder de marcação. Isso tem a ver com o perfil do técnico Edgardo Bauza, dono de dois títulos da Copa Libertadores (o outro foi conquistado com a LDU), entusiasta de equipes competitivas e de setores defensivos compactos.

Outra característica que o San Lorenzo preserva do time campeão de 2014 é o espírito. Foi assim na primeira rodada da fase de grupos da Libertadores, por exemplo: os argentinos perdiam para o Danubio até os 40min do segundo tempo, mas conseguiram uma virada a despeito de não terem dominado o confronto.

Contra o Corinthians, Bauza deve usar um meio-campo com três volantes e dois armadores. Mauro Matos será o único atacante de um time que tentará congestionar o meio-campo e tentar reduzir a velocidade da partida. Veja abaixo uma análise sobre o San Lorenzo:

O técnico é experiente e não costuma montar equipes ofensivas
A experiência de Edgardo Bauza, 57, é um dos trunfos do San Lorenzo na Copa Libertadores. O treinador está em sua sexta participação no torneio e já conquistou a taça duas vezes (2008, com a LDU, e 2014, com o próprio San Lorenzo).

Na Argentina, Bauza é visto como um técnico pragmático, que condiciona sua equipe às características de cada rival. Além disso, é um profissional muito valorizado pela capacidade de montar defesas e pelo retrospecto em partidas eliminatórias.

"Não é casualidade que ele tenha vencido a Libertadores com LDU e San Lorenzo, dois times que jamais haviam sido campeões", opinou Elias Perugino, secretário de redação da revista "El Gráfico". "Ele prioriza a ordem tática e a segurança defensiva, mas tem recebido muitos questionamentos na Argentina pela pouca ousadia na hora de atacar. Ser treinador de uma grande equipe pressupõe para os torcedores a ideia de protagonismo em todos os campos, e o San Lorenzo nem sempre consegue ter esse controle", completou Santiago Lucia, jornalista da "Radio Nacional".

O time sofreu para vencer na estreia, mas tem poder de reação
Jogando fora de casa, o San Lorenzo não suportou a pressão inicial do Danubio e tomou o primeiro gol aos 10min da etapa inicial, quando Castro dominou dentro da área e teve liberdade para bater colocado. A equipe argentina até reagiu, mas não conseguiu controlar as ações e esteve em desvantagem no placar até o fim do confronto. Matos empatou aos 40min do segundo tempo, e Cetto virou aos 42min.

A irregularidade do San Lorenzo no jogo passou diretamente pelas atuações ruins de Mercier e Mussis, meio-campistas que são os principais responsáveis pela saída de bola. "A estrutura coletiva sentiu as imprecisões deles, já que foi impossível ter a posse por muito tempo ou finalizar ataques mais verticais", disse Santiago Lucia.

Contudo, ainda que tenha tido problemas individuais e sofrido para chegar à virada, o San Lorenzo mostrou na estreia de 2015 o mesmo poder de reação que marcou a campanha vitoriosa na temporada anterior da Libertadores.

"O San Lorenzo começou perdendo nesse jogo contra o Danubio e em outros do Campeonato Argentino, mas geralmente tem capacidade de reação e consegue empatar ou ganhar. No sábado (27) o time perdeu para o San Martín de San Juan, mas criou pelo menos dez situações de gol e não mereceu perder", lembrou Elias Perugino.

San Lorenzo não terá torcida, nem um de seus principais jogadores
A Conmebol decidiu punir o San Lorenzo com uma multa de US$ 100 mil e um jogo com portões fechados por causa de rojões lançados por torcedores na segunda partida da decisão da Libertadores de 2014, contra o Nacional (Paraguai). A pena será cumprida contra o Corinthians, e os argentinos não terão apoio nas arquibancadas do estádio Nuevo Gasómetro, onde eles acumularam seis vitórias e um empate na temporada passada.

"Jogar sem torcida contra significará uma evidente vantagem para o Corinthians", avaliou Santiago Lucia. "A torcida do San Lorenzo empurra a equipe durante os 90 minutos e funciona como um fator de pressão favorável em todas as partidas. A equipe vai estranhar", completou.

O San Lorenzo também não terá contra o Corinthians um de seus principais jogadores. O meio-campista Néstor Ortigoza, que ao lado de Mercier e Romagnoli é um dos maiores referenciais técnicos da equipe, tem sofrido com um problema crônico no tendão de Aquiles da perna direita e já foi descartado.

Sem Ortigoza, Mussis seguirá como titular no meio-campo. O volante foi contratado do Genoa e tem sido o maior destaque entre os reforços do San Lorenzo para a temporada 2015, mas não tem o mesmo potencial criativo do titular.

Três volantes: o Corinthians jogará contra um meio-campo congestionado
O San Lorenzo deve ter contra o Corinthians apenas uma novidade em relação ao time que perdeu por 2 a 1 para o San Martín no fim de semana, em jogo válido pelo Campeonato Argentino: Edgardo Bauza tem treinado com o volante Quignon no lugar do meia Pablo Barrientos.

Se mantiver essa formação, o San Lorenzo terá um meio-campo com três marcadores (Mercier pelo meio, com Quignon pela esquerda e Mussis pela direita) e dois meias (Leandro Romagnoli e Sebastián Blanco). Os laterais Buffarini e Emanuel Más são importantes no ataque, mas também ajudarão a marcar os armadores laterais do Corinthians.

Com um meio-campo congestionado e muita marcação na intermediária, a prioridade do San Lorenzo é somar pontos. "Não podemos entrar desligados. Na quarta-feira (04) nós jogaremos meia classificação. Não podemos perder como mandantes", confirmou Mussis ao canal de TV "TyC Sports".

O San Lorenzo não é o mesmo time que conquistou a Copa Libertadores de 2014
"A equipe que ganhou a Copa Libertadores não existe mais". A análise definitiva foi feita há alguns dias pelo próprio Edgardo Bauza, e o técnico não se referia apenas aos jogadores que saíram do San Lorenzo desde o primeiro semestre de 2014. Com muitas mudanças, o time argentino passou a ter também um novo ritmo de atuação.

As baixas mais sentidas são Ignacio Piatti e Angel Correa, jogadores que eram responsáveis pela velocidade ofensiva do San Lorenzo. Na reformulação, o time argentino contratou atletas com perfil diferente e bem menos agilidade. É o caso do zagueiro colombiano Mario Yepes, 39, que chegou à equipe no segundo semestre do ano passado.

Yepes hoje é reserva da zaga formada por Cetto e Caruzzo. Entretanto, o San Lorenzo tem outros titulares bem experientes, como o volante Mercier (35 anos), o meia Romagnoli (33 anos) e o centroavante Mauro Matos (32 anos).

Ao contrário do time campeão de 2014, o San Lorenzo usa pouco a velocidade. É um time mais cadenciado, que aproveita mais o jogo aéreo e as bolas longas para Matos.