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Erros dentro e fora de campo deixam Tite no centro de eliminação corintiana

Dassler Marques

Do UOL, em São Paulo

14/05/2015 06h00

Tite teve a preparação dos sonhos de qualquer treinador para encarar as oitavas de final, mas pouco conseguiu aproveitar. Eliminado da Copa Libertadores com duas derrotas para o Guaraní-PAR, a última delas por 1 a 0 na noite de quarta-feira, o Corinthians se despediu da competição de maneira prematura e, acima de qualquer coisa, quase incontestável. 

Querido por torcida, jogadores e diretoria em função de sua conduta e de suas conquistas, Tite teve participação importante em quase tudo que deu errado nas últimas semanas. A começar pela forma como o Corinthians encarou a pausa de duas semanas para se preparar de olho no Guaraní. Poucas alternativas foram trabalhadas para alterar o rumo de uma equipe que vinha em queda livre. O período longo e incomum de treinamentos foi usado para recuperação física e correções. 

No momento em que o jogo corintiano não saiu mais, a falta de alternativas ficou evidente. Treinador do Guaraní, Fernando Jubero estudou o time brasileiro e percebeu que o melhor caminho era deixar a saída de bola com Ralf, Gil e Felipe. Com os demais jogadores marcados, e muito bem marcados por um sistema 5-4-1, o Corinthians teve criação baixa ou nula nos 180 minutos com o time paraguaio. Quando Tite de fato tentou algo novo, com Elias como primeiro volante no segundo tempo da quarta-feira, as expulsões de Fábio Santos e Jadson arruinaram os planos. 

A ausência de Emerson Sheik nos dois jogos também evidenciou como Tite preparou mal os substitutos que tinham sido importantes na campanha de quarto colocado no último Brasileiro. No Paraguai, Luciano foi o pior em campo com sobras. Em Itaquera, Malcom foi escalado à esquerda, onde está pouco habituado a jogar. Pouco pegou na bola e acabou sacado no intervalo. Até pegar o Guaraní, ambos não tinham atuado mais de 10 minutos em nenhum jogo importante de 2015. 

Em sua entrevista depois da eliminação, Tite admitiu que o fato de ter escalado dois times diferentes ao longo do Campeonato Paulista trouxe efeitos negativos na formação de uma equipe com mais alternativas para a Libertadores. Um exemplo é a incompatibilidade entre Guerrero e Vagner Love, principal reforço de 2015 e fora até no banco na decisão. Até hoje, o treinador não conseguiu encontrar uma forma de jogar que encaixe os dois atacantes.

Internamente, o ponto que provavelmente traga mais críticas a Tite é Emerson Sheik, que não jogou as oitavas de final em virtude de suspensão. Na volta ao Corinthians, do qual havia sido praticamente dispensado em 2014, o atacante repete com o treinador o roteiro de outros tempos com a mescla de grandes partidas e períodos longos de inatividade, seja por problemas físicos ou cartões. Na hora H, quando o time mais precisou, ele não estava presente. 

Virtude tradicional dos times de Tite, a disciplina deu lugar a um time que muitas vezes não termina com 11. Essa foi marca do Corinthians do começo ao final da campanha de seis cartões vermelhos em dez jogos - se levada em conta toda a temporada, o número de quem foi mais cedo para o chuveiro vai a oito. Antes de pegar o Guaraní, o treinador reuniu jogadores e cobrou melhor conduta, o que não aconteceu. Os corintianos foram eliminados com expulsões de Fábio Santos por entrada dura e Jadson por excesso de violência. 

Bastante abatido, Tite negou até a possibilidade de traçar paralelos com 2011, quando o Corinthians arrancou para o título brasileiro depois de ser eliminado pela Copa Libertadores. Mas, consigo mesmo, o treinador sabe que só um título nacional poderá fazer com que essa não seja uma temporada perdida para o clube.